Máquinas do tempo e sonhos existem



Edson Silva

Acredito que muitos se lembrem de filmes e séries com histórias sobre inventores geniais e meio malucos também que desenvolvem máquinas que permitem viajar pelo tempo, percorrendo o passado ou futuro. Normalmente são grandes engenhocas, cápsulas ou túneis capazes de abrigar várias pessoas, tudo muito iluminado por raios e faíscas, recheadas de explosões fantásticas. O que eu não podia imaginar é que máquinas do tempo e de sonhos existem sim e são muito diferentes das que vínhamos na ficção das telas dos cinemas e TVs.

Elas são pequenas, individuais, tem preços acessíveis e podem ser usadas a qualquer hora ou em qualquer lugar. Achando maluquice ou literalmente "viagem"? Explico, viajamos no tempo quando dotamos um simples aparelho de telefone celular com coleções de músicas em MP3. No meu caso, o gosto é pelos bons tempos da Música Popular Brasileira (MPB) e alguns bons talentos que estão surgindo, mas é pouco reconhecido pela mídia, que prefere massificar bondes, "batidões", pagodes e sertanejo, segmentos que também tem seu público, que merece respeito pelo direito de escolha.

Mas, na minha máquina particular do tempo, a escolha aleatória das músicas, por exemplo, me transportou em segundos para os tempos do colégio Ateneu, em 78, a trilha sonora era Milton Nascimento cantando "Promessas de Sol". Até parece que ouvi a Érica dizer que minha voz ficava ainda mais grossa ao cantar a citada música à capela. E vieram ao pensamento tantos amigos, Isabel, Gisele, Rachel espanhola, Fátima, Isaias, Erval, Álex chileno, Young, Jai, Asshi, Helenice, o Paulinho, sendo que este último sempre encontro nos jogos do Guarani.

Dinâmica, a máquina portátil e particular do tempo surpreende com a linda voz de Elis Regina ao pé dos nossos ouvidos; o Vandré argumentando contra uma multidão que apoiava "vaiando" seus concorrentes e o júri, que não fez vencedora a magnífica "Prá não dizer que não falei de flores". Ao público impaciente, Vandré diz que Jobim (Antonio Carlos) e Chico Buarque de Hollanda mereciam respeito. Os compositores "venceram" o festival com Sabiá, já que os jurados tinham sido orientados a não premiar música que fizesse propaganda da guerrilha, resultado: a perdedora "Caminhando" de Vandré virou então hino da liberdade, da esquerda.

Ainda estava no festival do agitado ano de 68, quando a máquina do tempo me transporta para 82, o primeiro ano de faculdade, na Puc-Campinas. Os irmãos gaúchos Kleiton e Kledir alertam que "Deu prá ti, baixo astral, vou prá Porto Alegre, tchau..." E as lembranças se misturam mais, a abominável tentativa de colocar bombas num show recheado de artistas e de público. Os amigos de "Facul": Toninho, Célia, Elô, Eliane, Sandrini, Cidinha, os "Edisons" (Luis e Geraldo), o Teixeira, João, Miguel, Bocatto, Mosca e tantos outros que a vida coloca na "Lista" dos que há muito tempo não vemos, como diz o Oswaldo Montenegro. MPB me faz viajar no tempo e prevalecem boas lembranças, quanto a nostalgia deixe-a para pagodeiros e ouvintes de sertanejo.

Edson Silva, 48 anos, jornalista, nasceu em Campinas e trabalha como assessor de imprensa em Sumaré.

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Autor: Edson Terto Da Silva


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