POR UMA EDUCAÇÃO EMANCIPADORA



"NINGUÉM É TAO PEQUENO QUE NAO POSSA ENSINAR, E NEM TAO GRANDE QUE NAO POSSA APRENDER"
CORA CORALINA

Há séculos a escola perpetua um processo de aprendizagem, onde o professor atua como transmissor de conhecimento, num ensino massificado e estandardizado. Nesta metodologia o professor é o dono do saber que transmite seus conhecimentos e comanda o processo de aprendizagem restando aos alunos apenas o papel de sujeito passivo, que reproduz o conteúdo assimilado. Esse tipo de educação, denominada tradicional, por facilitar a sugestão, e, assim a sujeição, dificulta uma postura crítica e o desenvolvimento da autonomia. Contrário a esta concepção, surgem propostas educativas que visam conscientizar, libertar e emancipar o homem, como as propostas educativas de Jacotot, promulgada por Rancieri no seu livro: O MESTRE IGNORANTE: cinco lições sobre emancipação social, e as de Paulo Freire.
Jacotot em 1818 ao se deparar com uma situação inusitada: ensinar língua francesa a alunos holandeses que ignoravam o francês assim como ele ignorava o holandês, usou como estratégia uma revista bilíngüe Télémaque, e foi surpreendido pelo sucesso dos alunos na execução das atividades. Tal descoberta revolucionou suas concepções, pois percebeu que não há necessidade das explicações para haver aprendizagem. Ao contrário, a palavra do mestre emudece a matéria dada, pois condiciona o aprendiz à explicação.
Para Jacotot, quando o mestre transmite seus conhecimentos adaptando as capacidades intelectuais dos alunos e verificando se o aluno entendeu, (princípio da explicação) o que acontece é o embrutecimento, ou seja, uma inteligência foi subordinada a outra inteligência. Houve ensino, mas sem emancipação.
Em contradição ao princípio do embrutecimento, ele propõe o método emancipador: pode-se ensinar qualquer coisa mesmo sendo ignorante no assunto, mas é preciso emancipar o aluno, ou seja, força-lo a usar sua própria inteligência. O Mestre emancipador deve ser um ignorante, pois ao ensinar aquilo que ignora, encaminhará o aluno a utilizar a sua própria inteligência. Mas, para emancipar o aluno faz-se necessário que o mestre seja emancipado. De acordo com Jacotot somos capazes de aprender sozinho usando apenas nossa própria inteligência, basta apenas à vontade e a tensão do próprio desejo. Para ele, quando há a conscientização da capacidade intelectual e se decide utilizá-la, a emancipação ocorre.
O que Jacotot chamou de embrutecimento, podemos no Brasil, relacionar à educação bancária que Freire criticou e desvelou como sendo uma educação domesticadora, que prega o conformismo, que treina o educando para o desempenho de suas destrezas. Neste tipo de educação o professor é um ser superior que ensina a ignorantes, o dono da verdade dotado de um saber que deve "depositar" no aluno, que se tornam recipientes passivos do depósito do educador. Contrariando a esta concepção, a educação libertadora percebe a ação educativa como um processo dialético, fruto de uma práxis, onde professor e alunos conscientizam-se de sua realidade histórica e num processo crítico de construção e reconstrução da mesma, atuam nela com criticidade.
A educação em Freire torna-se um instrumento essencial no processo de transformação da sociedade por ser possível através dela politizar o indivíduo, permitindo-lhe apropriar-se da realidade, inserir-se nela, tornar-se sujeito de sua própria história e atuar consciente no mundo. A educação envolve um processo de desvelamento da realidade que de acordo com Freire evidencia uma de suas tarefas essenciais que é a conscientização, ou seja, é o processo educativo que permite um vislumbrar de uma proposta de mudança social através da decodificação do mundo e da inserção nele.
Ao contrário de Jacotot que preconiza uma educação mais individual, Freire dava uma dimensão histórica e social ao processo de aprendizagem: "Ninguém educa ninguém, ninguém educa a si mesmo, os homens se educam entre si mediatizados pelo mundo". As duas posturas, no entanto, ressaltam a importância do papel do educador, para que se extingue o modelo tradicional de ensino onde prevalece a hierarquia, a autoridade e a superioridade do educador.
Nesta perspectiva, a EAD tem a possibilidade de contribuir para uma nova postura do educador, que supere este modelo tradicional até então vivenciado, visto que a distância física entre professor e aluno permite abrir mão da função do mestre explicador e transmissor de conhecimento, pois o livro, ou os recursos tecnológicos fazem isso por ele, bem como exige do aluno uma postura mais ativa, mais autônoma e mais responsável perante seu processo de aprendizagem.
Quebrando paradigmas, o professor em EAD tem a oportunidade de renunciar seu papel de transmissor de saber e atuar como orientador, um animador de inteligências, um incentivador da aprendizagem e do pensamento. O que implica não dar respostas prontas, mas possibilitar o confronto de idéias; um ir além do achismo, da opinião pessoal; um acompanhar e gerir da aprendizagem do aluno ajudando-o na construção autônoma de sua aprendizagem; atitude possibilitada através de uma postura de mestre emancipador.

Referência Bibliográfica:
FREIRE, Paulo. Educaçao e mudança ? 21 ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1997
____________. Pedagogia da autonomia. 7 ED. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1983
____________. Pedagogia do oprimido. 11 ED. . Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1982.
GADOTTI, Moacir. Paulo Freire: Uma biobibliografia. São Paulo: Cortez, 1996
RANCIÉRI, JACQUES. O mestre ignorante: Cinco lições sobre emancipação intelectual. Tradução de Lílian do Valle.Belo Horizonte: Autêntica, 2002.
MURTA, Claudia. Metodologia EAD / Claudia Murta. - Vitória: Universidade Federal do Espírito Santo, Núcleo de Educação Aberta e à Distância, 2010

SITES:
SHVOONG.COM http://pt.shvoong.com/humanities/philosophy/1766359-mestre-ignorante-cinco-li%C3%A7%C3%B5es-sobre/

Autor: Meninas Sabias


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