A Maldição da Lenda - O Contra-Ataque, e a Caça Vira Caçador







CAPÍTULO QUINZE
O Contra-Ataque, e a Caça Vira Caçador

Alberto não deu muita importância aos sentimentos de admiração que provocara. Calma e decididamente levantou, pegou o catálogo telefônico, selecionou um número, tirou o fone do gancho e discou com calma e firme determinação estampada no rosto. Aguardou algum tempo sem demonstrar pressa alguma até ser atendido. Ouviu a voz sonolenta do outro lado da linha e começou o discurso:
_ Eu sou Alberto, você deve saber muito bem. Este o momento de acertarmos as contas. A partir de agora, você será responsabilizado. Só não vou aí, lhe dar voz de prisão porque não tenho a menor prova que lhe possa incriminar, mas é a melhor coisa que pode me acontecer, porque o jogo virou. Agora, eu deixo de ser a caça e passo a ser o caçador, enquanto você que se julgava o caçador invencível, passa a ser a caça. A partir de agora, você pode fazer o que quiser, que estou nos seus calcanhares. Pode agir à vontade, que não vou fazer nada pra lhe pegar. Aliás, só estou telefonando, porque não quero mais nem uma gota de sangue derramada, nem do lado de lá, nem do lado de cá. Se você quer saber, você fez duas grandes besteiras e eu estava lá, enquanto você escorregava pro fundo da fossa, e tá todo lambuzado de merda. Agora, nem toda a água do mundo vai conseguir lavar essa sujeira que você se enfiou. Vou lhe dar algumas alternativas, pra você escolher a melhor delas. Ficar quietinho pra ganhar bombom, mandar me apagar enquanto é tempo, como fez com o Euclides, esconder embaixo da saia de sua mãe, me processar por falsa acusação ou fugir do país, batendo o calcanhar na bunda. Qualquer uma que você escolher, pra mim tá muito bom, pois vou estar esperando e é uma deixa pra apertar mais ainda o nó na sua garganta nojenta, até ela estourar. De agora em diante, só vou colher provas para pedir o Mandado de Prisão e ter o prazer de lhe enfiar atrás das grades, seu grande filho da puta, assassino, traidor. Só pra você sentir de perto o arrocho que vou lhe meter, vou passar o fone pra o sargento Argolo, que ainda não sabe quem é você, e você pode fazer o que quiser, que para mim não será novidade. Ou desliga sem se identificar, confessando sua culpa ou se identifica, dizendo a ele que vai me processar, o que não deixa de ser também uma confissão, ou se declarar inocente pelo tempo que quiser, até que eu reuna as provas. A decisão é toda sua. Mais uma coisinha só, se você quiser, ainda pode aplicar injeção numa laranja e fazer um suco. A hora é propícia, pois foi bem numa hora desta que o pobre Epaminondas viajou. Ah! Não adianta querer tirar o seu Afonso de circulação, pois ele está bem guarnecido e o primeiro safado que se aproximar dele só vai ser o intermediário para nós lhe pegarmos mais depressa. Só não vou lhe dar o mesmo tratamento porque, por incrível que pareça, não perdi o respeito pelo que eu achava ser um grande homem, amigo do meu pai. Que amigo!... Um assassino vulgar!... Seu silêncio pra mim é mais do que uma confissão, mas não vale como prova no tribunal, pois nem os policiais que viraram a noite e estão ouvindo, sabem com quem estou falando, mas não vou dizer, pra não tirar deles o prazer da descoberta. Eu só estou curioso qual vai ser a sua atitude quando o sargento pegar o fone. Quero dar a eles o prazer de descobrirem através do próprio raciocínio quem foi que andou assombrando a cidade por mais de um ano. ? Depois do discurso, entregou o fone para o sargento e completou: Por favor, sargento, vê se o senhor consegue arrancar alguma coisa desse moço, pois até agora ele só tem feito fungar no telefone. Ou está muito gripado, ou com muita raiva, ou muito medo.!..
O sargento colocou o fone no ouvido, escutou um pouco e desligou.
_ O homem passou todo esse tempo, como você disse, fungando no telefone e desligou sem dizer uma só palavra. Será isso realmente uma confissão?
_ Por isso, não falei o nome dele. Os advogados chamam de barro na parede. Se for culpado, pode tomar a mais diversa das atitudes, inclusive processar-me ou querer me tirar de circulação, só pra se vingar, mas vou deixar um escrito, no caso de me acontecer alguma coisa. Se for inocente, o máximo que poderá fazer será contar ao meu pai e ao seu Afonso o que fiz, mas sei que eles me tiram do bolo. Basta a noite que passaram, pra sentir que qualquer recurso é válido pra encerrar uma carreira de crimes. Bem, agora vou em casa tomar um banho, fazer a barba e tomar um gostoso café feito pela dona Zefa. Durante o dia, vamos poupar o pessoal e deixá-los dormir o tempo que quiserem, pra de noite pegar no batente. Vamos escoltar meu pai e o seu Afonso pra evitar surpresas desagradáveis e recomendar que não saiam sozinhos. Pacíficos como são, não vão nem pensar em contrariar nossas recomendações. Enquanto isso, aproveitamos pra tirar um cochilo. Por favor, recomende aos soldados pra não ficarem sozinhos.





Autor: Raul Santos


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