Ética E Felicidade




Divina Eterna Vieira Marques

Mestra em filosofia/ética pelaPUC-Campinas.

Jornalista. Doutora emCiências Ambientais, pela UFG0.

A ética ocupa espaço em todas as áreas de atuação do homem. Discute-se a ética empresarial, a ética na política, a ética nas ciências, a ética na ecologia. Ser feliz, viver bem - esse é o objetivo final da construção de uma vida ética. Pelo menos segundo Aristóteles.

Parece simples. Mas não deve soar como um alívio a quem vê a ética como um código de normas a serem seguidas na comunidade e no Estado. A ética é também normativa. Tornou-se normativa a partir de Kant. Afinal, ninguém vive sozinho e a partir do momento em que esse outro também quer ser feliz, então a felicidade depende sim de normas para que o direito de todos seja respeitado.

O objetivo de nosso trabalho é retomar Aristóteles para conceituar a ética como foi tratada por ele e mostrar a partir de sua principal obra - Ética a Nicômacos - que para ser feliz é preciso viver eticamente. Por que Aristóteles? Porque ele é, indubitavelmente, a principal fonte. Foi ele quem teorizou a ética, transformando-a em ciência das coisas humanas, ou ciência da práxis.

Do grego ethike, a ética deriva do substantivo ethos, que significa costume, estilo de vida e ação. Segundo nos conta Solange Vergnières, no livro Ética e Política em Aristóteles, o Estagirita foi o primeiro filósofo a fazer do ethos um conceito filosófico integral, dando lugar a estudo específico, que ele chamou de pragmatéia da virtude ética. Mas, o ethos não foi inventado por Aristóteles, que o teria recolhido a partir de uma longa tradição, lhe oferecendo ainda, em numerosos textos, os diversos sentidos desta tradição. 1

Ética é uma nova expressão utilizada por Aristóteles para oferecer uma apresentação consistente das disposições da ação constitutivas para uma vida bem sucedida. Ou seja, para uma prática racional. É a ciência da prática, da conduta, a ciência que nos conduz ao bem viver, através do exercício das virtudes.

A pré-história da ética

Os principais sinais do ethos podem ser buscados na Grécia arcaica. A ética já estava presente nos poemas de Homero, Hesíodo, Tirteu e Sólon. Homero serviu de modelo a Aristóteles e outros gregos de sua época. Em toda a Gréciaclássica e helenística, a poesia homérica foi lida, decorada e tomada como padrão estético e ético 2. Werner Jaeger descreve bem a presença da ética já em Homero, não só no uso da areté para referir-se às qualidades morais ou espirituais, mas principalmente na caracterização dos seus personagens, nos seus hábitos e na convivência entre eles. Algumas das virtudes que Aristóteles irá relacionar na EN são exaltadas no herói principal da Odisséia que detém, acima da valentia, a prudência e a astúcia.

O amor próprio, a auto-estima, o culto ao corpo e à beleza, às virtudes - coisas que na época eram mais acessíveis à nobreza - significa naquele contexto dar o melhor de si mesmo. Traduz o heroísmo peculiar ao sentimento de vida dos gregos. Jaeger explica:

"Aspirar à beleza (que para os gregos significa ao mesmo tempo nobreza e eleição) e fazê-la sua é não perder nenhuma ocasião de conquistar o prêmio da mais alta aretè" 3 .

Hesíodo fala sobre a vida no campo, as relações de trabalho e a educação popular. A situação do campo naquela época foi passada à posteridade através das descrições de Hesíodo.

A areté hesiódica era a própria realidade do poeta e retratava o ethos profissional da classe rural a que se dirigia. Ele introduziu um novo conceito de educação, substituindo a formação da personalidade própria dos nobres por um novo conceito de educação popular. A principal obra de Hesíodo foi a Teogonia, que ele prefacia com princípios que bem podiam ser lembrados nos questionamentos éticos que fazemos hoje, especialmente quanto aos meios de comunicação:

"Na verdade, sabemos dizer mentiras que parecem verdades, mas também sabemos, se o quisermos, revelar a verdade" 4 .

