O POLÍTICO



O POLÍTICO

Apesar dos pesares, Manuel resolveu ser político. Viu que era a única profissão que dava dinheiro no momento. Isto por várias razões como: mexia e ficava com o dinheiro de todo o mundo e ninguém falava nada, não precisava ir às sessões parlamentares e ganhava do mesmo jeito, havia sempre um bando de puxa-sacos ao lado, dando tudo o que ele quisesse, poderia fazer leis proibindo os outros de fazerem tudo aquilo de que ele não gostasse.

Filiou-se a um partido. Resolveu ficar nesse partido até que o mesmo se desgastasse, depois passaria para o que estivesse mais forte e assim sucessivamente.

Houve festas, bate-papos, aperto de mãos e comícios. Manuel foi convocado para fazer o seu primeiro discurso e começou:

- Minhas senhoras e meus senhores, hoje estou aqui, quando não devia estar, pois estou com minha mulher doente, passando muito mal, mas eu assumi um compromisso com as bases e terei de cumpri-lo. Eu me candidato a vereador. É uma missão dura, trabalho muito, uma vez por semana, salário de fome, apenas 150 salários mínimos por mês, mas eu resolvi me arriscar para o bem de minha cidade. Nunca fui político, é a primeira vez, nunca puxei saco de político, minha candidata era mulher, sou uma pessoa pobre, por isso não posso ajudar ninguém. Posso provar que sou pobre e para isto vou virar meu bolso para vocês. Nos bolsos de minha calça não há dinheiro algum, (ele tá de calça nova - gritou alguém na população). É claro que estou de calça nova, vocês não queriam me ver aqui sem calça, ou queriam? (pelo menos seria mais sincero). E assim meus amigos, conto com vocês no dia 1o. de novembro. Farei tudo que estiver ao meu alcance.Vou calçar toda a cidade. ( ora esta, disse o povão, se está toda calçada), farei escolas ( pra quê, se as que têm estão caindo e os professores morrendo de fome), colocarei vídeo nas escolas ( o quê, com os alunos sentados no chão, bebendo água da fossa? Farei uma estrada ligando o Brasil ao Pacífico, (Epa! Não há nem estradas no município) Farei hospitais ( pra mais gente morrer na fila), darei comida aos pobres ( só se for lavagem), vestirei os mendigos ( com saco de linhagem), darei trabalho à população (serem garis sem salário), colocarei os marginais e os especuladores na cadeia (com refeição, cafezinho, água gelada, Tv a cores, telefone celular), enfim, farei tudo aquilo que nem um outro já fez. Tenho capacidade para isto. Foi por isto que me filiei a este
partido, porque os outros estão falidos, estão mortos e com eles os políticos dessa cidade, incluindo aí o prefeito e os seus comparsas.

O prefeito estava presente e o povo se agitou. Foi um reboliço geral. Manuel não percebeu muito e continuou:

- É bem verdade que bebi um pouco no passado, nada demais. Somente uma dosinha aqui, outra ali, outra acolá, de vez em quando, a todo dia, a toda hora, devagar e sempre. Nunca exagerei, tanto é que no outro dia eu nada sabia de nada. Também trabalhei na cooperativa da cidade. É claro que cheguei a levar alguns trocados para casa, nada demais, apenas uns reaizinhos de vez em quando. A cooperativa faliu, não tenho culpa. Quem aí acha que tenho culpa aponte o braço. Foi um corre-corre total. Todo mundo saiu com um pedaço de pau para cima dele que só então desconfiou do drama e tratou de salvar a sua pele. É isto, meus amigos. E eu já vou-me embora, tenho que ir ao hospital ver minha véia que está muito ruim e até logo e tenho dito.

Manuel saiu abrindo caminho no meio da multidão e se safou com muita dificuldade. Estava encerrada a carreira política de nosso caro varão.

Quanta mentira ele pregou neste pequeno discurso. Até mesmo falou que sua mulher estava hospitalizada, sendo que nem mulher ele tinha ainda.


Autor: Henrique Araújo


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