Poetas De Banheiros



Vocês já repararam nas coisas que escrevem nas portas e paredes dos banheiros de prédios públicos?

Normalmente o que se vê escrito ali, são coisas ridículas, sendo consideradas as coisas mais absurdamente primárias, que chegam até ser constrangedoras.

Sem falar que, o pré-requisito para ser um escritor de banheiro é odiar a língua culta.

Uma vez eu li um comentário de alguém, com um bom conhecimento da escrita numa porta de banheiro que, resolveu, sei lá por qual motivo, se arriscar a entrar nesse grupo fechado dos assassinos da língua e da inspiração, escrito num português perfeito.

Não deu outra, abaixo do seu comentário veio a condenação: "Naum ti méti boiola".

Eu nunca entendi porque boa parte dos escritos naquelas paredes são com pincel atômico marrom.

A impressão que eu tenho é que quase todo mundo que freqüenta banheiro público, tem sempre a mão um pincel atômico marrom.

Quase sempre é um comentário sobre a gostosa do setor de contabilidade, dizendo que a pobre coitada é uma ninfomaníaca de deixar ruborizada a mais antiga prostituta.

Coitada da moça. Tentando manter com a maior dignidade sua discrição, sua conduta ilibada e sua postura, mas lá, nas paredes daquele banheiro, a sua "biografia" sendo desnudada sem direitos autorais, e tão lasciva e distorcida, que nem o mais devasso dos tarados conseguiria descrever.

O problema maior é que todo mundo que freqüenta o banheiro, obrigatoriamente acaba lendo aquelas "informações" em primeira mão.

Eles lêem aquelas coisas escritas sobre as pessoas e passam a andar com aquele olhar e sorrisos de quem descobriram seu passado e seu mais obscuro segredo.

De vez em quando, digamos que só quando o dia nasce, eles não se seguram e acabam comentando com algumas pessoas (digamos toda a empresa menos a pessoa objeto do comentário) o que leram no banheiro.

O engraçado de tudo isso é que eu nunca compreendi porque o pessoal da limpeza limpa tudo no banheiro menos as coisas que estão escritas nas paredes. Ou, eles têm um pacto com aquela mídia alternativa, ou o estatuto do servidor não prevê limpeza de manifestações livres e sigilosas.

Eu proponho até, que seja instituído o dia da invasão aos banheiros do sexo oposto.

As pessoas tem o direito de saber o que os outros pensam delas e mais, se não estão sendo difamadas por essa mídia nefasta e diarréica que ataca a dignidade das pessoas, com sua tinta duvidosa.

Quanto aos administradores, ao invés de gastarem fortunas encomendando pesquisas, basta uma pequena visita aos banheiros do prédio onde atuam para saber como estão no conceito das pessoas e ler o que está escrito nas portas e paredes.

Se nada estiver escrito nelas, só há duas explicações: ou ele está muito bem ou seu pessoal da limpeza está ganhando uma função gratificada.

Sérgio Lisboa.


Autor: Sérgio Lisboa


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