Tirteu escreve elegias. Sua inspiração é a guerra. Antes de ser reacionário, Tirteu é considerado por Werner Jaeger como um revolucionário - por procurar estabelecer uma ética do Estado frente à ética dos nobres e ao propugnar a união, dentro do Estado, de todos os cidadãos considerados como guerreiros. A contribuição de Tirteu para a ética está no ethos educacional que ele imprime à sua obra. O heroísmo também permeia os versos de Tirteu. Mas, aqui o ideal homérico da areté transforma-se no heroísmo do amor à pátria: é desse espírito que ele quer impregnar a vida de todos os concidadãos. A idéia é criar um Estado de heróis. Morrer pela pátria é tornar-se herói - e a morte de um herói é bela.

Homero, Hesíodo e Tirteu viveram e exerceram influência sobre um tempo que pode ser chamado de "pré-história" da ética. De maneira geral, antes de Sócrates, entre os pensadores que de uma forma ou de outra influenciaram na formaçãodo ethos, não devemos deixar de relacionar Calino, Arquíloco, Alceu e Mimnermo. Eram de estirpe guerreira - para eles o Estado não era o fim último, como em Esparta e Atenas. Há ainda Sófocles, Ésquilo, Safo, Focílides, Teógnis e Píndaro e poderosas expressões como heráclito e Demócrito. Além da contribuição dos sofistas, através da crítica à moral tradicional.

Sólon é outra figura que não pode ser esquecida. Passou à história como legislador, mas também era poeta. Nele está o princípio da codificação do direito. Revogou as leis repressivas de Drácon e libertou os escravizados por Dívidas. Dividiu os cidadãos em quatro classes, segundo a renda, e reformou a oligarquia grega, permitindo que membros de todas as classes participassem da Assembléia e dos tribunais de justiça.

Acontribuição metodológica de Sócrates

A origem da ética, tal como a conhecemos hoje, devemos a Sócrates. O ensinamento ético contido nos socráticos passou à posteridade através dos primeiros diálogos de Platão. Os chamados diálogos socráticos de Platão, que têm como objetivo o tema eminentemente ético da virtude, são considerados com razão, mesmo levando em conta alguns fragmentos pré-socráticos de difícil interpretação, o capítulo inicial da história da ética no ocidente. 5

A principal característica da ética de Sócrates é a metodologia. Ou seja: é conduzida através de uma inquisição que avança por meio de perguntas e respostas. De quando em quando a discussão estaca diante das aporias - que Henrique Cláudio de Lima Vaz chama de encruzilhadas. A outra característica está nos temas que vão caracterizar a originalidade do filósofo: o homem interior (psyché), a verdadeira sabedoria (sophrosyne) e o tema da virtude (areté).

A verdadeira sabedoria ou o conhecimento de si mesmo é um pré-requisito para o bem da alma. Por isso, Sócrates dava início à sua inquisição ética pelo conhece-te a ti mesmo"- um exercício preliminar com o objetivo de deconstruir a falsa imagem que cada um elabora de si mesmo. Feito isso, evidencia-se a própria ignorância a respeito do que mais importa para a vida que é saber COMO DEVEMOS VIVER. É aí que tem lugar a busca da definição da virtude.

Passar a ter consciência da própria ignorância é elevar-se à condição de douto-ignorante, um tipo paradoxal de sabedoria que vai constituir o aprimoramento da ciência socrática, tornando possível o aprendizado da areté. Ou seja: da virtude ou da excelência. Adquirir a virtude através do uso da razão ou sua ensinabilidade era o tema central da discussão de Sócrates com os sofistas Protágoras e Menon. E será um dos pontos de partida da reflexão ética de Platão.

A doutrina de Sócrates - denominada virtude-ciência - foi recebida por Platão e criticada por Aristóteles. Chamada de intelectualismo moral de Sócrates, ficou conhecida pelas suas consequências aparentemente paradoxais eaté hoje gera polêmica. Segundo essa doutrina, o homem sábio é necessariamente bom e o homem malvado é necessariamente ignorante. Voluntariamente, o sábio nunca faz o mal. Somente o homem virtuoso é verdadeiramente feliz.

