O Papel Do Professor Em Uma Escola Democrática



1. INTRODUÇÃO

As rápidas transformações do mundo atual, decorrentes dos avanços tecnológicos, científicos e sociológicos, ocorridos nas últimas décadas, exigem que os indivíduos, além de adquirirem conhecimentos, estejam preparados de forma dinâmica à resolução de novos

e complexos problemas com uma visão crítica e criativa.

Nos dias atuais, tudo se globalizou e continua a se globalizar – capital, tecnologia, gestão, informação, mercado interno, violência – ocasionando uma revolução no mundo do trabalho e na sua organização, na produção de bens e serviços, nas relações internacionais e nas culturas locais, transformando o próprio princípio das relações humanas e da vida social (LANDINI e ABREU, 2003).

Com mudanças tão rápidas, o homem, o meio ambiente e as instituições sociais sofrem grande impacto e como conseqüência alteram seus valores, hábitos e tradições (BOLIVAR, 2006).

Sem fugir a este contexto, a escola deverá buscar novos referenciais que permitam uma nova organização e uma nova metodologia de trabalho (MICHELOTTO, 2003).

Para tal, torna-se necessário a busca de meios de concretização de um saber que se quer integrado, de um desenvolvimento do espírito de iniciativa e de autonomia (LANDINI e ABREU, 2003).

Assim, a escola hoje, entendida sob o ponto de vista organizacional, tende a direcionar-se para o "saber fazer" e para o "ajudar a ser", permitindo aos alunos que participem neste processo como cidadãos produtivos e auto-realizados (LANDINI e ABREU, 2003).

2. DEMOCRACIA NA ESCOLA

"A participação em uma sociedade democrática como membro responsável exige que se produzam mudanças e renovações na organização da escola, assim como modificações na função dos professores" – Juan Deval (2003, p.49)

Em breve análise, observa-se que o conceito de democracia é muito abrangente e complexo.

Não consiste simplesmente em uma forma de governo político, mas também em uma forma de vida. Também não consiste apenas em que os cidadãos possam escolher seus representantes políticos ou que sejam tratados de modo igualitário.

Democracia é uma forma de vida com conteúdos e valores estabelecidos e estando diretamente relacionada à educação propicia aos cidadãos, o exercício de suas competências e de seus direitos de forma satisfatória, tornando-os capazes de escolher e de decidir entre opções contrapostas (DEVAL, 2003).

O papel da escola neste contexto é o de elevar o nível de instrução dos indivíduos e prepará-los para uma participação ativa em uma vida democrática.

Para alcançar este objetivo, a escola deverá desenvolver conteúdos voltados a este fim e o mais importante, trazer para as suas práticas, ações democráticas.

Segundo Perrenoud (2000), a prática reflexiva, a profissionalização, o trabalho em equipe e por projetos, a autonomia e a responsabilidade crescentes, as pedagogias diferenciadas, a centralização sobre dispositivos e sobre as situações de aprendizagem, a sensibilidade à relação do saber e com a lei, serão as novas bases norteadoras para o docente no desempenho de suas funções.

Estas bases são apontadas pelo sociólogo em um horizonte de mudanças onde nem sempre o consenso é possível e se resumem nas 10 ( dez ) novas competências para ensinar por ele apresentadas.

Estas competências apresentam envolvimentos do educador nos aspectos: pedagógico , organizacional e principalmente de ordem social e política.

Embora todas se relacionem de forma intrínseca, vale a pena observar, que entre as competências apontadas por Perrenoud (2003), a que tem por tema "Enfrentar os deveres e os dilemas éticos da profissão", aborda de forma clara e precisa, a necessidade do docente desenvolver práticas pedagógicas voltadas para o desenvolvimento de valores humanos e a ética, priorizando questões relacionadas ao senso de responsabilidade, solidariedade e justiça, valores estes imprescindíveis em uma convivência social e democrática.

3. O NOVO DOCENTE

Embora a educação seja objeto de constantes estudos e de muita reflexão, é na escola que iremos encontrar práticas inovadoras ou ao contrário, ações que demonstram inflexibilidade e autoritarismo.

Diante desta realidade, torna-se urgente a necessidade de mudanças.

Os professores devem ser capazes de trabalhar em ambientes escolares que possam tornar-se centros de conhecimento coletivo e de solidariedade.

Devem estar preparados para compreender a importânciade um discurso democrático e as contradições da diversidade cultural.

Se pretendemos implantar uma escola democrática, devemos estar abertos à mudanças e transformações, e nos preparar para lidar com as diferenças e pluralidades, buscando eixos inovadores em nossa práticas.

Dentre estes eixos, salientamos: a diferenciação pedagógica, o desenvolvimento de competências e habilidades, o procedimento de transferência de conhecimento e por último, a educação para a cidadania, pois só desta forma teremos no futuro, cidadãos devidamente preparados para o efetivo exercício da democracia.

Diante do universo de tantas informações e tantas contradições referentes ao tema, é imperioso que se continue em busca da identificação do papel a ser desempenhado pelo docente a partir da proposta de uma Escola verdadeiramente democrática.

REFERÊNCIAS

BOLIVAR, Antonio. A educação para a cidadania na agenda das reformas. Pátio: revista pedagógica, Porto Alegre, ano IX, n. 36, p. 12-15, nov. 2005/jan.. 2006.

DELVAL, Juan. Rumo a uma educação democrática. Pátio: revista pedagógica, Porto Alegre, ano VII, n. 25, p. 48-51, fev./abril 2003.

LANDINI, Sonia Regina e ABREU, Claudia B. de Moura. Estado: economia e política nas reformas de formação docente in FERREIRA, Naura Syria Carapeto (org.). A gestão da educação na sociedade mundializada: por uma nova cidadania. Rio de Janeiro, DP&A, p.203-217, 2003

MICHELOTTO, Regina Maria. A democratização na história da universidade in FERREIRA, Naura Syria Carapeto (org.). A gestão da educação na sociedade mundializada: por uma nova cidadania. Rio de Janeiro, DP&A, p.219-237, 2003

PERRENOUD, Philippe. As Competências a serviço da Solidariedade Pátio: revista pedagógica, Porto Alegre, ano VII, n. 25, p. 19-24, fev./abril 2003.

PERRENOUD, Philippe. Dez Novas Competências para Ensinar. Porto Alegre, Artmed, 2000.


Autor: REGINA FERNANDES


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