A Maldição da Lenda - Luzes no Final do Túnel, Mas, e os Índios?...







CAPÍTULO VINTE E SETE
Luzes no Final do Túnel, Mas, e os Índios?...

Confortavelmente instalado num casarão de estilo antigo, Boni foi despertado, quando o relógio marcava uma e trinta. Levantou-se e perguntou:
_ Quem é?!...
_ É a polícia!...
Abriu a porta e recebeu a intimação de comparecer à delegacia. Tentou argumentar, mas foi advertido de que era judicial e não discutiu. Convidou os policiais a entrarem, enquanto vestia uma roupa mais adequada, e voltou logo após.
Alberto perguntou se ele sabia o que ocorria nas instalações, e respondeu que a não ser a tentativa sofrida por ele e o Falcão, desconhecia qualquer outra coisa. Informado de que o seu pessoal estava envolvido com a quadrilha, mostrou-se vivamente surpreso e declarou não saber nem o motivo de tais crimes. Sem bases que o pudessem reter, o juiz determinou que fosse posto em liberdade e advertiu que não saísse da cidade. A qualquer momento poderia ser convidado a depor. Ciente da advertência, prontificou-se e foi levado de volta pelos soldados que o tinham ido buscar.
Enquanto Boni era intimado, Alberto, o juiz e o promotor interrogaram o outro prisioneiro que se manteve num silêncio absoluto, apesar dos esforços. A qualificação só foi possível através dos documentos que portava na internação.
Por volta das três horas, encerraram os trabalhos e dirigiram-se aos lares, na quase certeza de que o perigo era bem menor. Pelo visto, os mais perigosos estavam fora de ação, mas mesmo assim não deixaram os forenses sem escolta.
Em casa, mal havia trancado a porta, Alberto viu Agnelo sair do quarto com visível mostra de não ter ainda conciliado o sono, e perguntou, sem rodeios:
_ Como foi lá, filho? Se saiu bem?...
_ O rapazinho soltou a língua e colhemos umas coisas! Ouvimos o seu Boni, que parece estar atolado até o pescoço. Só não entendo como quis demonstrar que desconhece os movimentos da quadrilha... Ou ele e o Dr. Charles são como os chifrudos que são os últimos a saber, ou então, por baixo desse angu ainda tem muita carne pra ser mastigada. Certo é que saiu mais puro do que o santo mais puro. O durão não disse nem uma palavra, mas os depoimentos dos soldados são suficientes para o manterem na cadeia por um bom tempo. Agora, é bom a gente tirar um cochilo. Amanhã, temos muito o que fazer. Não vá passar a noite em claro outra vez, pra ficar lendo o jornal de cabeça pra baixo, tá?... ? Concluiu, lembrando da noite em que começara as confidências para o pai. Ainda não se passara uma semana, mas pareciam haver-se passado séculos.
Cochilou o suficiente para repousar o sistema nervoso e acordou sobressaltado com um pensamento: Quem descobriu o poço, se apenas os índios o conheciam e guardavam debaixo de sete chaves?... Saltou da cama com um pensamento fixo: Desvendar o mistério do poço!... Sorriu ao lembrar de que prometera a si mesmo pensar no assunto quando estivesse com a guitarra. Interessante!... Não fora necessário estar tocando para deduzir... Claro!... A única pessoa a descobrir o poço seria a que segundo voz miúda, embriagara o índio, que nem sabia se era verdade. Só havia uma forma de tirar a dúvida, pedir uma nova reunião do carbeto. Só que desta vez ele era Boitatá, o grande guerreiro branco que tem os olhos da grande serpente de fogo, que voa como o raio de Tupã... Emocionado pela lembrança da honraria, correu ao banheiro a fim de se preparar. Não tinha um só instante a perder. Conferiu o relógio e viu que os índios deviam estar de pé. Ligou para a delegacia e pediu que dois soldados fossem pedir audiência em nome de Boitatá. Se ele determinara, algum motivo havia e obedeceram prontamente...
Saiu do banheiro e defrontou-se com Agnelo à porta, saudando-o jovialmente:
_ Bom dia, filho, parece que deu formiga na cama?!...
_ Papai, o caso é sério! Ontem tive uma audiência com os índios e disseram uma coisa que o senhor nem vai acreditar. Eles contaram o segredo do cacique e falaram que ele privou longamente com extraterrestres que vieram buscar combustível para as naves!...
_ Peraí, filho, você está querendo me dizer que aqui em Serra Dourada, quando ainda era selva, já veio um disco voador?!...
_ Errado!... Já veio, não, já vieram muitos discos voadores buscar urânio e o totem, considerado lugar sagrado, não é nada mais, nada menos do que a tampa de um enorme poço de onde eles tiravam o combustível e levavam para seus planetas. Mas rolou um papo que alguém embriagou um índio e conseguiu o segredo. A princípio, não quis dar muito credito, achando a possibilidade muito inverossímil, mas agora vejo que a única explicação só pode ser esta. Além do mais, o carinha que o senhor viu entregou o ouro, quer dizer, entregou o urânio. Como os índios assistiram a prisão do atirador que está no hospital, generosamente me cognominaram de Boitatá, o grande guerreiro branco que tem os olhos da grande serpente de fogo, que voa como o raio de Tupã, tomei a liberdade de solicitar mais uma audiência com o conselho e pedir que investiguem quem foi o delator embriagado e quem embriagou!...
