A mercadoria força de trabalho



O trabalho na sociedade atual é uma mercadoria e como qualquer outra mercadoria pode ser comprado e vendido.Essa é uma característica típica do capitalismo , forma de organização social presente em todos os cantos do mundo contemporâneo
Antes de discutirmos mais de perto essa questão devemos lembrar que nas formações sociais pré-capitalistas o trabalho não era considerado mercadoria, isto é, nas organizações sociais imediatamente anteriores ao capitalismo o trabalho não poderia ser comprado ou vendido . Nessas formações precedentes o trabalho artesanal tinha extraordinária importância na produção de mercadorias. Lembramos que nesse tipo de trabalho todo o processo de produção passa pelas mãos do artesão, ou seja, desde os primeiros movimentos que dão forma ao objeto até o acabamento, sendo assim, o mesmo deve conhecer todas as etapas da produção de uma determinada mercadoria.
É importante percebermos que depois de todo esse processo mencionado o produto final pertence ao seu produtor, em outras palavras, o objeto desenvolvido pelo artesão lhe pertence, pois foi construído por ele, é produto do seu trabalho, portanto, sua habilidade, sua inteligência, seu trabalho, não é uma mercadoria, entretanto, no capitalismo essa equação se invertera. Vejamos a seguir
O capitalismo começa ganhar contornos quando por várias ocasiões há uma concentração de riquezas nas mãos de alguns indivíduos que procuram ampliar cada vez mais suas fortunas, passando assim, a pressionar o aumento da produtividade do trabalho do artesão (para comercializar mais mercadorias) até chegar ao ponto de promover por diversas vias a separação do trabalho dos meios de produção. O que isso quer dizer?Quer dizer que essa separação impossibilita o antigo artesão de produzir mercadorias ou produzi-las de forma rentável e competitiva.
No início esses indivíduos enriquecidos começaram a fornecer a matéria prima para acelerar e ampliar a produção do artesão, depois aos poucos passou a concentrar esses trabalhadores em alguns locais, por fim, separou-os completamente dos meios de produção (os meios de produção são as ferramentas, os utensílios necessários a produção de mercadorias).
A revolução Industrial consolidou esse processo, pois com o uso das máquinas e o cercamento das terras comunais um número enorme de pessoas ficaram sem ter com o que e onde trabalhar, haja vista, que as máquinas e tudo que era necessário para produzir mercadorias de maneira competitiva eram acessíveis somente aos indivíduos ricos
Aos trabalhadores que foram separados dos meios de produção só resta vender uma mercadoria - já que não produz mais nada ou a mercadoria que pode produzir não lhe é mais vantajoso pela falta de capacidade para concorrer ? Essa mercadoria é sua força de trabalho, seus músculos, sua habilidade, sua inteligência, em outras palavras, toda sua capacidade. Em linhas gerais, portanto, é dessa forma que a força de trabalho ou como também é chamada a mão de obra se torna mercadoria.
A partir desse momento resta ao trabalhador apenas vender sua mercadoria força de trabalho para os donos das indústrias em troca de salário. Isso quer dizer que o trabalhador que foi separado dos meios de produção se aproxima novamente deles através das mesmas pessoas que o afastaram, entretanto, essa nova união ocorre sobre uma nova lógica, lógica esta que unifica por meio do salário o trabalhador e os meios de produção, mas, no entanto, faz permanecer separado do trabalhador o produto do seu trabalho, ou seja, o que o trabalhador produziu não lhe pertence, o produto do seu trabalho é de quem paga o seu salário, de quem comprou sua mercadoria força de trabalho.
Dessa forma configura-se uma relação de compra e venda da força de trabalho, pois o trabalhador vende sua única mercadoria e o capitalista compra essa mercadoria ao pagar o salário. Por trás dessa relação de igualdade encontramos objeções. Será que o salário é justo mesmo quando o trabalhador é bem remunerado?Será que a força de trabalho não gera mais valor do que é pago em forma de salário?
A resposta da primeira pergunta é não, ou seja, não existe salário justo sobre esse olhar, haja vista, que a habilidade, a inteligência, em suma, toda capacidade do trabalhador é posta em ação não para beneficiar a si próprio, mas a outrem, por isso, a remuneração do seu trabalho é inferior ao valor criado, pois do seu esforço sai o seu salário e lucro do detentor dos meios de produção, o capitalista
Já quanto à segunda pergunta a resposta é sim, pelo fato, da mercadoria força de trabalho não ser uma simples mercadoria, pois ao contrário das demais mercadorias quando empregada gera valor e não apenas se desgasta. Quando utilizada transforma os objetos, cria e recria produtos enquanto as demais mercadorias se deterioram.

Referências:
Costa, Cristina. Sociologia, introdução a ciência da sociedade. Editora Moderna. 2 Ed.São Paulo.1997.
Marx, Karl. Formações econômicas pré-capitalistas. Paz e Terra. 6 Ed.São Paulo.1991.
________.O capital, volume I. Nova Cultural. 3. Ed.São Paulo,1988.
Tomazi, Nelson Dacio. Iniciação a sociologia. Atual Editora. São Paulo. 1993
Autor: Wellington Oliveira Santos


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