Esperanças - Álvares de Azevedo



ESPERANÇAS
Álvares de Azevedo

(...) Oh! Não me odeies, não! Eu te amo ainda,
Como do peito a aspiração infinda
Que me influi o viver,
E como a nuvem de azulado incenso;
Como eu amo esse afeto único, imenso
Que me fará morrer! (...)

Este verso faz parte do poema Esperanças - Álvares de Azevedo -nele, o poeta invoca a figura trágica de Thomas Chatterton por meio de uma exclamação do drama em prosa de Alfred de Vigny: Oh si elle m'eût aimé! " Ah! Se ela me tivesse amado!"
Para entendermos esta invocação do poeta é preciso saber quais foram as suas influências. A época romântica foi, como nenhuma outra, glorificadora da autodestruição. Começamos pela novela aparecida em 1774, Tristezas do jovem Werther, de Goethe, essa foi a primeira grande influência aos românticos. Pelo menos trinta mil suicídios, só na Alemanha, foram atribuídos ao poder sugestivo da literatura goethiana.
Houve, ainda, várias outras influências deste tipo, como por exemplo, em 1802 quando o escritor italiano, Ugo Foscolo, compôs à imitação das Tristezas do jovem Werther , um livro a que deu o título de Últime Lettere di Jacopo Ortis, cujo desfecho era também o suicídio do herói.
O Jacques, amante de Marion e herói do poema Rolla , de Alfred de Musset, é igualmente um desesperado, que o poeta paulista assim vê, num ensaio datado de 1850: " O herói do poema é um suicida: no gozo devasso afoga-se ele como uma ave do céu caída no mar (...)". (MAGALHÃES JÚNIOR, 1962:158)
René, herói do livro homônimo de Chateubriand, tenta o suicídio. O poeta e dramaturgo Alfred de Vigny também colaborou com essa fogueira crepitante, ao escrever o drama Chatterton, baseado na vida infortunada do mistificador que se matara aos dezoito anos.
Todas essas influências literárias não eram indiferentes ou invisíveis aos jovens acadêmicos de São Paulo. Não é a toa que tanto os escritos em prosa, como as poesias de Álvares de Azevedo estão cheias de referências ao Werther, de Goethe, e ao Jacopo Ortis, de Foscolo, como a Musset, Vigny, George Sand. Em outras palavras, podemos dizer que tanto Álvares como os outros poetas românticos, estavam sem dúvida sob efeitos da mesma exaltação romântica.
Além das obras literárias - que eram por assim dizer um curso de preparação ao suicídio - o exaltado romantismo byroniano e o fundo pessimismo dos poetas afligidos por terríveis sofrimentos completavam o quadro, dando aos poetas românticos brasileiros uma visão amarga do mundo inserindo aquele desejo de morrer. Álvares de Azevedo, um desses enamorados juvenis da morte, descobria suas inclinações cada vez que versejava.
Esperanças é como se fosse uma carta suicida, para ser entregue à amada depois da morte. E não podia deixar de ser assim, constituindo aqueles versos um eco da exaltação passional do personagem que, no drama do romântico francês, depois de ter ingerido veneno, assim se despedia da vida: " Ó morte, anjo da libertação, como tua paz é doce! Eu bem tinha razão de te adorar, mas não tinha a força de te conquistar. Eu sei que teus passos serão lentos e seguros. Vê anjo severo, como subtrairei a todos o traço de minha presença sobre a terra..." E de todas estas fontes foi que o poeta, Azevedo, escreveu seu poema contraditoriamente intitulado Esperanças.

REFERÊNCIAS
MAGALHÃES JÚNIOR, Raimundo. "Poesia e vida de Álvares de Azevedo". São Paulo: Editora das Américas, 1962.

Autor: Alexandre Idalgo
Graduado em Letras pela FIZO ? Unianhanguera e aluno de Pós-graduação em Estudos Literários pela Unibero ? Unianhanguera.
Autor: Alexandre Idalgo


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