ASPECTOS RELACIONADOS À APLICABILIDADE DO PROCESSO DE ENFERMAGEM
Élbeti Cristian Neris da Silva1.
Laecy Corado Brandão1.
Marilissa Maineri Dobrachinski2.
RESUMO: Este trabalho trata-se de um estudo que teve como objetivo investigar os fatores que dificultam a aplicabilidade do Processo de Enfermagem. O método investigativo teve abordagem qualitativa, não experimental, de amostragem não probabilística, baseada em estudos bibliográficos e de campo, aplicando-se um questionário estruturado a 8 enfermeiros de várias Clínicas e UTIs de um Hospital no Interior da Bahia. Verificou-se que os enfermeiros questionados definem superficialmente ou mesclam o conceito de Processo de Enfermagem e as etapas que o compõe, no que refere-se aos fatores que dificultam Processo de Enfermagem foram citados falta de conhecimento dos profissionais sobre o assunto e escassez de recursos humanos qualificados. Concluiu-se que para ocorrer uma implementação eficaz do Processo faz-se necessário embasamento em conhecimento científico, principalmente nos aspectos referente à necessidade de constante treinamento, estudo e atualização para que possa garantir ao paciente uma assistência de qualidade.
Palavras-Chaves: Processo de Enfermagem; Assistência; Implementação; Paciente; Enfermeiro.
ABSTRACT:
This paper deals with a study that aimed to investigate the factors that hinder the applicability of the Nursing Process. The investigative method was qualitative, not experimental, non-probability sampling, based on studies of publications and field, applying a structured questionnaire to 8 nurses in various clinics and a hospital intensive care unit in the interior of Bahia. It was found that the nurses questioned, defined superficially the concept of The Nursing Process and the steps that compose it, as well as the concerns about factors that hinder the Nursing Process, it was cited lack of professional knowledge on the subject and lack of human resources. It was concluded that in order to occur effective implementation of the procedure it makes it necessary the knowledge in certain scientific areas, particularly in aspects relating to the need for constant training, study and update so that you can ensure patient quality care.
Key words: Nursing process; Assistance; Implementation, Patient; Nurse.
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1 Graduandos em Enfermagem na Faculdade São Francisco de Barreiras ? FASB.
2 Enfermeira, Docente da Faculdade São Francisco de Barreiras ? FASB.
INTRODUÇÃO
O presente estudo trás como tema os aspectos relacionados à aplicabilidade do Processo de Enfermagem, expondo fatores relacionados à assistência de enfermagem.
A maioria das instituições tem sua prática cotidiana guiada por normas e rotinas preestabelecidas. Na tentativa de facilitar a operacionalização do Método, muitas vezes o serviço de enfermagem, inicialmente, faz a opção de trabalhar algumas etapas da Metodologia. Mas esse trabalho sistematizado ainda não está incorporado à prática assistencial, estando mais presente no discurso dos profissionais do que no fazer cotidiano (MENDES; BASTOS, 2003).
Diante do exposto, considera-se como pergunta norteadora: "Quais os fatores que dificultam a aplicabilidade do Processo de Enfermagem em um hospital público do município de Barreiras-Ba?". Acredita-se que muitos são os benefícios descritos pela aplicação da metodologia assistencial. Ela traz implicações positivas para a profissão de enfermagem, para o cliente e para o enfermeiro em particular. No entanto, observa-se que apenas alguns serviços aplicam uma Metodologia mais elaborada na organização da assistência de enfermagem.
Toma-se como hipótese que os enfermeiros quando compreendem que o Processo de Enfermagem é o caminho para a qualidade da assistência, não retardarão em incorporá-lo ao seu cotidiano, favorecendo uma assistência de qualidade na prática diária.
Assim sendo, este estudo tem como o objetivo geral investigar os fatores que dificultam a aplicabilidade do Processo de Enfermagem em um Hospital público do interior da Bahia, a fim de buscar os fatores determinantes para o sucesso da implementação do Processo de Enfermagem.