A crítica de Aristóteles ficou centrada na pura e simples identificação da virtude com o saber. Antes das conclusões é preciso considerar a natureza original do saber socrático e suas correspondências na linguagem ordinária da época. Foi Platão quem deu prosseguimento ao ensinamento ético de Sócrates - é graças a ele que conhecemos hoje a sua doutrina. O que não se sabe exatamente é onde parou Sócrates e onde começou Platão. E, principalmente, se a genialidade de Platão não teria elevado Sócrates a uma altura onde ele realmente não tenha chegado.

Em Platão, a ética é uma questão de ordem

Os temas éticos já eram dominantes nos primeiros diálogos de Platão e nos diálogos ditos da maturidade. A questão socrática COMO DEVEMOS VIVER?- estará sempre presente em seus escritos. O ponto central do pensamento ético de Platão é a idéia de ordem, em que se misturam significação ética e significação metafísica. Conhecer a ordem significa conhecer o bem e para conhecer o bem é preciso ter conhecimentodas realidades a serem ordenadas. A ordenação das partes será o bem. O mal será a multiplicidade desordenada.

Na ética platônica vão se reencontrar - agora dentro de uma vasta perspectiva de uma metafísica da ordem - as categorias do saber ético dos gregos que Sócrates reinterpretou: a sabedoria, a virtude, a lei, a justiça. E também aquelas propriamente socráticas: a alma, a virtude como ciência.

Os fundamentos ontológicos da ética de Platão podem ser buscados na discussão da justiça - que é, aliás, a virtude que mais se destaca na Ética nicomaquéica. Essa discussão foi conservada no diálogo República, que Platão escreveu entre 380 e 370 a.C. Lima Vaz considera que este pode ser o documento de fundação da ética ocidental e, em certo sentido, a carta dos grandes roteiros que o pensamento ético deverá seguir ao longo da história. 6

Além de dar na sua ética grande importância à justiça, Aristóteles tem com Platão mais uma identificação: a conceituação de felicidade como sendo a finalidade de uma vida moral ou ética. No Górgias e na República, Platão deixa bem claro que a vida moral é a única vida feliz.

Ética, a ciência da práxis

Vimos, então, que não foi Aristóteles quem criou a ética. Sua tarefa foi sistematizar, organizar conhecimentos e indagações a respeito do bem viver - esses conhecimentos vinham tomando forma através dos poetas. E as indagações já eram feitas por Sócrates e Platão.

Com Aristóteles, a ética, que era um adjetivo - se falava em vida ética, ações éticas, sentimentos éticos - foi substantivada. Virou uma ciência: a ciência da práxis. A partir de Aristóteles, pode-se dizer que nasceu um novo paradigma, um novo modelo de felicidade ou eudaimonia: a felicidade como corolário de uma vida ética. Felicidade não como um estado de espírito e sim como a plenitude, a realização do ser.

Mas, o que vem a ser a felicidade? A felicidade não é uma das virtudes que Aristóteles relaciona - as virtudes são meios. A felicidade é um fim, o bem que todo homem busca. A finalidade da vida. A ela, Aristóteles dedicou o primeiro e o último de dez livros que escreveu sobre ética, reunidos na Ética a Nicômacos. Neles, aprendemos que felicidade não é só o prazer - na medida certa, ele tornará algumas atividades perfeitas.

A felicidade não consiste em bens materiais, embora sejam indispensáveis como base para umavida feliz. Quanto às honrarias, não dependem apenas de nós,mas do discernimento de quem as concede. Há a teoria de Platão de que além desses muitos bens há um bem por si mesmo e que também é a causa de todos os outros bens. Ou seja: Deus ou o Demiurgo. No início da ética nicomaquéica, Aristóteles prefere examinar as coisas que são evidentes para nós. 7

Ora, o homem é um ser racional. Isto significa viver segundo uma sabedoria através da qualpossamos compreender as coisas, nos situarmos frente a elas e poder agir de forma justa. Ser racional significa viver segundo a razão. Dos estudos que fez e que culminaram com a sistematização da ética, Aristóteles nos ensina que não basta conhecer as virtudes.

