A Maldição da Lenda - Sem a Peça-Chave, Nada Feito... e o Sargento Precisa Voltar







CAPÍTULO TRINTA E SEIS
Sem a Peça-Chave, Nada Feito...
e o Sargento Precisa Voltar

Quando se afastavam da castanheira, Alberto disse:
_ A primeira etapa está cumprida. Agora vamos ver como funciona o carregamento do minério e depois o caminhão carregado. Depois, o que vier. Quero lembrar que a partir do meio-dia, teremos um almoço na casa do prefeito, que não será necessariamente de confraternização, e acho até que será meio tumultuado. Muitas coisas serão ditas e vão machucar os calos de algumas pessoas. Mas seja o que Deus quiser. Ah! Dr. Carlos, vou precisar também do depoimento do senhor. Quero saber como os caminhões da empresa foram usados por tanto tempo no contrabando, sem o senhor estar envolvido.
_ Ótimo! O meu depoimento e o relatório do sargento vão ajudar a desmascarar um trambiqueiro safado que era meu funcionário e saiu pra criar sua própria empresa. Como ele parecia ter um certo interesse pela minha filha, procurei ajudar no que pude. Quando o sargento chegou com o número da placa, o nome que apareceu foi o da empresa dele, alugando meus caminhões pra carregar madeira e, dentro dela, o contrabando de urânio. Já temos uma queixa na polícia do Rio e outra na Polícia Federal. Qualquer coisa, é só o juiz soltar o Mandado e a gente providencia o resto.
_E, quem é esse cara, Dr. Carlos?...
_ È o Roberto... Ele com o Bonnelli e o Boni, gozava da minha inteira confiança... Alias, nunca fiz distinção com meus funcionários... Apesar das dores de cabeça, acredito mais no trabalhar comigo do que no trabalhar pra mim... Se dou uma ordem pra um funcionário, ele cumpre, porque o chefe mandou, mas se peço por favor, ele cumpre com prazer, porque foi tratado com o respeito devido a um ser humano... Entendeu?
_ Eu sou da mesma opinião!... Mas o que eu quis perguntar, foi, Como foi que esse cara, no Rio de Janeiro, descobriu esta serraria, aqui, em Serra Dourada, e o urânio?...
_ Antes do Boni, ele foi o encarregado da instalação deste canteiro!...
_ O quêêêê?... Mas isto é muito importante!... Temos de ir imediatamente ao fórum conversar com o Dr. Gil! Esse homem é o que precisamos pra formar o quebra-cabeça!... Ele é o ponto chave de tudo!... Meu Deus!... É bem capaz de ter sido ele a embriagar o índio!... Temos de providenciar imediatamente o Mandado!... O sargento vai fundar o chão daqui pro Rio!... Daqui a pouco, ele vai voltar pra prender ele, com a ajuda das polícias de lá!... ? E o rapaz falava com uma euforia tão contagiante que os circunstantes se sentiam envolvidos pelo clima por ele criado, quando Sandrinha, que se mantinha ligada, perguntou curiosa:
_O que quer dizer com embriagar o índio, delegado?
_ É como a senhorita ouviu!... Os descendentes do cacique Jutorib mantiveram o segredo como se fosse a coisa mais importante das suas vidas!... Como pudemos ver, o túnel que foi colocado na casinha da bomba é uma entrada falsa para o buraco cavado pelos ET´s. Quer dizer, se o totem foi colocado pra cobrir a entrada, os índios guardaram segredo por todos esses séculos e os contrabandistas fizeram a entrada falsa, isto quer dizer que eles tinham conhecimento exato da localização do poço. Corre por aqui um boato que alguém tentou embriagar um índio pra se apossar do segredo, mas ninguém acreditou, pois não houve mais comentário. Agora que as coisas tomaram esse rumo, não é difícil acreditar que es-se Roberto subornou o indígena, que pode ter esquecido a traição, após a bebedeira. É uma pista que não podemos desprezar.
_ Mas, por que, necessariamente, o Roberto seria o responsável pela embriaguez do índio, se tantas outras pessoas poderiam tê-lo tentado?