Dessa forma, tal pesquisa colaborará para a aplicabilidade do Processo de Enfermagem como prática diária. Visto que requer do profissional enfermeiro uma série de conhecimentos que são intrínsecos, sendo necessária uma compreensão dos fundamentos teóricos do Processo de Enfermagem para aplicá-lo de maneira efetiva (GARCIA; NÓBREGA, 2000).
REVISÃO DE LITERATURA
Álfaro-LeFevre (2005, p.17) define o Processo de Enfermagem como: "forma sistemática e dinâmica de prestar os cuidados de enfermagem". Central a todas as condutas promove o cuidado humano, focalizando no resultado e com boa relação custo-benefício. Ele baseia-se na crença de que, quando planejamos e fornecemos o cuidado, devemos considerar os valores próprios, os interesses e os desejos do paciente, família ou comunidade. Já Tannure e Gonçalves (2008, p.18), o define como: "método utilizado para implementar-se na prática profissional, uma teoria de enfermagem".
Wanda Horta (1979) em sua obra afirma que o Processo de Enfermagem distingue-se em seis fases ou passos e coloca que a inter-relação e a igual importância destas fases no Processo podem ser representadas graficamente por um hexágono, cujas faces são vetores bi-orientados, querendo-se assim mostrar também a reiteração eventual de procedimentos. No centro desse hexágono situar-se-ia o indivíduo, a família e a comunidade.
A mesma autora coloca ainda, que a expressão "Processo de Enfermagem" possuiu na época significado diferente do nosso, sendo empregado pela primeira vez em 1961 por Ida Jean Horlando, apresentando componentes como: comportamento do paciente, reação do (a) enfermeiro (a) e ação.
O COFEN (Conselho Federal de Enfermagem) no uso de suas atribuições legais, através da Resolução número 272/2002 determinou que a implementação da SAE (Sistematização da Assistência de Enfermagem) constitui efetiva melhora na qualidade da assistência. Sendo atividade privativa e obrigatória do enfermeiro. (COFEN, 2002).
A Investigação ou Histórico é a primeira fase do Processo de Enfermagem, ou seja, é o primeiro passo para a determinação do estado de saúde do cliente. Consiste na coleta sistemática de dados subjetivos e objetivos com o intento de fazer um julgamento clínico de enfermagem sobre um indivíduo, família ou comunidade. Durante o histórico, a enfermeira avalia a situação global do cliente ao considerar os fatores físicos, psicológicos, emocionais, socioculturais e espirituais que podem afetar o estado de saúde do cliente. Portanto, torna-se imprescindível que as informações coletadas sejam as mais precisas e fidedignas possíveis, para que o perfil de saúde ou de doença do cliente seja estabelecido (ÁLFARO-LEFEVRE, 2005).
Após a coleta de informações relevantes sobre os clientes, as enfermeiras precisam analisar e interpretar os resultados. O Diagnóstico de Enfermagem é o resultado dessa interpretação. Deste modo, elas têm o dever de identificar e planejar o cuidado para os clientes com base nesses diagnósticos. E para tal, o enfermeiro deverá ter capacidade de análise, de julgamento, de síntese e de percepção, ao interpretar dados clínicos (CRAVEN; HIRNLE, 2006).
A terceira etapa do Processo de Enfermagem é constituída pelo Planejamento da Assistência, que consiste nos seguintes passos: estabelecimentos de prioridades para os problemas diagnosticados; fixação de resultados com o cliente, se possível, a fim de corrigir, minimizar ou evitar os problemas; o registro escrito dos diagnósticos de enfermagem, dos resultados esperados e das prescrições de enfermagem de modo organizado. Normalmente, o planejamento inicia-se pela priorização dos diagnósticos de enfermagem que foram estabelecidos, ou seja, o enfermeiro e sua equipe analisam e determinam quais problemas ou necessidades do cliente são urgentes e precisam de atendimento imediato e aqueles cujo atendimento poderá ser a médio ou a longo prazo (CRUZ, 1995).
