A METODOLOGIA DE LACAN



Lacan faz uma crítica à proposta socrática que com sua metodologia diferenciada (maiuêtica) tentava sair da função de mestre, ou seja, sair de uma postura monológica para uma postura dialógica, isso bem retratado no diálogo de Menôn. Para Lacan, por mais que Sócrates tente deixar seu lugar de mestre, ele ainda faz intervenções, o que o mantém nessa posição, mesmo não tendo essa intenção. Conforme pode ser constatado quando o escravo tenta achar a verdade sobre a duplicação da superfície de um quadrado e entra em aporia, porque ele acha que duplicando-se o lado, duplica-se à superfície. O escravo erra porque não tem a noção de número irracional, então Sócrates lhe oferece a raiz quadrada de dois. Devido às suas intervenções, Sócrates não deixa o escravo descobrir o saber por si mesmo, por isso assume um papel de mestre, uma vez que ele ainda seguia um processo de professor-aula.

Analisando o pensamento freudiano, ele parte do princípio que o inconsciente é o lugar do pensamento e se estrutura como a linguagem. Isso significa que o homem nasce pela linguagem. Para ele "nós entramos nesse campo do saber por uma experiência única que consiste em simplesmente se fazer analisar". Portanto, para ele, o mestre é o inconsciente. Lacan oferece então, um outro modelo de ensino e aprendizagem.

Para a execução do trabalho, na ata de fundação de sua escola francesa de psicanálise, Lacan propõe uma metodologia baseada em dois pilares: o passe e os cartéis. O passe é um dispositivo para o reconhecimento da produção de um analista para um determinado discurso e os cartéis surgem como outro dispositivo, cuja proposta de elaboração está sustentada dentro de um pequeno grupo, dentro de uma estrutura que visa se diferenciar da organização dos grupos em torno de um líder, o MAIS UM.

No texto "D´Écolage" (1980), ele propõe os itens que compõe esses cartéis:
Primeiro: quatro se elegem para prosseguir um trabalho que deve ter seu produto. Esclareço: produto próprio de cada um e não coletivo.
Segundo: a conjugação dos quatro efetua-se em torno de um Mais-Um que, mesmo sendo qualquer, deve ser alguém. A seu cargo está velar por todos os efeitos internos da empresa e provocar sua elaboração.
Terceiro: para prevenir o efeito de cola, permuta deve-se fazer, no término fixado de um ano, dois como máximo.
Quarto: nenhum progresso se deve esperar, salvo de colocar em seu aberto, periodicamente, tanto os resultados como as crises de trabalho.
Quinto: o sorteio assegura a renovação regular dos pontos de referência criados a fim de vetorializar o conjunto.
A metodologia do cartel não vem com conteúdo pronto; cria o conteúdo; não tem ninguém ?mandando?, não cabe de modo algum, a idéia de um professor que possa transmitir o saber. O sujeito aprende movido pelo próprio desejo. O que se produz num Cartel não é um saber fabricado, imposto, correspondente/igual ao do escravo, um saber subordinado, mas, sobretudo, um saber cujo emprego é o da linguagem a qual estamos submetidos.

Qual seria a função do mais um no cartel? O mais um, também é um participante do cartel e está presente para sustentar e zelar pelo trabalho dos cartelizantes, incentivando a elaboração de cada um e favorecendo a exposição dos produtos do cartel. Nesse sentido, ele não adota uma postura de professor que vai transmitir o saber, mas de incentivador e colaborador do trabalho do grupo, ou seja, do cartel.

Lacan tentou, e com sua metodologia obriga-nos a ultrapassar a inércia, a servidão dos saberes instituídos. O que nos impede de começar a realizar um trabalho diferente, na nossa Escola? Podemos fazer algo diferente?

A forma como a EAD está organizada nos aponta um caminho. Em cada pólo estamos divididos em pequenos grupos, de no máximo cinco cursistas, somos acompanhados por um tutor presencial e todos se colocam na posição de aprendizes. Essa organização se assemelha ao cartel sugerido por Lacan. O tutor é considerado mais um entre os alunos e tem a função de acompanhar os trabalhos e observar como esse trabalho está acontecendo no grupo. Portanto, cabe ao tutor perceber se cada membro está oferecendo o máximo de si, se cada um leu com antecedência o material sugerido, se está de fato se comprometendo e contribuindo com o trabalho no grupo. Além disso, o tutor é também um incentivador. Cabe a ele provocar nos componentes do grupo a satisfação de querer buscar o saber ainda mais. O material produzido em cada grupo, seja ele individual ou coletivo, é publicado e todos têm acesso. Nesse processo, o principal elemento é a linguagem.



Bibliografia:

http://psicanaliselacaniana.vilabol.uol.com.br/artigos.html

http://www.ebp.org.br/carteis/carteis.html

http://www.ebp.org.br/carteis/pdf_carteis/05_Cristina_Drummond_O_cartel_e_a_Escola.pdf
MURTA, Claudia. Metodologia EAD / Claudia Murta. - Vitória: Universidade Federal do Espírito Santo, Núcleo de Educação Aberta e à Distância, 2010




Autor: Meninas Sabias


Artigos Relacionados


Modalidade Tupiniquim

Paulo Freire E A Autonomia

Maieutica

A Postura Do Mestre Na Metodologia Ead

SÓcrates Na Metodologia Ead

Os Sofistas

Ato Analítico