Depois de saber - a sabedoria é uma virtude moral - é preciso estabelecer o justo meio, ou meio termo. Nem o excesso, nem a deficiência: é preciso encontrar o equilíbrio. Só o sábio é capaz de encontrar este equilíbrio. A sapiência é uma virtude intelectual. Conhecer e chegar à sapiência ainda não basta para ser feliz. Aristóteles deixa bem claro que não realizou seu trabalhosó para saber o que é a virtude em sua essência. E sim para praticar. Ou seja: é preciso praticar, ser bom e promover o bem.

As virtudes morais são um produto do hábito, da repetição de atos na relação com outras pessoas. É assim que nos tornamos bons ou não. Da natureza recebemos a potencialidade que mais tarde poderá tornar-se ou não uma atividade. Assim como a arte, a excelência moral ou a virtude, se adquire praticando. Essa repetição deve ser orientada através da educação, começando pela infância. Como dizia Platão, é preciso se habituar desde pequeno a gostar e desgostar das coisas certas.

Aarte, a ação, todos os propósitos, todas as indagações, visam a um bem. As finalidades é que vão diversificar: algumas são atividades, outras são produtos distintos dessas atividades. Por exemplo: a finalidade da medicina é a saúde. Em alguns casos, as próprias atividades serão as finalidades. Mas, existe uma finalidade que desejamos por ela mesma e tudo o mais será desejado por causa dela.

Tal finalidade deve ser o bem e o melhor dos bens. Devemos ser capazes de atingir o que nos é mais conveniente. Esse bem é o objeto da ciência mais imperativa e predominante sobre tudo: a ciência política. É nela, inclusive, que se determina quais são as demais ciências que devem ser estudadas em uma cidade; quem deve aprendê-las; e até que ponto. 8

Aristóteles começa e termina a Ética a Nicômacos com a política. Ao ponto de dizer no último parágrafo que os dez livros sobre ética foram uma introdução à política, provocando no leitor uma certa frustração por constatar que o assunto está apenas começando. E, ao mesmo tempo, criando uma expectativa grande em relação à política. Tanto espaço para a política se justifica pela importância e dimensão que tinha a pólis - o Estado grego, cujo objetivo era trabalhar para o bem estar do cidadão. Assim, a finalidade da cidade supera a do homem. Isto não o minimiza, uma vez que seu bem está contemplado no bem da cidade.

Como corolário da excelência, como exercício ou aprendizado, ainda assim a felicidade é algo divino e quem tiver potencialidade para a excelência poderá atingi-la com aprendizado e esforço. Nossa escolha diante do bem e do mal é que nos faz homens de um certo caráter. E isto deve ser feito segundo a razão. O objetivo da escolha e o objeto da deliberação são uma coisa só: aspiramos aos fins, deliberamos os meios. Para isso será preciso discernimento - que é uma virtude intelectual.

A justiça abarca toda a areté

Entre as virtudes éticas sobre as quais discorre, Aristóteles elege a justiça como a mais importante. Ele diz que a justiça não é uma parte da excelência moral, mas a excelência moral inteira. Também Platão já dizia que toda a areté está contida na justiça.

É nas leis que está o principal eixo da justiça de Aristóteles. Através delas, ele acredita que o indivíduo será levado a sair de seu egoísmo e viver conforme o que é subjetivamente bom. É através da justiça que se pratica efetivamente a excelência moral, pois as pessoas que possuem o sentimento da justiça podem praticá-la não somente em relação a si mesmas,como também em relação ao próximo. A justiça não é apenas o bem de um homem - é o bem dos outros.

No livro que trata da justiça, Aristóteles recupera os espaços que não dispensou ao outro ao discorrer sobre as demais virtudes na éticanicomaquéica. Não se pode deixar de considerar, no entanto, que dois livros foram dedicados à amizade - os livros VIII e IX - e falar em amizade significa obrigatoriamente falar de uma outra pessoa, da importância dela em nossa vida ou vice-versa. Por isso, não concordamos com Mário da Gama Kury, quando ele considera uma anomalia Aristóteles ter dedicado dois livros à amizade. 9

Mas nossas atividades, nosso agir, não dependem apenas dos nossos hábitos e da educação a que temos acesso. Nem são todas reguladas por lei. Existe um outro fator a ser considerado, que é o caráter ou a disposição moral. Três disposições morais devem ser evitadas: a deficiência moral, a incontinência e a bestialidade. O contrário delas é a excelência moral, a continência e o estado de divindade. A impetuosidade e a indolência são duas espécies de incontinência.