As Prescrições são realizadas e registradas pelos enfermeiros, objetivando observar o estado de saúde, a fim de diminuir os riscos, resolver ou controlar um problema (diagnóstico de enfermagem), auxiliar as atividades de vida diária e promover a saúde. A Prescrição de Enfermagem é definida como sendo quaisquer cuidados direto que a enfermeira realiza em benefício do cliente. Cruz (1995) ressalta que as prescrições devem incluir a data em que foram redigidas, as ações a serem realizadas (verbo no infinitivo) e quem deve realizá-la, e conter a frase descritiva (o que, como, quando, onde, com que freqüência, por quanto tempo ou quanto) e a assinatura do enfermeiro responsável por sua confecção.
O quinto item que compõe o Processo de Enfermagem é a Implementação. A etapa de implementação do Processo de Enfermagem consiste em diversas atividades: validar o plano de assistência, estabelecendo as prioridades; documentá-lo através do registro das ações; prestar a assistência de enfermagem, executando as prescrições de enfermagem; continuar a coleta de dados para posterior avaliação. Conceituada como ação prescrita e necessária à obtenção dos resultados esperados é definida durante o estágio de planejamento, que envolve também a comunicação do plano de cuidados a todos os participantes do atendimento ao cliente (TANNURE; GONÇALVES, 2008).
A sexta e última etapa que compõe o Processo de Enfermagem é a Avaliação ou Evolução. No momento que a enfermeira redige um plano de assistência, a avaliação inclui os objetivos alcançados e a reformulação de assistência de enfermagem, pode-se concebê-la levando-se em conta a estrutura, o processo e o resultado. A avaliação comumente refere-se a quantificar, graduar e julgar. Na fase da avaliação, as enfermeiras descobrem porque o plano de cuidados foi um sucesso ou um fracasso. Apesar de ser uma fase distinta e separada, a evolução também está em andamento durante todo o Processo de Enfermagem. Rotineiramente, os julgamentos feitos nas fases anteriores resultam na imediata reavaliação, em novo diagnóstico e novo planejamento (MURRAY; ATKINON, 1989).
Quanto aos fatores inerentes à aplicabilidade do Processo de Enfermagem como prática diária notamos que requer do profissional enfermeiro uma série de conhecimentos que são intrínsecos à implementação. E para tal, é necessária uma compreensão dos fundamentos teóricos do Processo de Enfermagem para aplicá-lo de maneira efetiva: interpretação e aplicação do modelo conceitual; humanização na assistência; prevenção de complicações; operacionalização no contexto da prática e a seqüência hierárquica na aplicação das etapas que o compõe (GARCIA; NÓBREGA, 2000).
Existe, por parte dos profissionais inseridos nas instituições de saúde, a crença de que o Processo de Enfermagem é uma "rotina sofisticada" e que executá-lo implica em "afastar-se do paciente". Além disso, existe insegurança dos profissionais para realizar as atividades inerentes ao Processo de Enfermagem, por não dominá-las adequadamente, o que conduz a desvalorização desse Método de organização do cuidar pela própria categoria (CARVALHO et al. 2007).
Sob o ponto de vista de Álfaro-LeFevre (2005), esses elementos são o que os exercentes da enfermagem fazem (ações e intervenções de enfermagem), tendo como base o julgamento sobre fenômenos humanos específicos (diagnóstico de enfermagem), para alcançar os resultados esperados. Os elementos que descrevem a prática da enfermagem são, portanto, constituintes de um processo específico de trabalho, o qual demanda, de habilidades e capacidades cognitivas, psicomotoras e afetivas, além de conhecimento e perícia no uso das técnicas de resolução de problemas e liderança na implantação do plano de intervenção.
Com relação à interpretação e aplicação do modelo conceitual Craven e Hirnle (2006) colocam que a essência da prática de enfermagem consiste justamente na tomada de decisões sobre o cuidado direcionado a cada cliente. Nas situações clínicas, as enfermeiras devem decidir qual o cliente deve receber o cuidado em primeiro lugar. É necessária habilidades nas competências intelectuais, interpessoais e técnica para empreender a fase da implementação.
