A feijoada da Tia Ieda
O chevete bege do meu pai, um carro...eu diria...de estimação, já fazia o caminho como se não necessitasse de meu pai na direção. Até as músicas que nós ouviamos no caminho eram as mesmas, todo domingo. Meu reclamava do país, minha irmã pequena chorava, minha mãe parecia nem estar naquele carro e eu olhava o mundo pela janela. Todo domingo.
A casa da Tia Ieda ficava numa ladeira enorme, que eu no alto dos meus oito anos não cansava de subir e descer. De bicicleta, de skate, de patins...não importava! O lance era subir e descer a ladeira! Sem falar no cheiro que saía daquela casa...um cheiro de coisa boa! Era a feijoada borbulhando na panela! O ouro negro do carioca inebriava o ar! Sinto fome só de pensar!
A cozinha da Tia Ieda era o metro quadrado mais disputado da casa...era gente passando pra lá e pra cá...laranja descascada...couve fatiada fininha fininha...e o quintal cheio de homens e de garrafas de cerveja...vazias!
Tia Ieda é uma negra bonita, de sorriso largo, os braços sempre abertos, estar perto dela era sempre uma festa. E ela cuidava pra que tudo saisse a seu gosto. Tinha que ser uma feijoada bem carioca...ela dizia. E para isso não faltava o sambão! A macharada tocando samba era uma diversão só! Cresci ouvindo Fundo de Quintal, Jorge Aragão, Sombrinha...como era bom! E as mulheres...como dançavam!
O que mais me divertia eram as conversas. As histórias do Rio de Janeiro quando se podia sonhar na calçada olhando a lua...Quando bala perdida era o doce que o menino não achou...
Faz tempo que eu não vou ao Rio de Janeiro, faz tempo que eu não tenho mais oito anos...Mas os domingos na ladeira e a Feijoada da Tia Ieda...ah esses estarão comigo...pra sempre!
Autor: Marcia Oliveira Moura
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