O dia em que o Dr. Astúrio desistiu - nona história



Várias vezes disse à minha mãe, brincando, que não precisava tantos filhos, e apesar de ser a décima sempre opinei que apenas cinco bastavam, já era uma família bastante grande, mas, como disse sou a caçula de dez. E ainda quando moravam em Ponta Porã, tiveram oito dos dez filhos. E em caso de doença na família quem atendia as crianças era o Dr. Astúrio. Ele era ou é ainda, um médico muito requisitado e tinha uma clínica na cidade, e não sei se por ser realmente era uma ótima pessoa ou se porque era primo em 2º grau do meu pai, sempre atendeu a minha família, que não tinha condições de arcar com consultas e remédios. Atendia muito bem, inclusive nas emergências em qualquer hora do dia.
Em uma época que não tinha vacinas houve um surto de sarampo na cidade. Minha mãe estava com um dos meninos internado por conta do sarampo e precisou acompanhá-lo no hospital em companhia do filho caçula de poucos meses que ainda dependia do peito. Com mais seis filhos em casa, os mais velhos, que já estavam imunizados, pois já tinham tido a doença, ajudavam a cuidar dos mais novos.
Meu pai visitou minha mãe e os filhos no Hospital, e claro ela quis saber como estavam os filhos em casa, e ele disse que a menina, no caso a Marly de uns três anos, não estava muito bem. Ela pediu que a trouxesse ao hospital para que passasse por consulta e se necessário internasse também. Mas meu pai, achando que estaria sobrecarregando trazendo mais uma criança, não obedeceu. Quando foi dado alta e permitido que fossem pra casa, minha mãe encontrou a Marly com a doença já em estágio avançado e atacou a garganta, totalmente sem forças pra comer e sem forças nem pra falar, sem reação mesmo. Minha mãe ficou muito chateada, e ainda cansada dos dias no hospital pegou a criança e sem demora a levou ao consultório do Dr. Astúrio. Mas como disse era uma epidemia, o consultório estava lotado de crianças com os mesmos sintomas, e não sei se por cansaço de tanto trabalho atendeu a criança mais ou menos e deu como caso perdido, desenganado mandou levar de volta para casa pra morrer.
Mas, ao contrário do médico, minha mãe nunca foi de desistir. Saiu do consultório meio sem rumo e já buscava a direção de casa quando passou por uma farmácia, entrou e pediu auxílio. Quem tocava a farmácia era um senhor que já tinha sido médico em outra cidade, mas tinha largado a profissão depois de ter perdido um paciente. E o Dr. Aristeu a ajudou. Consultou, diagnosticou, medicou, aplicou o remédio e não cobrou um tostão pela consulta ou pelos remédios. E a criança que o Dr. Astúrio condenou não só sobreviveu graças à determinação da minha mãe e a bondade do Dr. Aristeu, como hoje tem dois filhos moços e um casal de netos. E pelo que me lembre, também nunca foi de desistir.
Autor: Márcia Ferreira Marques


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