A cerca da humanização na assistência, na definição do Processo de Enfermagem descrito por Álfaro-LeFevre (1994), o autor o acrescenta a característica de humanístico, uma vez que é desenvolvido e implementado de tal modo que seja dada maior importância aos interesses particulares e desejos do cliente e pessoas significativas. Oguisso e Schmidt (2007) colocam que apesar da existência de grupos preocupados com assistência holística e a visão integral do homem para a prestação da assistência de enfermagem ao indivíduo sadio ou doente, observa-se que, cada vez mais, os enfermeiros especializam-se em pequenas áreas anatomofisiopatológicas do ser humano ou em áreas departamentais das tecnologias mais sofisticadas na prática institucionais.
A operacionalização do Processo de Enfermagem e a individualização do cuidado implicam na adoção, pelo enfermeiro, de um conjunto de crenças e valores que estimam o ser humano e o consideram como cidadão, mas que nem sempre fazem parte do dia a dia da prática nas instituições de saúde no Brasil. Na prática hospitalar, os enfermeiros têm deparado-se com políticas estabelecidas por outros profissionais, que não estimulam e, muitas vezes, limitam o espaço de criatividade dos enfermeiros (ROSSI; CASAGRANDE, 2001).
Na prevenção de complicações a promoção da saúde pode ser definida como aquelas atividades que auxiliam os indivíduos no desenvolvimento de recursos que manterão ou estimularão o bem-estar e melhorarão sua qualidade de vida (SMELTZER; BARE, 2006).
Castilho, Ribeiro e Chirelli (2009) durante a elaboração de seu estudo assinalam a contribuição da Sistematização da Assistência de Enfermagem (SAE) para a efetivação do cuidado integral ao paciente, por ser um processo articulador, que assegura continuidade à Assistência de Enfermagem, proporciona cuidado individualizado.
Em relação à operacionalização no contexto da prática o Processo de Enfermagem vem sendo utilizado nas instituições de saúde pelas enfermeiras como método de trabalho para o planejamento das ações terapêuticas, buscando assim a Sistematização da Assistência de Enfermagem. Experiências a cerca da implantação da SAE são mencionadas em estudos evidenciam as dificuldades encontradas para sua prática, e mostram que o desafio maior está na sua manutenção como um processo natural (TAKAHASHI et al. 2008).
Na hierarquia da aplicação das etapas do Processo de Enfermagem cada etapa do Processo interage com e é influenciada pelas outras fases. Por exemplo: uma enfermeira que coleta as informações do histórico pode implementar alguns aspectos do cuidado ao mesmo tempo. De uma maneira similar, à medida que avalia o cuidado de enfermagem, a enfermeira elabora e implementa novos planos. Durante uma emergência, uma enfermeira pode realizar todas as fases do processo de enfermagem sem divisões aparentes entre elas. Mesmo que as etapas sejam discutidas em seqüência, na prática há uma superposição até que o diagnóstico seja feito e confirmado (CRAVEN; HIRNLE, 2006).
METODOLOGIA
Este estudo trata-se de uma pesquisa qualitativa, não experimental, de amostragem não probabilística, baseada em estudos bibliográficos e de campo.
O levantamento de dados engloba um Hospital público do interior da Bahia, no município de Barreiras, a cidade apesar de sua relevância dentro do contexto econômico, não possui saneamento básico e conta apenas com dez Unidades de Saúde da Família (USF) e dois hospitais públicos.
Os interlocutores participantes correspondem a 08 enfermeiros, escolhidos aleatoriamente entre as Unidades e UTI´s ( Unidades de Terapia Intensiva), com a utilização de amostragem não-probabilística por adesão, sem distinção de sexo.
Optou-se por instrumento de coleta de dados um questionário estruturado, composto com 03 (três) questões abertas aplicado entre os meses de agosto e setembro de 2009. O projeto de Pesquisa foi submetido à apreciação do Comitê de Ética em Pesquisa da Faculdade São Francisco de Barreiras (FASB), em 23/07/2009 e aprovado sob o número 026/09. Posteriormente foi encaminhado ao Hospital em estudo, o ofício para realização da busca de informações que visam nortear os aspectos relacionados à aplicabilidade do Processo de Enfermagem.
