Carta à (futura) presidente



Edson Silva

Ilma sra Dilma Vana Rousseff

Longe de mim, com o título desta carta/artigo, querer ser mal agouro para sua excelente campanha, visto que, em entrevista ao Jornal da Globo, a senhora transpareceu a dose de superstição típica em quase todos nós brasileiros, ao dizer que dá azar sentar antes na cadeira do cargo ao qual está concorrendo. Na ocasião, a senhora citou, sem dizer nome, o ex-presidente. Quem não se lembra do FHC posando na cadeira de prefeito de São Paulo, a qual seria ocupada por Jânio Quadro? Além de um desejo de realização, esta carta/artigo é agradecimento.

Recentemente, como faço vez ou outra, numa releitura das obras do maior poeta revolucionário brasileiro, Geraldo Vandré (que aliás completará 75 anos em 12 de setembro) deparei com versos de "Cantiga Brava", especificamente com as últimas estrofes que dizem: "... O que sou nunca escondi/ Vantagem nunca contei/ Muita luta já perdi/ Muita esperança gastei/ Até medo já senti/ E não foi pouquinho não/ Mas, fugir, nunca fugi/ Nunca abandonei meu chão" Não houve como não associar à biografia da senhora, que ainda jovem estudante não hesitou em lutar pelo que acredita, pela liberdade de nosso país.

Eu tinha só dois anos em 64 quando houve o Golpe Militar. Entre os anos de 68 e 72, que foram os mais duros da censura e da repressão, eu estava entre os seis e dez anos e nada podia entender da luta que a senhora e outras pessoas de coragem, tais como nossos "Josés" (Dirceu e Genoino) faziam em busca do soberano direito à liberdade. Fui saber um pouquinho mais disso aos 22 anos, em 1984, estudando Jornalismo na Puc-Campinas e dando a contribuição nas passeatas das Diretas Já, fazendo "a luta aqui no chão, de camarote não!"

O sonho da pátria livre, fecundado na sua geração e regado em comunhão com outras, conquistamos com a volta de eleições livres e gerais. Elegemos duas vezes o militante/operário Lula, pessoa carismática com a qual temos certeza que a senhora aprendeu muito e também ensinou, afinal em que se resume viver, senão em eterno aprendizado? Comecei ouvir falar de Lula em 79. Eu, um adolescente de 17 anos, encantado com a capacidade de mobilização do sindicalista metalúrgico das assembléias que lotavam o estádio que tinha o nome de um de meus irmãos mais velho, Euclides.

Era belo ver povo na rua desafiando o governo enfiado de goela abaixo. Hoje, elegemos Lula e devemos eleger a senhora. São situações, graças a Deus, diferentes daquelas, onde, em 70, por exemplo, o grande Chico Buarque teve que fazer a seguinte "Carta ao presidente", música prontamente censurada e que só foi liberada para tocar em rádios ou mesmo nas casas, em 78, depois de ganhar outro nome:"Apesar de Você": "Hoje você é quem manda/ Falou, tá falado/ Não tem discussão/ A minha gente hoje anda/ Falando de lado/ E olhando pro chão, viu/ Você que inventou esse estado/ E inventou de inventar/ Toda a escuridão/ Você que inventou o pecado/ Esqueceu-se de inventar/ O perdão/ Apesar de você/ Amanhã há de ser/Outro dia..."

Obrigado futura e digníssima presidente Dilma por ter ajudado o povo brasileiro ter outros dias. Dias de claridade, liberdade e de oportunidades para a maioria.

Edson Silva, 48 anos, é jornalista, nasceu em Campinas e trabalha como assessor de imprensa em Sumaré

[email protected]

Autor: Edson Terto Da Silva


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