O Homem e o Seu Não Ser



Hoje eu gostaria de escrever a página mais triste que alguém já escreveu.Eu gostaria de poder, de ser capaz de exteriorizar o mais absoluto falta de sentido do existir. Eu desejo transpor para o papel a crueza do não ser. Gostaria mas não consigo, eu sei que eu sei falar sobre aquela fronteira que todos sabem, mas não querem falar, sobre a inutilidade desse cérebro pensar. Todos sabem mais do mesmo, mas é tão cruel a visão da verdade em relação a condição humana, que é preferível falar de livros de auto ajuda, da natureza, das mil e uma possibilidade que o homem possui nessa vida.
Todo homem foge a todo momento, a todo instante do que ele mais sabe, do que ele tem plena consciência em qualquer lugar, em qualquer situação humana, social, econômica, religiosa, ele sabe mas odeia saber. Ele quer fugir de si mesmo para fingir não saber que sabe. Sabe que é nada, goza o instante, mas sabe não ser dono do tempo, sabe-se não ser. Apercebe-se da história de todas as gentes, de todos os conhecimentos adquiridos pelos humanos e sabe-os inúteis. Então vive o drama da morte certa, vive a mera vida a cada dia, como se não soubesse o destino cruel que o espera, o cotidiano mordorrento que vive, olha ao longe, suspira, ri, canta, dança, chora, mas lá no seu íntimo jaz morto, fede, sente o envelhecer de suas carnes, suas rugas o enfeiam, sua energia a cada segundo se esvai, seus bens não o salvam nem de si mesmo. Olha-se no espelho percebe a feiúra que o tempo está desenhando, sabe que o nada o espera, caminha a passos céleres sua finitude. Percebe que as pessoas não o querem, não o querem porque se vêem nele. A angústia o domina, mas tenta deseperadamente pintar-se, vestir-se de modo diferente, quer chamar a atenção, embora saiba que isso já não é possível. Trabalha, estuda, canta, faz pós graduação, recebe títulos, medalhas, honrarias, conjecturas discursos, palestras, opina, sobre tudo e sobre todos, mas dorme em seu interior o seu nada.
Ao olhar então para as ruínas do mundo que ele criou e de todas as suas andanças agora volta o olhar melancólico sobre a realidade e na sua alma chora, chora a perda, chora a sua infinita capacidade de criar algo de definitivo, eterno, chora porque sabe que não é, queria tanto ser, mas sabe que até a eternidade que ele criou é mais um de seus devaneios, sabe-se criatura, sabe que não é para ele, mas não é para alguém que é de verdade e que a esse alguém ele não pode nada, sabe que é peça de algum brinquedo de algum ser que existe de verdade e que joga, joga com ele porque pode jogar sem se preocupar com seus sentimentos, sonhos, percepções, então desespera-se porque sabe que nesse jogo ele apenas uma peça substituível de um quebra cabeça, e que essa peça não é mais nem menos que uma peça e que sua existência ou não existência, não tem nenhum problema para que o fez, o desfaz sem nenhum problema de consciência pois quem é, não precisa explicar a quem não é.Assim o homem sente o asco da existência que ele não pediu, mas que também não é dele.
Autor: José Carvalho


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