A coleta de dados contituiu-se a partir da Resolução nº 196/96 do Conselho Nacional de Saúde/Ministério da Saúde, relativa à pesquisa com seres humanos. Os participantes foram orientados sobre os objetivos da pesquisa, com a liberdade de interromper a participação em qualquer momento, garantia do anonimato e total sigilo. Após os esclarecimentos foi solicitada a assinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido. Podendo os mesmos solicitar informações durante todas as fases do estudo inclusive após a publicação do mesmo.
Com o objetivo de investigar os fatores que dificultam a aplicabilidade do Processo de Enfermagem foram utilizadas as seguintes questões norteadoras: Defina o Processo de Enfermagem e suas etapas; Cite três aspectos facilitadores da aplicabilidade do Processo de Enfermagem e Cite três aspectos dificultadores da aplicabilidade do Processo de Enfermagem. Essas questões possibilitaram desvelar a percepção dos enfermeiros no que se refere aos Aspectos relacionados aos fatores que dificultam a aplicabilidade do Processo de Enfermagem. Primeiramente foi estabelecido contato verbal e em seguida aplicado o questionário.
Para análise do conteúdo das respostas seguiram-se os momentos metodológicos da Análise de Conteúdo do Método Bardin, contemplando as três fases: pré-análise, exploração do material e tratamento dos resultados. Na exposição dos resultados foram empregados trechos dos discursos para ilustrar os achados.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Após a leitura, análise e interpretação dos dados colhidos através dos questionários, foi possível elaborar 3 categorias temáticas. Com o objetivo de facilitar a exposição, discussão e compreensão do conteúdo avaliado, bem como de articular os temas, identificando ambigüidades nas falas dos sujeitos a fim de alcançar nosso objetivo geral. A seguir, serão expostos os temas, com relatos dos interlocutores e posicionamentos das autoras deste trabalho.
Processo de Enfermagem e suas etapas
Para Horta (1979, p. 35), o Processo de Enfermagem é definido como: "(...) a dinâmica das ações sistematizadas e inter-relacionadas, visando à assistência ao ser humano. Caracteriza-se pelo inter-relacionamento e dinamismo de suas fases ou passos".
Com relação às etapas que compõem o Processo de Enfermagem Cunha e Barros (2005) afirmam que o modelo mais conhecido é o proposto por Wanda Horta em 1979, composto pelas seguintes fases: Histórico de Enfermagem, Diagnóstico de enfermagem, Plano Assistencial, Prescrição de enfermagem, Evolução de enfermagem e Prognóstico de enfermagem. Já Neves (2006) resume o Processo em cinco etapas inter-relacionadas: Histórico, Diagnóstico, Planejamento, Implementação , Avaliação e Evolução.
No decorrer da pesquisa constatamos a diversidade entre as respostas no que refere-se à definição do Processo e as etapas que o compõe, como delineia as falas seguintes:
Enf. 1: "Conjunto de ações para sistematizar a assistência de enfermagem. Histórico, Diagnóstico, Planejamento, Evolução e Avaliação."
Enf. 3: "Forma sistemática, de tornar a enfermagem comum a assistência científica tendo uma visão holística. Etapas: Investigar, Planejar, Implementar e Avaliar a assistência prestada ao cliente."
Tannure e Gonçalves (2008) ressaltam que é ampla a evidência de pesquisas em enfermagem que remetem a preocupação por parte dos enfermeiros de uniformizar a linguagem pela construção de uma classificação única de enfermagem, que inclua termos utilizados para designar os fenômenos de interesse da enfermagem, as ações executadas e os resultados mensurados.
Diversos autores oferecem diferentes etapas para o Processo de Enfermagem, entretanto, as comuns entre eles são: Histórico, Diagnóstico, Planejamento, Implementação e Evolução. Os conceitos empregados para definir a dinâmica do cuidado variam de acordo com o modelo teórico adotado para o desenvolvimento da prática de enfermagem (CASTILHO; RIBEIRO; CHIRELLI, 2009).
