A Maldição da Lenda - Manobras Bem Coordenadas Previnem Surpresas







CAPÍTULO DEZESSEIS
Manobras Bem Coordenadas Previnem Surpresas

Ligou para a farmácia e constatou que a madrugada fora calma e que os soldados se encontravam bem dispostos. Ordenou, que um ficasse de plantão e os outros darem uma busca, pelas pegadas e pelas marcas de sangue. Ligou para a casa do prefeito e Maristela atendeu, com voz ansiosa, de quem quase não conciliara o sono. Sorriu, ao recordar o que dissera aos policiais a seu respeito. Suavizou a voz e perguntou como fora a madrugada, como o pai havia se comportado e pediu para falar com um dos policiais. Quando ouviu a voz masculina, perguntou como fora a noite e constatou que também estavam descansados. Orientou que deixassem um de plantão e os outros irem em busca do Zé de Ticha, só dando a missão por cumprida depois que o encontrassem. Orientou Maristela a não facilitar em momento algum durante o dia. Sabendo que era filha do prefeito e namorada do delegado, frustrados como estavam, se vingariam no ponto mais frágil, que era ela própria. Desligou ao tomar conhecimento de que o prefeito ainda se encontrava deitado e discou o número da sua casa, sendo atendido por Agnelo que quase não pregara o olho durante a noite. Recomendou que não andasse sozinho durante o dia para não dar facilidades aos criminosos. Pediu para falar com um dos policiais e verificou que também estavam descansados. Ordenou que deixassem um de plantão e os outros fossem à Reserva Indígena, em busca de algum descendente direto do cacique Jutorib, o que traz a alegria, para esclarecer o grande segredo deixado com a filha.
Entregou a delegacia ao sargento e saiu no fusca com um dos soldados. Determinou que usassem o chevete em apoio à procura do Zé de Ticha. No momento, ele era a peça mais importante do quebra-cabeça. Se fosse da quadrilha, seria a ponta do fio da meada. Marcou para as nove horas, depois que tivessem descansado por umas duas horas. Encontrou o prefeito de pé e barbeado. Recusou o café, argumentando que ia tomar banho e sua passagem era só para ver se ele havia lembrado quem falara sobre a injeção na laranja. Como o garoto apanhado em falta, o mandatário enrubesceu e informou que apesar dos esforços, não conseguia se recordar de nada. Para facilitar a retrospectiva, o rapaz pediu para buscar na memória não a pessoa, mas o local e as circunstâncias em que se encontravam no momento da confidência. Supervisionou a segurança, deu-se por satisfeito e foi se cuidar, após receber a terna recomendação da namorada para ter muito cuidado. Emocionado, beijou-a, ternamente.
Agnelo estava saindo com o soldado. Alberto entregou a chave do fusca e ordenou que o levasse à prefeitura, mas só parasse se fosse para um policial e retornasse, enquanto ele se banhava e barbeava. Quando o soldado chegou, pediu para olhar o veículo a fim de evitar sabotagem e foi para a cama, de onde saiu com menos de duas horas, como se houvesse dormido a noite inteira. Fez as ligações e encontrou tudo calmo. Deixou um vigia e saiu com o acompanhante. O sargento, os cabos e dez soldados estavam a postos. Procurou saber das diligências e o sargento relatou que deixara o gol com os que estavam a procura do Zé de Ticha. Ele parecia ter desaparecido do mapa. Ninguém conseguia dar notícia da sua existência. Conduzira os que faziam averiguações na Reserva e os da casa velha quase não estavam conseguindo seguir a pista, pois as marcas eram quase nada. Estavam bastante empenhados na busca. Um deles era o Jerônimo que descobrira a sabotagem e fora vítima dos disparos do bandido.
Aborrecido com os resultados, mas satisfeito com o andamento das investigações, convidou o sargento e dois soldados a darem um giro pela cidade. Trafegaram ao longo do muro lateral da Prefeitura e dobraram a primeira esquina. Pararam em frente a uma casa e tocaram a campainha. A doméstica informou que o Dr. Silvano passara a noite jogando canastra e estava com muita dor de cabeça. O rapaz disse que era assunto da polícia e necessitava falar-lhe com a máxima urgência. A moça entrou e instantes depois as cortinas davam passagem ao proprietário que mostrava realmente estar com aparência de poucos amigos. Alberto desculpou-se e começou a narrar o que conseguira descobrir nos poucos dias de gestão. Omitiu naturalmente os entendimentos com o governador e encerrou informando que julgava estar a sua vida em perigo e pretendia deixar os dois soldados de segurança. Advertiu que os seus passos deveriam ser acompanhados até que o perigo passasse. O Dr. Silvano ouviu e declarou, laconicamente:
_ Faça como quiser, delegado!...
Agradeceu por os haver recebido e se retiraram. Ao lado do carro, deu instruções detalhadas, deixando claro que enquanto não tivessem a quadrilha desbaratada, qualquer pessoa, inclusive seu pai, deveria ser considerada suspeita. Os membros da quadrilha eram pessoas que circulavam pelas ruas de Serra Dourada, e qualquer facilidade poderia custar uma vida. Acentuou, severamente, que se ocorresse qualquer deslize, por menor que fosse, por negligência, ele dispensaria todo o empenho no sentido de responsabilizar o culpado e levaria às conseqüências finais. Determinou que não se afastassem um do outro, nem para ir ao banheiro, e reforçou o argumento, dizendo:
