NUVENS NORDESTINAS



NUVENS NORDESTINAS
Nazaré, 18-08-1968

Hoje é uma linda noite. Um foguete pipocou no ar.
O céu cheio de nuvens semelhantes a ilhas.
Parece um mapa.
A lua se esconde e tudo escurece,
As nuvens se assemelham
Às terras secas e quebradas
Dos pobres sertões nordestinos.
Agora elas se separam
Cada vez mais... e mais.
Vão se desintegrando,
Deixando o domínio para a lua.
Neste momento, o céu é uma paisagem.
A lua clareia o infinito
Que se torna azul escuro,
Azul puro dos oceanos.
O azul do céu que é um oceano,
Vão invadindo as nuvens que são as ilhas.
O bravo e pacifico oceano
Vão destruindo as ilhas que também são resistentes,
Bravas, fortes e pacíficas.
Agora, o oceano afundou algumas ilhas.
As que restaram se uniram
Formando uma grande ilha,
Com a forma de uma baleia.
E a baleia era viva.
E por ser viva, espirrou seu jato d?água
E molhou a terra.
Era chuva para os nordestinos
E eu acompanhei tudo
Do meu posto de observação.




















MINHA ESTRADA
Nazaré, 26-08-1968

Minha estrada é íngreme.
Todo lugar que eu passo
Vejo um rastro de sangue.
Há sangue em meu caminho.
Sangue de todas as cores:
Sangue cor de carne,
Carne cor de sangue.
Minha estrada é intransitável,
É intrafegável,
É intraduzível,
É intransponível.
É um caminho inexistente,
Irresistível e irregular,
Alegremente triste,
Enormemente pequeno,
Largamente estreito.

Só eu é quem não ultrapasso,
Mas um dia me esforçarei.
Um dia hei de conseguir.
Lutarei até o fim
Por tudo que não fizeram por mim.
O dia há de chegar.
Este dia chegará.
Sim. Há de chegar.

Talvez, quando a estrada chegar,
Outra já busquei pela frente
E segui a que se me entregou primeiro.
Nunca voltarei atrás,
Este não é meu desejo
Esta não é minha vontade.


Já tirei água no deserto
Já tirei areia da rocha
Já tirei pedras na praia
No deserto, passei pelo oásis,
Na rocha passei pela fonte,
Na praia passei na maré baixa.

Tudo é possível
Já vi enterrarem um homem vivo,
Tudo é possível
Até já encontrei minha estrada.


Autor: Gilberto Nogueira De Oliveira


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