Diante deste contexto, acreditamos ser imprescindível a uniformidade na composição das etapas do Processo de Enfermagem. Pois conforme Andrade e Vieira (2005), o número de fases que forma o Processo de Enfermagem modifica-se de acordo com diferentes autores, variando de quatro a seis fases. Esta desarmonia de opiniões consiste na questão de considerar a etapa de Diagnóstico como uma fase distinta ou considerá-la incluída na primeira etapa, o Histórico.
Humanização na Assistência como aspecto facilitador na aplicabilidade do Processo de Enfermagem.
Compreendemos que a Sistematização da Assistência de Enfermagem eleva a qualidade do cuidado de enfermagem beneficiando tanto o paciente, através de um atendimento individualizado; assim como a enfermeira; mostrando a importância do Processo de Enfermagem (CUNHA; BARROS, 2005).
Ao planejar a assistência o enfermeiro aprova sua responsabilidade junto ao cliente assistido, visto que, o planejamento admite diagnosticar as necessidades do cliente, garante a prescrição adequada dos cuidados, orienta a supervisão do desempenho do pessoal, a avaliação dos resultados e da qualidade da assistência porque norteia as ações (ANDRADE; VIEIRA, 2005). O que pode ser observado nas seguintes falas:
Enf. 2: "Linguagem única; Serviço mais humanizado; Diminui distâncias do paciente com a enfermagem."
Enf. 3: "Humanização da Assistência de Enfermagem; Valorização do profissional enfermeiro; Planejamento da assistência".
Surge à necessidade de resgatar os valores humanísticos da assistência de enfermagem diante do avanço científico, tecnológico e a modernização de procedimentos que estão vinculados à necessidade de estabelecer controle, justamente porque o enfermeiro passou a assumir cada vez mais encargos administrativos, afastando-se gradualmente do cuidado ao paciente (ZEN; BRUTSHER apud BEDIN; RIBEIRO; BARRETO, 2004).
Fernandes e Pinheiro (2005) acrescentam que humanizar o trabalho de enfermagem implica em oferecer assistência que valorize o ser humano, que leve em conta sua cultura, seus valores e necessidades. Implica na capacidade de ouvir o cliente com o coração. O olhar, a expressão e a mente também contribuem, para a preservação da saúde, do bem-estar pessoal e social, para a ampliação de possibilidades de exercer autonomia e de transformar o contexto em que se vive.
Fatores que interferem e prejudicam a implementação do Processo de Enfermagem
Ao ponderar a respeito do Processo de Enfermagem aprecia-se como essencial comentar os modelos conceituais de enfermagem, que tem como objetivo organizar o pensamento do enfermeiro, sua observação e interpretação da realidade. Ainda com relação ao conhecimento científico das fases que constituem o Processo de Enfermagem, Andrade e Vieira (2005) afirmam que a formação acadêmica dos enfermeiros é fundamental, pois percebe-se uma maior preocupação dos discentes em adquirir habilidades técnicas. Deixando de levantar os problemas de enfermagem dos pacientes e conseqüentemente, limitando a assistência em ações isoladas no decorrer de suas atividades.
Dos enfermeiros questionados, a maior parte enfatiza que uma das dificuldades para implementação do Processo de Enfermagem consiste na deficiência de conhecimento a cerca deste, como pode ser percebida em alguns profissionais pelas falas a seguir:
Enf. 1: "Falta de conhecimento dos profissionais sobre o assunto;Grande quantidade de rotinas;Falta de equipamento de informática".
Enf. 2: "A influencia de método tradicional ultrapassado; Falta de profissionais capacitados que consigam definir uma boa teoria a ser implantada na instituição; Falta de conhecimento por parte da grande maioria dos profissionais sobre as etapas do Processo".
Conforme Souza (1981), os elementos teóricos e práticos do Processo de Enfermagem durante o curso de graduação, não estão sendo elaborados de modo a levar ao conhecimento, a despertar nos alunos a compreensão, a consciência do valor dessa metodologia para a assistência de enfermagem. Ao que parece, estão sendo efetuadas de modo isolado, sem uma ampla concepção de assistência de enfermagem. "Para os quais muitas vezes busca-se explicação nas deficiências do ensino formal e na sua relação com a prática" (HERMIDA, 2004, p.3).
