OS MIJADORES



OS MIJADORES

Durante o mês inteiro Manuel bebeu. A família ficou num desespero total. Era o pai que tomava conta de tudo agora. Da fazenda, do gado, dos peões, da casa na cidade e do próprio Manuel. O homem só ficava são para pegar mais dinheiro no banco e encher a cara de novo. O pai procurou os melhores médicos, levou à associação dos alcoólicos anônimos e nada resolveu.

Um dia uma senhora falou de um velhinho que sabia fazer simpatia para alguém parar de beber. O velho, pai de Manuel, foi lá. O velhinho explicou a receita: tinha que pegar urina de sete bebês do sexo masculino e que urinava pela primeira vez, depois levasse na igreja para o padre benzer. Em seguida colocasse na pinga e desse para a pessoa beber durante sete manhãs.

Fácil, pensou o pai de Manuel, era só ir a uma maternidade. Havia tantos bebês lá.

O velho retornou e começou a coleta no outro dia, mas viu a dificuldade logo na primeira maternidade. É que os bebês urinavam assim que nasciam e por azar era quase todos do sexo feminino. O velho ficou vários dias numa maternidade. Era até vergonhoso para ele. Não tinha jeito para falar com as parturientes sobre aquilo, por outro lado como iria ficar ao lado de uma mulher que estava parindo? O marido dela iria consentir? O que ele iria fazer com a urina dos bebês, já que não podia falar aquilo a ninguém, pois a quebra do sigilo inviabilizaria a receita. Também ele ficando direto na maternidade, iria dar o que falar. Não tinha mulher, muito menos filha ali. Já sei - pensou o velho. Arrumou-se todo e saiu. Pegou a urina de sete negrões da cidade e fez exatamente como o curandeiro mandou.

No outro dia deu a Manuel para ele beber aquele conteúdo. Pra beber era com Manuel mesmo. Engoliu o copo de uma só vez. Foi o maior azar. Vomitou tudo imediatamente. Quase vomitou as tripas. Que troço horrível era aquilo? Parece que era urina. Tem nada não, filho, e um remédio para você largar de beber. O velho fê-lo tomar aquilo durante os sete dias combinados. Mas não resolveu nada. Manuel continuou bebendo e ficando cada vez pior.


Autor: Henrique Araújo


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