A Maldição da Lenda - Luz Acesa Fora de Hora e o PATO Ataca Novamente







CAPÍTULO CATORZE
Luz Acesa Fora de Hora e
o PATO Ataca Novamente

Despertou às duas, com a chegada do pessoal. Eles tinham procurado pelo baixo meretrício, onde os vagabundos costumavam freqüentar até altas horas e não tinham a menor idéia de onde poderia ter-se metido. Concluiu que nada havia a fazer e ligou para a farmácia, casa do prefeito e a sua. Alertou que dobrassem a atenção, porque era a partir daquele instante o momento mais propício para qualquer ação. O sargento saiu com um cabo e dois soldados para uma ronda e Alberto foi com eles. Encontraram uns poucos transeuntes reconhecidamente noctívagos que não representavam ameaça aparente, mas como o Zé de Ticha era considerado inofensivo, acharam por bem anotar os nomes, para futuras referências. O soldado de plantão na farmácia alertava da gasolina. Àquela hora não devia mais existir vestígio, porém não deixava de ser um ótimo argumento. A casa do prefeito estava calma. Na de Alberto, uns gatos namoravam nos telhados, fazendo uma algazarra infernal. Vez por outra, um cachorro latia, defendendo os supostos domínios do dono, deixando-os seguir adiante, sem molestá-los. No re-torno, de passagem pela praça, notaram que havia luz em uma das janelas da prefeitura, que foi apagada imediatamente. Correram para verificar as portas, e encontraram um calmo vigia rondando na base do prédio e nada havia percebido no interior. Alberto perguntou se tinha as chaves de entrada e ele negou, informando que a prefeitura era aberta de manhã, pelo pessoal da limpeza.
Deixaram os dois soldados, voltaram à delegacia e telefonarem para o pré-feito a fim de comunicar a invasão. O mandatário, apesar do sono, denotou visível preocupação, pois não devia haver ninguém além do vigia e prontificou-se a sair. Diante da situação de expor o chefe do executivo, decidiram que o que estivesse procurando, já devia ter encontrado e, devia estar querendo eliminar intrusos dos seus planos maquiavélicos. Pegaram a chave e por volta das três e trinta, foram para a delegacia. Alberto compartilhou as desconfianças quanto aos tiros que eliminaram o Euclides e o Fulgêncio terem partido da prefeitura, justificando a asserção com o argumento de que tanto um quanto o outro se encontravam em lugares diversos, mas em posições que davam ótimas linhas de tiro, do prédio, e o assassino poderia estar em uma das janelas, ou mesmo colocar uma bomba. Traçaram planos quanto ao local em que poderia estar, a hora para detonar e a suposta vítima, com o objetivo de evitarem surpresas desagradáveis. Concluíram que seria estupidez armar uma bomba para explodir na madrugada, sem uma vítima em potencial, portanto o correto seria programá-la para explodir a partir das oito horas, momento do pessoal começar a chegar, inclusive o prefeito, que apenas o serviço extra impedia de chegar no início do expediente.
Decidiram investigar o que estaria alguém fazendo na prefeitura, àquela hora. Os soldados e o vigia rondavam até onde podiam, pois alguns muros impediam o circuito. Informaram não ter percebido nenhum movimento. Apesar disso, pela certeza que tinham de haverem visto a luz acesa, quiseram verificar, antes que o dia amanhecesse, para evitar o caso de ser uma bomba e a prefeitura ir pelos ares. Afastaram-se para se certificarem da janela, e ficaram surpresos porque era a Tesouraria. Irritado pela impotência de não poder desvendar o mistério, medo de alguém ser morto e a responsabilidade da missão assumida fizeram o rapaz tomar a chave e caminhar em passos quase suicidas para o interior, mas foi advertido pelo sargento Argolo que tivesse cuidado. Obediente e disciplinado, refreou o passo e começou a observar os cantos das salas, depois de terem distribuído o pessoal, de forma que ninguém ficava desguarnecido. Se houvesse alguém, indubitavelmente, seria obrigado a denunciar seu esconderijo, certos de que o invasor não poderia ter ficado na sala e ter ido para outra. Por mais que procurassem, quando os primeiros raios solares surgiam no horizonte, foram obrigados a reconhecer que todas as dependências estavam na mais perfeita ordem, sem suspeitos, sem bombas ou ao menos um simples microfone, pois foi um dos objetos da atenção do delegado, ao recordar o que encontrara em sua casa.
De volta à delegacia, não se haviam passado muitos minutos, ouviu-se o telefone, que Alberto atendeu e empalideceu. Os companheiros notaram que sua fisionomia passou da surpresa para a raiva incontida, até que no auge da irritação, soltou um terrível brado em forma de palavrão, desligou e bradou:
_ Eu vou pegar esse cara! Eu vou matar esse cara! Quando eu botar as mãos nesse cara, ele vai se arrepender de ter nascido! O filho da puta não teve vergonha de ligar a esta hora da manhã, pra gozar com a minha cara. Ligou só pra perguntar se eu tinha prendido alguém na noite que passei andando pela rua, com cara de besta. Eu mato aquele filho de uma puta! Eu mato! Eu mato! ? Repetia, impotente, dando com o punho fechado sobre a mesa, como se nela se vingasse dos desagravos sofridos no telefonema.
Percebendo que ele se acalmava, o sargento perguntou quem tinha telefonado e ficou lívido, por sua vez, ao ouvir a lacônica resposta:
_ O Pato!...
Sem articular palavra, olhavam para ele que permanecia cabisbaixo. Como crianças que aguardam ordens do pai, não atinavam que o mais novo deles tinha quase o dobro da idade daquele jovem que mostrava ter uma maturidade acima do comum. Além do mais, era a primeira vez que tinham contato quase direto com o misterioso personagem e naturalmente, pelo que tinha feito com os outros delegados, não deixavam de ter uma certa parcela de receio por estarem lidando com o desconhecido, o que fazia com que o respeito pelo jovem aumentasse consideravelmente. Eles o tinham visto desafiar pessoalmente, sem imaginar que poderia ser uma gravação, o que não implicava que ele não estivesse ouvindo o retorno da comunicação. O sargento percebeu que o choque fora muito violento para o rapaz e fez sinal para os soldados se sentarem, até que ele reassumisse o controle dos nervos, o que levou uns cinco minutos.
Voltando a si, praticou alguns respiratórios e passou a falar:
_ Desculpem! Acho que me excedi um pouco, mas prometo que no desenrolar deste caso, não vai acontecer outra vez. Sinto muito, mas é que fui apanhado desprevenido!
Com tais palavras, os policiais deram mostras de maior admiração por ele.




Autor: Raul Santos


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