_ Se um for ao banheiro, o outro monta guarda na porta. Por favor, sejam vigilantes ao extremo! Posso confiar, ou existe dúvida?...
Os soldados assentiram e ele acrescentou:
_ Nós estamos em fase complementar de investigações e os criminosos são capazes de qualquer coisa, quando são descobertos. Vocês sabem muito bem o que eles já fizeram, e eu não quero que façam o mesmo com nenhum de nós. Quero apanhar todos eles, sem perdas para nós. Praticamente, já sei quem é o chefe... Como não tenho provas, posso estar enganado... Mais uma vez, repito: não confiem em ninguém!... O chefe pode ser meu pai ou meu sogro, que é o prefeito, ou qualquer outra pessoa!...
Encerrou o pequeno discurso e convidou o sargento a irem à Reserva, averiguar o que os soldados tinham conseguido. Estavam conduzindo o índio Moacir, não sem uma certa relutância. Ele fora informado que era para prestar declarações relativas ao segredo do cacique, e se obstinava em não falar. Sabia que não era prisioneiro, mas tinha uma tradição a resguardar. Se os antepassados o haviam feito, ele não podia fugir à regra.
Na delegacia conversaram tentando convencê-lo da necessidade de colaborar na solução dos assassinatos. O índio entendeu que dependendo da sua participação, a história poderia ser modificada. Fora amigo dos homens, mas tinha a responsabilidade de zelar pelo segredo. Chegaram à conclusão de que a revelação só poderia ser feita pelo conselho dos anciões. Marcaram para mais tarde e para ganhar tempo, foram designados um cabo e um soldado para o acompanharem e trazerem a confirmação da hora da reunião.
Quando ficaram a sós, Alberto perguntou:
_ Sargento, hoje eu tomei uma atitude movido pela raiva. Depois, refleti que talvez tenha sido precipitada, mas não me censuro. Muito pelo contrário, continuo achando que foi correta. Eu telefonei para a única pessoa capaz de cometer dois deslizes tão grandes a ponto de denunciá-la como chefe dessa organização criminosa. Quer dizer, eu não tenho a menor dúvida de que ele é realmente o chefe da quadrilha. Acontece, porém, que me faltam dados para fazer uma acusação formal. O que desejo saber do senhor é se devo revelar o nome desse homem ou se devo buscar mais provas para irmos lá e dar voz de prisão?!...
_ À primeira vista, seria dizer o nome dele. Haja vista que, perigoso como é, sabendo que estou a par do que vem acontecendo, a qualquer momento que cruzar comigo, saberá quem sou eu e eu não saberei quem ele é... Por outro lado, se você fez uma acusação direta como a que ouvi, é porque tem motivos mais do que suficientes, e qualquer nome que disser vai parecer do culpado, desde que apresente um argumento aceitável. Como você disse, o bom mesmo é nós termos o prazer de descobrir pelos nossos próprios recursos. Puxando a brasa pra minha sardinha, me deu vontade de bancar o detetive. Quem sabe, não vou ligar os fatos e chegar à mesma conclusão?... Ele deve ter ficado uma fera e a qualquer momento vai querer pegar você de jeito. Particularmente, acho que foi uma temeridade, mas acho que ele depois daquilo não vai conseguir dar mais nem um passo sem pensar que você está nos calcanhares dele... E agora, o que vai fazer?
_ Agora, vamos intimar o Dr. Charles Burnier pra depor... O que me emboscou, desapareceu nas instalações da responsabilidade dele. Não entendo esse tipo de coisas, e por isso vou precisar da orientação do senhor!...
_ Muito bem!... Então, mãos à obra pois temos a audiência com os índios!... Não acha bom falar com o agente da FUNAI?...
_ Vamos bancar os inocentes e deixar os assuntos internos entre eles!...
_ Legalmente, não concordo, mas se você acha...
_ Sargento, acredito que aqui embaixo de nós passa um rico filão de ouro, que é a causa de tudo isso... Serra Dourada e Córrego do Ouro... Coincidência ou foi alguma descoberta que não sabemos?... O Dr. Charles vai nos dizer de onde vem, onde trabalhava, o que faz em Serra Dourada e etc... Só não podemos aborrecer a fera e arrumar as perguntas, de forma que ele solte o leite. Temos de criar perguntas que tragam respostas com nomes de outras personalidades como o seu Afonso, o Dr. Silvano e muitos outros que devem ter muita coisa interessante a nos dizer e que nem eles mesmos sabem que são importantes para as investigações. Considerando que seja verdade, o que devemos fazer? Espalhar a notícia antes que seja comprovada ou deixar que os entendidos cuidem dessa responsabilidade?... Nós nem sabemos o segredo dos índios, e querendo ou não, temos de desenterrar. Será que o agente da FUNAI é um homem íntegro, ou tem a sêde do ouro?... Será que não é ele o chefe, ou um dos membros da quadrilha?... No momento, quem não tem inocência comprovada, é suspeito... Concorda?
_ Concordo!... Vamos agir?...
_ Só se for agora!...






Autor: Raul Santos


Artigos Relacionados


A Maldição Da Lenda - Segredo Mas Nem Tanto, E A Morte De Um Ser Humano

A Maldição Da Lenda - Vitória & Derrota

A Maldição Da Lenda - Luzes No Final Do Túnel, Mas, E Os Índios?...

A Maldição Da Lenda - O Índio Delator Apareceu, Mas É Hora De Almoço E Os Anjos Dizem Amém

A Maldição Da Lenda - Luz Acesa Fora De Hora E O Pato Ataca Novamente

A Maldição Da Lenda - Dr. Charles Duvida, Mas Colabora, Porém Fica Intrigado

A Maldição Da Lenda - Meu Deus, Não Quero Ser Assassino!...