_ Exatamente! Muitas outras pessoas poderiam ter tentado, mas não tentaram. Sabe por que? Porque desde a batalha que há um código de honra entre os habitantes de Serra Dourada, como uma espécie de pedido de desculpas. Daí, se não foi ninguém daqui, só pode ter sido de fora. E quem de fora se envolveu o bastante pra se enterrar até o pescoço? Só esse tal de Roberto que veio pra Serra Dourada, instalou o canteiro de obras em contato com os índios, dependendo sempre de uma opinião deles, principalmente na demarcação dos limites entre o canteiro e a Reserva, que não podia ser invadida, sob pena de se ver com a FUNAI. No desenrolar dos acontecimentos, ele participa de um piquenique e fica sabendo que é em homenagem aos índios tombados no dia fatídico e, na seqüência, o segredo. Dono de todas as possibilidades, numa das idas ao Rio, leva amostras do solo e comprova a radioatividade. Na volta, aproxima-se mais ainda dos indios até descobrir o que lhe interessa, ou seja, o língua-solta que dá a localização do poço dos ET?s. Chama o topógrafo e pede um levantamento rigoroso entre a casinha e o totem, que lhe permite cavar com toda a segurança, na certeza de que vai sair no poço, bem debaixo do totem. Como um patife nunca está só, foi o bastante bater o dedo por um trocado a mais e não faltou quem cavasse o que fosse, a hora que fosse, sem fazer perguntas. Horas extras da ENGETEC?... Não sei! Conectada a entrada falsa com o poço, nada mais havia a fazer, a não ser retirar o material e contrabandear pra o Rio de Janeiro!...
_ Até aí, tudo bem. Mas como foi que ele conseguiu verba pra aquela parafernália que está lá embaixo? Aquilo é uma verdadeira fortuna!...
_ Não é difícil explicar. Conforme o senhor falou, ele não demorou aqui, e voltou pra o Rio. Conhecendo o Claudino, como conheço, não deve ter sido difícil convencê-lo a colaborar no superfaturamento do material aplicado na caixa, apesar do rigoroso controle do Dr. Charles. Só que ele não controlava as Notas Fiscais que não chegavam às suas mãos e ele não tinha obrigação de saber de notas que ele nem imaginava existir. Ontem à noite, seu Afonso, Dr. Charles e meu pai se empenharam até altas horas no levantamento, mas não será fácil localizar os furos. Se o senhor quiser dar uma mãozinha pra eles, acho que ficarão agradecidos. ? Concluiu com um piscar maroto.
Mesmo percebendo o ar de troça, muito compenetrado das suas responsabilidades e aborrecido com as falcatruas, o engenheiro disse:
_ É!... Quem sabe eu não vou dar uma olhadinha naquilo?...
Após o comentário do engenheiro, Alberto voltou à carga:
_ Ele se estabeleceu e passou a receber os carregamentos do minério, e não precisava mais do dinheiro da Prefeitura, pois a venda manteria as despesas!...
_ Parabéns, delegado, seu raciocínio é perfeito e incontestável. Agora consigo entender a causa do respeito que o sargento tem pelo senhor!...
Alberto não ligou para o elogio, e prosseguiu:
_ É uma pena que isto não passe de meras suposições, sem uma única prova. A que podemos usar à vontade, é o caminhão. Através dele, podemos buscar o tal Roberto. Ele vai explicar como é que um caminhão alugado é utilizado pra contrabandear minério de outro estado, ainda mais de uma cidade onde ele chefiou serviços de terraplanagem!...
_ Mas há um ponto que precisa ser levado em consideração, e eu não tenho ovido nenhuma referência pelo menos por enquanto. É quanto ao assassinato dos delegados. O que o senhor me diz, delegado?
_ Assassinato de delegados? O que quer dizer com isso, papai?...
_ É, filha! Na semana passada o Boni me contou que foram assassinados três delegados e quatro pediram afastamento, aqui, em Serra Dourada!...
_ Como é que o senhor não me falou nada, papai?
_ É que eu disse ao Boni pra não se meter nos assuntos que não se referissem à empresa, e do meu lado, também procurei esquecer!...
