A Maldição da Lenda - Uma Fumacinha Azulada e a ENGETEC na Jogada







CAPÍTULO DOZE
Uma Fumacinha Azulada e a ENGETEC na Jogada

Apesar do sol quente da tarde bem ventilada, Alberto trajava uma jaqueta jeans sob a qual portava o coldre subaxilar. Com um bloco de anotações e uma prancheta, saiu com Falcão para olharem a caixa. Despreocupadamente, sem chamar a atenção de ninguém em especial, dirigiram-se à barragem. Quando avistaram o maquinário da ENGETEC, Falcão foi surpreendido por um empurrão e um grito de Alberto, que se atirou ao solo, enquanto uma pequena nuvem de fumaça se elevava de alguns arbustos a certa distância. Alberto sacou o revólver e fez fogo em direção ao local, secundado por Falcão que notara a fumaça se dissipando, mas ainda denunciava o esconderijo do franco-atirador. Afastaram-se um para cada lado e correram em direção ao local, na certeza de que fosse lá quem fosse, não poderia ser um suicida para querer lutar contra dois policiais em campo aberto, ainda mais desejando ocultar a própria identidade. No local, perceberam claramente as marcas de pés descalços no solo, em direção ao rio. Seguiram-nas por alguns metros e perceberam que desapareciam dentro d?água, o que os deixou um tanto aborrecidos. No espírito de Alberto, nasceu uma suspeita de que o mistério só podia estar dentro da caixa. Foram ao acampamento e decidiram que já era tempo de acabar com o segredo e contaram que acabavam de ser vítimas de assassinato. Requisitaram o pessoal disponível para dar uma busca nos arredores, mas foram contestados por Boni que disse haver recebido determinação do dono da empresa de se manterem distantes de complicações pelo bom nome da firma. Compreensivo, Alberto dispensou a ajuda e para não quebrar a estrutura do plano, informou o motivo da visita, mostrando a prancheta e o bloco de anotações, prometendo voltar mais tarde. Pediu para ver se faltava algum funcionário e ao constatar que estavam todos presentes, conferiram as medidas dos pés, verificando que nenhum deles tinha as calças molhadas. À primeira vista, estavam fora de suspeitas. Pediu para ficarem de olhos abertos e comunicarem se aparecesse alguém suspeito, especialmente se estivesse armado. Com precisão cronométrica, correram para a cidade e Alberto mandou que o soldado Jerônimo ficasse de plantão na farmácia, mas se ocultasse ao máximo para não levantar suspeitas. Foram à Prefeitura e, na Tesouraria, contaram ao farmacêutico o que acabara de acontecer. No gabinete do prefeito, estava o Dr. Charles com o relatório da pesquisa. Comunicaram o fato e convidaram-no a conduzi-los ao rio para vistoriar os compartimentos da caixa, com a respectiva planta para se orientarem no interior. Na caixa, apesar de procurarem entradas falsas nos compartimentos, nada encontraram e ficaram sabendo que cada uma das chapas, cada porta, cada válvula, cada filtro foram colocados sob a orientação pessoal do Dr. Charles, fazendo Alberto concluir que ou aquele homem estava correndo um risco muito grande em assu-mir toda aquela responsabilidade ou então o projeto realmente era de uma seriedade incontestável e ele estava no caminho errado.
Decepcionado com o rumo que as coisas estavam tomando, foram à prefeitura eapanharam Agnelo. Na delegacia pegaram o sargento Argolo, os dois cabos e os soldados disponíveis, deixando três de plantão, passaram na farmácia e foram à casa de Alberto, onde ele pegou o quadro de São Jorge, retirou o microfone e informou que a guerra estava declarada contra os assassinos, fazendo os militares vibrarem com a decisão. Retornaram à delegacia e vasculharam os locais possíveis e impossíveis. A seguir, fizeram uma rápida reunião para traçar diretrizes. À tarde foram ao local da emboscada e vasculharam a área sem no entanto encontrarem nada, a não ser as pegadas que levavam ao rio, apesar de procurarem acima e abaixo, em ambas as margens.
Naquela noite, Alberto não conseguiu ir para casa. Na sua intuição, algo de muito grave estava para acontecer e precisava ficar atento. Ou o assassino era um louco varrido ou então ele estava muito perto da verdade para ser atacado ao lado de um policial em plena luz do dia. Por outro lado, o camarada não parecia ser nem um pouco maluco, pois mesmo tendo frustrada a tentativa, conseguiu desaparecer pelo leito do rio sem uma pista sequer. Começou a rememorar os acontecimentos e se levantou num ímpeto, sem perceber que Falcão estava grudado nos seus calcanhares. Na verdade, era o único que conhecia mais detalhes daquela intrincada história. A tarde fora tão agitada que Alberto não tivera tempo de contar mais nada, a não ser os dois balaços no abacateiro e o microfone no quadro de São Jorge, além do próprio atentado que sofreram juntos. Agradeceu ao santo lhes haver salvo as vidas e só na rua foi que percebeu a presença do soldado. Agradeceu o apoio com um tapinha no ombro e disse:
_ Obrigado, Falcão! Sua presença é muito importante, pois dez minutos depois que assumi a delegacia, recebi um telefonema do Pato, dizendo que se eu não ficasse quieto, a farmácia do meu pai seria queimada, e nem sei onde ele está. Vamos passar na farmácia pra ver se está tudo bem e depois, pra casa. Ela está no seguro, e o que me importa é a vida do meu pai. Hoje ainda, se não formos interrompidos, vou lhe contar o que sei, porque se alguma coisa me acontecer, vocês podem começar as investigações de onde eu parar. Com qual dos seus colegas, você mais se afina?
_ Da vez que o banco foi assaltado, há cinco anos, quem mais se destacou foi o Rui. O cara parecia que enxergava no escuro. Eles eram cinco e o Rui sozinho prendeu dois, eu prendi um, o Jorge prendeu os outros dois com o cabo Magalhães. Quando a gente se encontrou, ele tinha algemado o braço de um na perna do outro e cadê fugir naquela situação? Apesar da preocupação, Alberto riu da criatividade do soldado e decidiu:
_ Quando chegar em casa, vou telefonar pra o sargento colocar turnos de guarda na farmácia e se reunir conosco lá em casa com os cabos e o Rui. Por enquanto, vamos dar descanso aos outros, mas que fiquem de sobreaviso pra o caso da coisa esquentar.



Autor: Raul Santos


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