Aristóteles considera também a existência das vicissitudes, e admite que grandes e freqüentes reveses aniquilam e frustram a felicidade, seja pelo sofrimento que causam ou por se constituirem em óbice a muitas atividades. Mas, quando existe nobreza e grandeza da alma no trato das situações difíceis, a adversidade pode vir a resplandecer. Além do mais, o filósofo diz que nenhuma pessoa supinamente feliz poderá tornar-se desgraçada; ela nunca praticará ações odiosas ou ignóbeis, pois sustentamos que as pessoas realmente boas e sábias suportarão dignamente todos os tipos de vicissitudes e sempre agirão da maneira mais nobilitante possível diante das circunstâncias.

Ou seja: os infortúnios nem sempre podem ser evitados. Sucedem aos homens de maneira geral. Mas, os sábios, por serem sábios, os enfrentarão de maneira diferente - e até nisso pode-se dizer que são mais felizes.

Mas, enfim, como devemos viver? A primeira indicação é que devemos viver de acordo com as virtudes, de preferência a melhor delas. Para alguns, a melhor é a justiça. Para outros, a prudência. Em relação à maioria das virtudes é importante observar o meio termo, que deve ser encontrado em cada uma delas. Esse equilíbrio em relação às virtudes morais pressupõe uma virtude dianoética ou virtude intelectual: a sapiência, a capacidade de distinguir entre um lado e outro, entre o exagero e a deficiência.

É o intelecto que nos vaiguiar na busca do equilíbrio. Giovanni Reale nos diz que é na contemplação intelectiva que o homem alcança o vértice das suas possibilidades e atualiza o que há de mais elevado nele. A felicidade da vida contemplativa nos leva para além do humano, realizando uma tangência com a divindade, cuja vida só pode ser contemplativa.10

Então, se o homem viver de acordo apenas com as virtudes morais terá uma felicidade secundária, humana. Devemos agir como se fôssemos imortais e nos esforçar ao máximo para viver de acordo com o que há de melhor em nós. Ou seja: o intelecto. A felicidade deve ser alguma forma de contemplação. E o que vem a ser a vida contemplativa? Reale deixa essa questão bem clara, mostrando que viver a nossa parte divina, como prega Aristóteles, significa a contemplação do próprio Deus, que é a suprema racionalidade. Vejamos:

" Mas em Aristóteles há, ademais, a tematização da tangência da vida contemplativa com a vida de Deus, que faltava em Platão, a quem faltava, como vimos, o conceito de Deus como Mente absoluta e pensamento do pensamento. Assim, o preceito platônico de que o homem deve, quanto possível, assimilar-se a Deus significa contemplar o verdadeiro tal como Deus o contempla, ou, como explicita a Ética Eudêmica, contemplar o próprio Deus, que é a suprema racionalidade" 11 .

Em suma: é preciso conhecer-se, conhecer as virtudes, praticá-las. A sapiência nos dará o justo termo ou o equilíbrio. Via razão, chegamos, assim, à contemplação, à racionalidade. Já não somos apenas homens. E vivendo segundo a divindade que há em nós, a prática do bem será tão normal quanto respirar.


BIBLIOGRAFIA

ARISTÓTELES. Ética a Nicômacos. Trad. Mário da Gama Kury. 3º Ed., Brasília: Editora Universidade de Brasília, l985, 1999.

Dicionário Enciclopédico TUDO. Abril Cultural. São Paulo, l977.

JAEGER, Werner. A formação do homem grego. Trad.: Artur M. Parreira. 2º.,São Paulo: Martins Fontes, l989.

REALE, Giovanni. História da Filosofia Antiga.Vol. II - Platão e Aristóteles - Trad.: Henrique Cláudio de Lima Vaz/Marcelo Perine. São Paulo: Loyola, 1994.

VERGNIÈRES, Solange. Ética e Política em Aristóteles. Trad.: Constança Marcondes César. São Paulo: Paulus, 1998.




Autor: Divina Eterna Vieira Marques


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