Verdade Científica



"O que é a verdade?"
A essa pergunta de Pilatos, Jesus teria dado o silêncio como resposta. O silêncio do Mestre, provavelmente, não se deve ao fato de não saber a resposta, mas à constatação e afirmação de sua transitoriedade.
O silencio a respeito de "o que é a verdade?" poderia ser respondido com a interpretação do sentido da pergunta. O que É a verdade? Não manifesta preocupação com suas características, mas com sua essência. Pilatos queria não uma descrição ou enumeração das características da verdade, mas a delimitação de sua essência. Essa essência, do ponto de vista bíblico religioso, é o próprio Deus, mas a pergunta de Pilatos é filosófica, pois busca o ser.
Além disso, em outra passagem Jesus teria dito ser Ele a verdade ("Eu sou o caminho, a verdade e a vida"). E àqueles que o procuravam, em busca de rumo para suas vidas propõe seu seguimento: "conhecereis a Verdade e a Verdade vos libertará".
Sendo assim, se nos pautássemos apenas pelo discurso bíblico-religioso seriamos levados à conclusão de que a verdade se identifica com a pessoa de Jesus: "eu sou a verdade". Mostra, ainda, que na verdade existe uma dimensão libertadora e um sentido de condução: caminho.
Em síntese e para resumir a discussão a respeito da verdade religiosa teríamos a afirmação de que ela se identifica com os dogmas. A verdade religiosa possui seus atributos (liberta, conduz...), e isso porque está pronta, em sua essencialidade divina. E, sendo assim, o discurso religioso se apropria da verdade e a apresenta de forma imutável e perene: Deus. E assim a religião se basta
Ao contrário da religião, filosofia navega sem amarras por estas águas. A busca pela verdade é a grande questão ou a grande discussão do conhecimento. Ao contrário da religião a filosofia não se apropria, mas se mantém em atitude de busca pela verdade. O processo do conhecimento é o processo de busca pela verdade. O filósofo, por vocação e por exigência de seu trabalho, se posiciona, caminha e procura a verdade. E quando a encontra sabe que não se apropriou dela, pois ela o ultrapassa, vai além... Sente-se feliz quando a vislumbra, mas permanece mais feliz ainda por saber que essa foi apenas uma pálida manifestação. Sabe que não a alcançou em plenitude e por isso, novamente se põe a caminho, como o menino buscando o pote de ouro no fim do arco íris... e constata que é necessário dar sempre um passo a mais.
Para a filosofia, a verdade, no processo do conhecimento, não é um ponto de chegada, mas uma motivação para a busca. E, numa perspectiva dialética, o filósofo sabe que cada ponto de chegada é um ponto de partida. Como cantou Maria Rita em "Encontroes e Despedidas", composição de Milton Nascimento: "E assim, chegar e partir / São só dois lados da mesma viagem /O trem que chega é o mesmo trem da partida"
Triste sina é a da ciência. Como a filosofia, a ciência busca a verdade. Sonha encontrá-la com a finalidade de demonstrar suas características. E, neste ponto se diferencia da filosofia, pois pretende, não só demonstrá-la, como se apropriar da resposta com finalidade utilitária.
A ciência alimenta-se com a esperança de atingir a verdade. Com essa ótica o pesquisador orienta sua pesquisa: projetos, métodos, hipóteses e controle de eficiência. Com isso se lança na busca de comprovação. Qual não é sua felicidade ao constatar e comprovar a veracidade de sua hipótese. E a verdade científica se instala.
Instalada a verdade científica não são poucos os que se escoram em sua afirmação sem se dar conta da fragilidade desse suporte. Tão logo outro pesquisador se dê o trabalho de refazer o processo, a verdade inicial é posta em cheque. Novas pesquisas, novas descobertas... e o que sobrou da verdade?
Kepler, Galileu, entre outros causaram alvoroço quando destronaram a religião, afirmando o sol como centro do cosmo. Demonstraram que o a terra "navega" ao redor do sol e não o contrário. Mas estavam apenas parcialmente corretos, pois o sol é apenas mais um astro no cosmo, também se movendo ? ou sendo movido ? por uma força universal. E, de acordo com Einstein, num grande movimento cósmico. Verdades que se impuseram, mas que foram superadas.
Foi um tremendo avanço Louis Pasteur anunciar a possibilidade de matar bactérias com o processo de pasteurização. Super aquecimento e rápido resfriamento. Ou, na medicina, o processo de esterilização. Cem graus seria o ponto definitivo para eliminar as bactérias.
Esta é ? ou era ? uma verdade científica: A alta temperatura (cem graus) elimina bactérias. Mas, triste sina a da ciência: aqui, mais uma vez seus resultados foram postos em cheque. Pesquisadores demonstraram, nos últimos anos, que nas proximidades de vulcões existem bactérias que se "divertem" em temperaturas acima de cem graus. E isso derruba a tese científica de que os cem graus eliminam as bactérias.
E assim novamente se nos apresenta a questão: o que é a verdade?
Neri de Paula Carneiro ? Mestre em Educação, Filósofo, Teólogo, Historiador.
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Autor: Neri P. Carneiro


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