_ Filho, o que foi que você andou aprontando?...
_ Só dei um tirinho na cara do cara. O que tem demais no meio tanta violência?... ? Deu um sorriso cínico e um piscar de olhos, que não escondiam a grande verdade.
_ Você não deu só um tirinho na cara do cara. Se eu bem conheço o modo de pensar dos índios, você deve ter feito algo de maravilhosamente grande pra receber tal honraria, ainda mais do conselho dos anciões. Filho, o que foi que você andou fazendo?...
_ Ah, papai, esquece!... É que eles são generosos. Mas, se o senhor faz questão de saber, está convidado a ir ao carbeto comigo daqui a pouco. Aceita?
_ Você acha que vou perder uma oportunidade destas? Meu filho homenageado por um conselho de anciões, a maior honraria da tradição indígena? É demais pra mim! É mais do que ser homenageado pelo presidente ou pelo papa!...
_ Ora, papai, não exagera, né?!... Vamo nessa?!...
_ Vamo nessa!... Só um minutinho!... É vapt-vupt!...
_Papai, só uma coisinha de acerto, quando a gente chegar lá, o senhor fica no carro que vou pedir autorização, pra não entornar o caldo, tá?...
_ Só isso? Espero um século, se for preciso!...
_ ...?ntão, tá!... Vamo lá?...
_ Vamo lá!...
* * * * *
Deixou o pai e o segurança no carro e caminhou com o passo firme e decidido de quem sabe o que tem a fazer. Os macróbios estavam sentados em círculo e mantinham um espaço vago reservado para ele, que falou, antes de sentar:
_ Boitatá feliz de poder retornar ao convívio amigo, onde foi tão bem recebido!...
O cacique ergueu a fronte e retrucou:
_ Boitatá grande guerreiro!... Boitatá sempre bem vindo à nossa Reserva!...
_ Boitatá agradecido, solicita que seu pai seja recebido no conselho. Se Boitatá é amigo mas seu pai é mantido à distância, o coração de Boitatá sofre!...
_ Boitatá grande guerreiro e bom filho. Bem vindo pai de Boitatá, irmão que não usa língua da serpente. Que seja feita vontade de Boitatá!
Alberto voltou, feliz como uma criança. Com um sorriso nos lábios, comunicou ao pai a decisão e o conduziu ao carbeto, ambos com os corações repletos de felicidade.
Encontraram um espaço maior que o anterior, naturalmente reservado para os dois. Aguardaram um instante, até que o cacique ergueu a cabeça e disse:
_ Bem vindo homem branco a quem Tupã glorificou, dando por filho um guerreiro tão nobre!... Boitatá membro honorário do nosso carbeto. Pai de Boitatá será lembrado como homem amado por tão grande guerreiro!...
Emocionado com a recepção, Agnelo pôde apenas dizer:
_ Obrigado! Os senhores são muito generosos!...
Alberto convidou o pai a se sentar e deu início à maranduba:
_ Boitatá solicitou permissão para revelar o segredo do grande cacique Jutorib, o que traz a alegria, somente em casos de extrema necessidade, ou seja, levar os criminosos ao tribunal. Mas conseguimos provas de que estão contrabandeando urânio para o Rio de Janeiro. Tenho um Mandado que me permite vasculhar esta área, para investigar tudo que se refira a esses assassinatos. Se estão usando uma entrada falsa, quando eu entrar lá, não estarei violando o nosso trato. Mas se estão removendo o totem, então violaram antes de mim. De qualquer forma, só entrarei com o conhecimento dos irmãos, pois jamais deixarei de ser Boitatá, ainda mais que acolheram meu pai com tanto carinho. Além disso, há outro fato muito mais grave, e é o que vim pedir aos irmãos para desvendarem. Há tempos, ouvi falar que alguém tentou embriagar um índio para descobrir o segredo do cacique Jutorib, o que traz a alegria, mas nunca mais ouvi nada a respeito. Quando o primeiro atirador desapareceu, desconfiei de que além da caixa no fundo do rio, havia mais alguma outra entrada, que já havia comentado com o governador. Esta noite, fizemos dois prisioneiros e um confessou que retiram e contrabandeiam urânio para o Rio de Janeiro. O motivo da minha vinda é pedir aos ir-mãos que tentem descobrir se é verdade que o segredo foi violado. Saber quem revelou é um problema dos irmãos que certamente vão querer punir o traidor. Mas para nós, quem interessa é o que embriagou. Se não foi o chefe, deve estar ligado a ele, e o caso estará resolvido!
O cacique percebeu a gravidade e abandonou também o tom solene.
_ Vamos deixar a cerimônia para outras ocasiões. O assunto exige rapidez e temos de agir. ? Consultou os moacaras que fizeram um gesto de assentimento.
Alberto levantou-se e fez questão de apertar as mãos de um por um, no que foi imitado por Agnelo e rumaram para o carro, onde os policiais aguardavam.
De volta à casa, perguntou:
_ Alguém já tomou café?
_ Não!... ? Foi a resposta, em uníssono.
_Estão fazendo regime, pra ficarem esbeltos?...
_ Também não!...
_ Vamos comer, ora!... Ninguém é de ferro e saco vazio não pára em pé!...




Autor: Raul Santos


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