A MENINA



A MENINA

Manuel perdeu todo o controle da vida. Já não se importava com mais nada. Bebia cada vez mais. Nem se ligava mais com o vestuário, nem em tomar banho. Não ligava com comida. Estava sempre doente e tristonho. No bairro todos sentiam-se penalizados, porém ninguém ousava fazer alguma coisa. Serviço não conseguia mais em lugar algum. Passava necessidades e privações. Nem roupa Manuel possuía mais. Sapatos nem se fala.

Manuel chegou a uma situação extremamente dolorosa. Vivia de biscate pelas ruas, mas até isto estava cada vez mais difícil. Por isto bebia muito, cada vez mais e sempre mais.

Um dia Manuel foi ao bar, encheu a cara, brigou com todo mundo, quebrou o balcão, geladeira, garrafa e ainda agrediu o proprietário. Resultado, foi parar na delegacia. Lá Manuel se acalmou um pouco, dormiu muito e acordou ainda meio atordoado.

Só foi solto no outro dia, mas em vez de ir para casa, volta ao bar e bebe ainda mais. Perde o controle total sobre si. Não sabe onde anda. Na cidade inteira todos dão notícias de Manuel. Estava no clube, na boate, na praia. O ponto que Manuel mais gostava era mesmo um bar. Nos bares todos conheciam Manuel. Gostavam dele, mas o homem não tinha juízo - pensavam. Rapaz novo ainda, poderia ter uma boa vida, casar, ter filhos. Tinha o futuro na mão, mas jogava tudo pela janela.

Um dia Manuel encheu a cara de novo. Ia passando na porta de uma loja quando viu um homem e uma menina. Conversava com um grupo de pessoas. Tropicando muito e cambaleando, Manuel se intrometeu na conversa e perguntou ao homem: por favor, por acaso o senhor sabe se eu estou aqui mesmo? O homem se assusta com aquele aspecto amedrontador de bebum. Que pessoa mais estranha.

O moço tenta se safar de Manuel. Percebe que ele não vê coisa alguma e então sai com esta: não, o senhor está lá naquela esquina. Manuel pega a menina do homem e sai para o lugar indicado. O homem vira uma fera e grita: como é que você vai saindo assim com minha filha? Eu é que pergunto ao senhor, como é que saio com sua filha, se nem aqui eu estou? A menina sai correndo e volta para o pai. Manuel sai tropicando e vai embora. Por pouco não apanhou.


Autor: Henrique Araújo


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