_ Bom modo de se manter afastado! Três passagens de avião, cinco horas de carro, hotel, e o que mais vier! Imagine se estivesse enterrado até o pescoço, hein? Tá bom!
Alberto entrou na conversa e disse:
_ Não se recriminem. O Euclides era meu amigo. Eu percebi, à tarde, que ele estava nervoso e à noite foi assassinado. Quando falei com meu pai, ele disse pra eu ficar calado, e agora, vejam!... Ontem à noite, quando cheguei, ele estava mergulhado num oceano de papéis, que só se via a ponta do nariz. É tudo igual!... Vamos à luta? Há muito trabalho à espera, e eu não quero chegar atrasado pro rango, que é falta de educação!...
Riram e entraram nos carros, rumo à delegacia.
* * * * *
Mesmo tendo acordado às seis e chegado à delegacia às sete, o sargento surpreendeu-se com o movimento que para ele era inusitado. Pelo menos metade do contingente estava a postos, preocupados com a ausência do delegado. Conhecedor da causa, procurou tranqüilizar o pessoal, informando que Alberto deveria estar no hotel com o engenheiro e narrou superficialmente a aventura do dia anterior e quis saber a causa de tamanho rebu. Quando lhe contaram o que haviam descoberto desde a sua viagem, largou um palavrão que faria corar um monge e disse:
_ Aquele delegado pensa que pode me enganar? Ele armou essa tramóia só pra me afastar e perder essas festa, mas ele vai ver. Nem que o mundo vá abaixo, ele não vai me afastar pra mais nada. Eu quero estar perto na queda do poderoso chefão. Ele vai ver!...
Não tinha fechado a boca e dois carros frearam à porta com a comitiva formada pelo delegado, o engenheiro e as duas mulheres que arrancaram olhares de aprovação dos policiais. Após os cumprimentos, Alberto disse:
_ Sargento, creio que o senhor ou vai ser morador do Rio de Janeiro ou dono de uma agência de turismo. Daqui a pouco, teremos outra missão que não poderá ser cumprida por outra pessoa, a não ser o senhor!...
O militar olhou de soslaio para o rapaz e perguntou:
_ O que quer dizer com morador no Rio de Janeiro?
_ Há uma suspeita muito forte de que o Roberto seja o elo de ligação. Foi ele quem instalou o canteiro da ENGETEC e pediu as contas pra montar firma própria. Alugou os caminhões da ENGETEC pra transportar madeira. Uma parte era usada nas escoras e o restante pra camuflar o urânio. Só o uso dos caminhões já é suficiente pra averiguações, quanto mais com esse monte de suspeitas. Como o senhor conhece a fera e sabe onde ela se esconde, não tem ninguém melhor pra ir buscar!...
Meio decepcionado, porém satisfeito em participar, o sargento perguntou:
_ Quando é que viajo?...
_ Logo que o Dr. Gil assinar o Mandado. Enquanto o Roberto não chegar, muitas perguntas ficarão sem resposta e nós ilhados nas investigações.
_ Está bem, vou arrumar a mala!...
Ouviu alguém pigarrear e risinhos safados às costas. Adivinhando a causa, disse:
_ Está bem!... Ele venceu!... Não se pode ganhar sempre!...
_ O que quer dizer, sargento?... ? Perguntou Alberto, curioso.
_ Ora, você venceu, não está vendo? Eu acabei de dizer que você armou uma tramóia pra me afastar e resolver o caso sozinho, e que não ia conseguir novamente, nem que o mundo fosse abaixo. Nem fechei a boca, e você entra com essa conversa, e aí estão eles me gozando. O que acha? Você venceu e eu perdi. O que posso fazer?...
Percebendo o clima que involuntariamente houvera criado, Alberto desatou numa risada tão expontânea que não demoraram muitos segundos e todos riam a bom rir. Para demonstrarem a grande amizade que os unia, espalmaram as mãos e as chocaram à altura dos ombros, cruzando os polegares, num aperto solidário, dando a entender que tudo o que fora dito não havia um mínimo de ressentimento e era pura brincadeira.




Autor: Raul Santos


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