Beleza



A beleza está embutida em um olhar, em uma roupa, em um ato ou em um sentimento. Todavia, como explicar, conceituar, definir este substantivo tão almejado? A beleza busca uma identidade que só pode ser definida e encontrada no corpo. O corpo constrói e expõe códigos e símbolos culturais através das formas de ornamentar este corpo. De acordo com Maffesoli (apud Villaça, 1998), as formas e as imagens participam da formação de um corpo social tribal. É neste corpo social que a beleza se abriga e se edifica.
O conceito de corpo remete à questão da natureza e da cultura. O corpo enquanto orgânico e natural sofre constante e ininterruptamente intervenções culturais. Pode-se pensar em uma pluralidade de corpos ou em apenas um. O corpo biológico, subjetivo, o corpo como um abrigo de sensações, como um lugar de construção cultural ou como um só corpo que sustenta todos esses corpos. Interpretar como corpo ou como corpos demonstra que este é construído de maneiras diferentes no decorrer da história e é também um corpo material e permanente.
Intervir no corpo é uma atitude cultural que possibilita a transformação material e nos ciclos naturais deste. Em função de valores e verdades efêmeras, uma reprogramação corporal é sempre possível. O corpo feminino vivencia invasões desde a mudança na cor dos cabelos até a contracepção, o parto cirúrgico e a reposição hormonal. O desenvolvimento científico e tecnológico permite significativas intervenções que objetivam tornar o corpo mais jovem e bonito.
Técnicas que privilegiam o anti-peso e o antienvelhecimento remodelam diferentemente a aparência dos sexos. No instante em que as velhas ideologias domésticas, sexuais e religiosas diminuem sua influência sobre as mulheres, a imposição da beleza as prende novamente na função de subordinadas e rebaixadas no contexto social.
No Ocidente globalizado, o progresso dos métodos contraceptivos e a entrada da mulher no mercado profissional reformularam as condições estéticas do então sexo frágil. Não é mais por intermédio da função materna que se constrói a identidade feminina. Com a competência, a mulher conseguiu se inserir em um meio masculino e delimitar seu espaço. Porém, para aderir ao mundo empresarial, muitas mulheres neutralizaram sua aparência e abriram mão dos símbolos que indicam a sensualidade feminina.
Nos últimos trinta anos, a valorização da beleza masculina tornou-se maior, mas não o suficiente para igualar os papéis estéticos com o sexo feminino. As criticas que homens se fazem geralmente não passam de calvície, rugas ou excesso de peso. Enquanto as mulheres atentam para as mínimas imperfeições de seu corpo. A promoção da beleza masculina não aliviou em nada a desigualdade homem/mulher no império estético.
A auto-vigilância, a auto-conservação e a maximização da aparência recusam a fatalidade do tempo e dos desfavores físicos. Não há espaço para o conformismo. A superexposição de corpos magros e esbeltos formula mecanismos de homogeneização da aparência. Quanto maior a exibição de padrões de beleza, maior a autogestão e a disseminação de dietas, produtos cosméticos, exercícios emagrecedores, cirurgias plásticas, e outros.
Quando uma das metas estéticas não é bem sucedida, há autopunição que acarreta em alterações na saúde física e psicológica. Patologias e distúrbios emocionais surgem, desmoralização, culpa, vergonha e desgosto atormentam o bem-estar do individuo e o rebaixam diante de si e o desviam da combatividade social.
A beleza é recriada de acordo com a moda. Os conceitos de belo e feio se fazem a cada estação. A moda estampa o ser/parecer através de tendências que articulam a ligação entre o corpo e o ambiente em que este corpo está imerso.


Autor: Vanessa Santiago Ximenes


Artigos Relacionados


Corpos

A Beleza De Uma Mulher

Emagrecer A Todo O Custo?

Cicatriz

Corpo Violentado

Cimento E Cola

Corpo E Embelezamento: Um Estudo Com Criança Participante De Concurso De Beleza