GOHN, Maria da Glória.Teoria dos movimentos sociais: paradigmas clássicos e contemporâneos, 5ª .ed. São Paulo: Loyola, Abril de 2006.



Daiane Melo de Castro

Esta resenha busca salientar pontos importantes do capítulo VIII ? Movimentos Sociais no Brasil na era da Participação:1978-1989. Este capítulo possui três partes, que em sua primeira parte realiza um balanço bibliográfico da literatura brasileira dos últimos vinte anos, relativa aos movimentos sociais urbanos. A segunda aborda as principais categorias teóricas utilizadas na produção a partir dos anos 70. No terceiro e último enfatiza o cenário das lutas e suas interpretações na década de 80.
Segundo Gohn, a produção teórica sobre movimentos sociais urbanos no Brasil foi realizada nos anos 80 em destaque: Jocobi (1980 e 1989), Torres Ribeiro e Machado da Silva (1984), Cardoso (1983, 1994), Kowarick (1984). Porém nos anos 90 houve um declínio do interesse de estudo dos movimentos em geral.
Conforme Gohn (2006) o ano de 1980 foi marcado por mudanças nas análises sobre os movimentos urbanos na conjuntura sóciopolítico dos anos 78/79, com o surgimento de inúmeros movimentos e formas organizativas populares. As publicações com referencial marxista predominada apesar das críticas, e serviam de auxílio às análises da realidade urbana.
Novos estudos surgiam sobre as classes populares incorporando conceitos utilizados na antropologia e na educação popular, destaque-se então o trabalho de Carlos Nelson dos Santos (1981) sobre associativismo em favelas cariocas que contemplava variáveis da antropologia e do planejamento urbano.
De acordo com autora os anos 80 trazem um panorama novo na prática e na teoria sobre os movimentos sociais populares urbanos. Na prática surgem novas lutas como pelo acesso á terra, a sua posse, moradia, expressas nas invasões, ocupações de casas e prédios abandonados, articulação do movimento dos transportes.
Nos 90 o quadro de pesquisadores passa e se preocupar com os problemas da violência, da exclusão social e deixam de lado os movimentos sociais, e as redes ONGs passa ser o centro dos estudos, como o Instituto Pólis de São Paulo que funcionavam como núcleos de pesquisa.
No final dos anos 70, no Brasil o que se destacava eram os movimentos sociais populares vinculados às práticas da Igreja católica, articulada á Teologia da Libertação. A categoria teórica básica enfatizada era a da autonomia, tratava-se de uma estratégica política na visão dos movimentos populares, pois se reivindicava um duplo distanciamento. De um lado o Estado autoritário. Os fundamentos da autonomia são difusos. Matrizes do socialismo libertário do século passado, como o anarquismo que fazia uma análise marxista da realidade.
Nos anos 80 no campo das práticas pesquisadores mostraram interesse pelo caráter novo dos movimentos populares como das mulheres, os ecológicos, dos negros e índios. A emergência desses estudos demarcou duas novidades, o novo e uma divisão paradigmática. O novo que passou ser referência para os movimentos que inscreviam suas demandas no campo dos direitos sociais tradicionais: direito a vida, ao alimento, abrigo e outros para sobrevivência do ser humano.O novo nos movimentos ecológicos e das mulheres demandava os direitos modernos, igualdade e a liberdade, em termos das relações de gênero, raça e sexo.
A divisão paradigmática dos anos 80 predominava as análises de cunho marxistas para os para os movimentos populares, influenciadas pela corrente franco-espanhola, ou análises acionalistas. O novo movimento europeu advinha de camadas sociais que não se encontravam em condições de miserabilidade, se organizavam em torno das problemáticas das mulheres, dos estudantes, pela paz , pela qualidade de vida etc. e se contrapunham aos movimentos sociais clássico, o dos operários.
Na década de 80 novos movimentos foram criados, frutos da conjuntura política- econômica, foram os movimentos dos desempregados e das Diretas Já que surgiu no momento de pico de um ciclo de protestos contra o regime militar e a política excludente de desempregados, centrado na questão da constituinte.
Durante os anos 80 várias mudanças ocorrem, em destaque as alterações nas políticas públicas, e nos setores da vida social como o crescimento do associativismo institucional, em particular nas entidades de órgãos públicos que absorveram grande parcela dos desempregados do setor privado, o aparecimento e expansão de entidades aglutinadoras dos movimentos sociais populares que viria quase a ser uma substituta dos movimentos sociais nos aos 90: as ONGs _ Organizações Não- governamentais.
Militantes, assessores e simpatizantes deixaram de exercitar a política por meio da atuação do social movimentos sociais, movidos pela paixão, pela ideologia , passaram a se aproximar das ONGs e se ocupou em elaborar pautas e agendas de encontros, seminários e as eleições.Ao final dos anos 80 o Partido dos Trabalhadores tem como principal preocupação a capacitação técnica das lideranças populares para atuar como co-participação das políticas públicas locais.
Sobre os movimentos sociais, o "novo" deste último período deve ser visto numa dupla dimensão: como construtor de espaço de cidadania. Na primeira o exemplo maior é dado pela nova Constituição brasileira, em especial no capitulo sobre os novos direitos sociais. Na segunda destacam-se: Agnes Heller (1981), Norbeto Bobbio (1992) Arendt (1981), Lefévre (1973), com a contribuição da dicotomia público e privado, a questão da cidadania, a cultura política nos espaços associativos, e a questão do cotidiano.
No plano das análises, os anos 90 enfatizaram duas categorias básicas: Na primeira a cidadania coletiva,pensar o exercício da cidadania em termos coletivos de grupos e instituições que se legitimaram juridicamente a partir de 88. e a segunda a exclusão social, que decorre das condições socioeconômicas que passaram a se interativas, causadoras de restrições e situações que Durkheim certamente caracterizaria como anomia social: violência generalizada, desagregação da autoridade estatal.
Habernas (1985) cria a "categoria do agir comunicativo" para o entendimento das ações presentes nos movimentos, vendo possibilidades de geração de novas formas de relações de produção, contribuindo para resolver problema de produtividade ou de impasse em ares econômicas em crise.Destaque-se ainda que Offe (1988) chamou a atenção para a composição social dos NMS europeus basicamente a nova classe média, formada por grupos sociais conscientes dos problemas sociais gerados pelo capitalismo.A nova camada elaboraria respostas racionais que enfrenta.
Então assim os movimentos sociais no Brasil como no conjunto da América Latina, trouxeram á cena política de forma majoritária, a participação das mulheres. O maior contingente de participação de mulheres foi nos movimentos populares como demandatárias de reivindicações populares por melhorias, serviços e equipamentos coletivos, e não como demandatárias de direitos de igualdade entre os sexos. Foram elas que lutaram por creches, transportes, saúde entre outros.
Portanto os Movimentos Sociais no Brasil das décadas de 70, e ao decorrem dos anos 80, foram demarcados com o surgimento de inúmeras formas de movimentos e formas organizativas populares, que reivindicavam direitos sociais tradicionais para sobrevivência do ser humano assim como a igualdade e a liberdade e a construção de uma democracia.
Autor: Daiane Melo De Castro


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