Apesar dos esforços e das vantagens oriundas da utilização de uma metodologia para auxiliar no processo de gerenciamento do cuidado do paciente, a aplicação da SAE (Sistematização da Assistência de Enfermagem) constitui-se um dos desafios que devem ser transpostos pela enfermagem, para qualificar sua assistência (VENTURINI, 2007).
Também como forma dificultadora para a implementação do Processo de Enfermagem na prática profissional evidenciamos que a escassez numérica e qualitativa de recursos humanos para o serviço de enfermagem tem sido a nível nacional, questão preocupante para os que ocupam cargos de gerência, uma vez que, a inconformidade desses recursos, para atendimento das necessidades de assistência de enfermagem aos pacientes, afeta seriamente a qualidade do cuidado e implica em questões legais e de saúde do trabalhador (NICOLA; ANSELMI, 2005).
Prever o quantitativo adequado de pessoal de enfermagem é um processo que deve levar em consideração a carga de trabalho existente nas Unidades que, por sua vez, relaciona-se às necessidades de assistência dos pacientes, bem como, do padrão de cuidado pretendido. A operacionalização pode ser realizada por meio da aplicação de um método que possibilite a mensuração das variáveis que interferem na carga de trabalho (DUCCI; ZANEI; WHITAKER, 2008).
Na enfermagem, vive-se uma realidade de trabalho cansativo e desgastante. O que confirma-se pelas falas:
Enf. 3: "Quantidade insuficiente de funcionários; Falta de conhecimento de alguns profissionais a cerca da importância de elaboração de diagnósticos e Intervenções de Enfermagem".
Enf. 5: "Horário, falta de pessoal, falta de continuidade".
Nos órgãos que prestam serviços de saúde, sobretudo nos hospitais, o Serviço de Enfermagem representa um papel fundamental no processo assistencial e, por isso, constitui-se numa parcela significativa de seu quadro de pessoal. Por esse motivo, as chefias desses serviços devem instrumentalizar-se para gerenciar os recursos humanos sob sua responsabilidade, no sentido de melhorar a eficiência e a qualidade da assistência, sem perder de vista os custos hospitalares (FAKIH; CARMAGNANI; CUNHA, 2006).
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Conforme já mencionado, o Processo de Enfermagem é definido como forma sistemática e dinâmica de prestar os cuidados de enfermagem, formado por etapas inter-relacionadas. Composto pelas seguintes fases: Histórico de enfermagem, Diagnóstico de enfermagem, Plano Assistencial, Prescrição de enfermagem, Evolução de enfermagem e Prognóstico de enfermagem.
A pergunta norteadora foi respondida durante a análise dos dados, onde confirmou-se pelas respostas dos sujeitos questionados que diversos são os fatores que dificultam a aplicabilidade do Processo, que vão de encontro deste a falta de conhecimento cientifico a escassez de recursos humanos.
A hipótese levantada durante a elaboração do projeto de pesquisa foi confirmada através das respostas dos profissionais questionados a cerca das dificuldades que mais incidem na implementação do Processo Enfermagem. Os objetivos foram atingidos no que refere a investigar os fatores que dificultam a aplicabilidade do Processo de Enfermagem em um Hospital do Interior da Bahia, assim como, buscar os fatores determinantes para o sucesso da implementação do Processo de Enfermagem; determinar os aspectos facilitadores e dificultadores na implantação do Processo de Enfermagem; analisar como a lacuna no Processo de Enfermagem afeta a qualidade da assistência de enfermagem.
Por fim, conclui-se que para ocorrer uma implementação eficaz do Processo de Enfermagem faz-se necessário que o enfermeiro esteja embasado em conhecimento científico próprio, principalmente nos aspectos referente à necessidade de constante treinamento, estudo e atualização para que possa garantir ao paciente uma assistência de qualidade.
REFERÊNCIAS
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Autor: Elbeti Cristian Neris Da Silva
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