EM BUSCA DE REMÉDIOS PARA A IRMÃ
Sexta-feira. Manuel chega em casa muito cansado. Toma banho, janta e cai na cama. Não quer conversar com ninguém. Está muito tristonho o homem. Não se sabe o que aconteceu com ele. Tem sempre um problema a mais. A vida dele é só de problemas. Que diabo de vida ruim. Por que será que Manuel nasceu? Pensa muito no corre-corre do mundo. Não entende por que motivo veio a este torrão. A vida que ele leva não tem sentido algum. Vida boa é a dos ricos. Não se preocupa com nada, carro na porta e dinheiro no bolso. Isto sim é vida. Manuel logo está a sono solto. Só assim para passar o tempo: dormindo. O mais é só sofrer.
Meia-noite. Há um rebuliço na casa do Manuel. Sua irmã acorda com uma enorme cólica. Manuel levanta sobressaltado e corre ao quarto da irmã. Toda a família está lá. O pai já fez seus famosos chazinhos, mas a menina continua gritando. O jeito é Manuel ir comprar remédios na farmácia. Ele vai. Pega o ônibus, aliás o ônibus pega ele. Já é tarde. Na farmácia ele conta o ocorrido e o farmacêutico prontamente o atende. Manuel volta ao ponto de ônibus com os remédios para a moça. Passa em frente a um barzinho. Está cheio de rapazes tomando cerveja. Manuel pensa em ir lá, mas ele não pode. A irmã está doente. Pensa duas vezes antes de tomar uma atitude, mas enfim toma uma decisão: vai ao bar e toma uma, só uma não é problema. Quando vai sair do bar, encontra um "amigo". O papo é geral entre os dois. O "amigo" oferece uma cerveja a ele que não quer de maneira alguma, mas acaba aceitando e bebe muito. Manuel acaba indo se alterando e bebe ainda mais. Conversando alto, fala coisas de ontem, coisas de hoje. Manuel já não é mais o mesmo. Perde completamente o sentido. Não sabe mais aonde vai, onde está. Perambula sem sentido.
Acorda o Manuel. São onze horas. Ele está caído no mato. Levanta devagar e sai andando. A mente continua girando. Ele está meio abestalhado ainda. Que lugar estranho! Havia chovido e Manuel estava todo molhado.Tinha uma série de edifícios ao lado. Manuel se dirige para lá. Está com dor de cabeça. Encontra uma roda de meninas brincando. A princípio as meninas se assustam, mas Manuel chega com muita calma e diz a uma menina que estava perdido, que não conhece aquele lugar, para ela lhe explicar como sair dali. Acaba o medo da garota que chama as outras. Ambas rodeiam Manuel e lhe dão as informações necessárias. Manuel sai dali. No caminho vai pensando naquelas meninas. Eram lindas e o ajudaram muito, mesmo ele estando naquele pileque. Manuel é que era um trouxa. Tinha que largar daquela bebida, mas como? Foi aí que Manuel se lembrou da irmã e dos remédios. Deus do céu? E agora? Ele não foi comprar os medicamentos? Aumentou mais os passos o Manuel. Onde foram os remédios? E a irmã? Provavelmente já tinha morrido.
Lá pelas duas horas Manuel chega em casa.Tudo calmo, tudo parado. Manuel entra meio ressabiado. Que aconteceu? Encontra a outra irmã que está trabalhando na cozinha. Pergunta a ela o que ocorreu. Ouve um enorme sermão e depois fica sabendo que ela fora operado de apendicite, mas já estava melhor. Todo o resto do pessoal estava no hospital. Ele se acalma mais e prefere ir dormir um pouco para escutar o sermão do pai logo mais a noite.
Daí a pouco o velho chega e já vai batizando o Manuel com seu sermão: então você vai comprar remédios para a menina que estava morre-não-morre e enche a cara e passa dois dias na rua? Que espécie de homem é você?
Manuel se sente muito rebaixado. Realmente ele estava errado. Toma então uma atitude séria: ele não vai beber mais, nunca mais. Será que ele vai cumprir?
Autor: Henrique Araújo
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