O PAI PERDIDO



O PAI PERDIDO

Quatro e meia da manhã, João Severo, agricultor, homem humilde e simples, viúvo há um ano, acordou mais uma vez sob fortes gritos do pequeno Carlos Severo, seu filho de apenas doze anos de idade, acometido de um terrível tumor cerebral, este já tem comprometido boa parte do lado direito. Sem muito questionar o filho, João o põe em seu carro, uma velha caminhonete, sacrifício de anos de economia, que servia apenas para o transporte de capim e leite em sua pequena propriedade arrendada.
João tinha acabado de perder a mulher de forma trágica e o que lhe restou da família foi um único filho que ele muito amava. João era um auto-didático, aprendeu dirigir sozinho, nunca foi a uma autoescola, nem parar tirar a habilitação, também não podia, era analfabeto. Porcausa disso restringia-se a dirigir no pequeno sítio em que morava.
Com o filho em grito, João levou seu filho ao hospital, viagem que levou em média sete horas. Fosse um carro novo teria levado a metade.
O garoto ficou internado, João voltava para casa triste, porém para completar sua infelicidade ele foi parado em uma blitz, apenas uma viatura da polícia militar. João explicou a situação e não teve êxito. Teve a velha caminhonete apreendida e tomou uma multa por não ter a habilitação. João severo voltou a pé para casa, já que não tinha levado dinheiro e pago propina aos policiais que o tinha parado para liberar seu carro.
Com o filho internado, sem dinheiro para pagar a multa e retirar a caminhonete. João entrou em depressão. Era um ano muito difícil, a seca castigava, havia morrido algumas de poucas cabeças de gado que tinha. João Severo não tinha dinheiro nem para ir ao hospital visitar seu único filho.
João entrou em falência, vendeu tudo do pouco que ainda lhe restava. Caiu em desgraça. Sumiu das redondezas. Foi para outra cidade tentar a sorte, não obteve êxito. Caiu na bebedeira.
Em um determinado dia, em um bar, alguém estava se despedindo de uma outra pessoa, pois estava indo para uma outra cidade, então João lembrou de seu filho que tinha deixado internado, a mesma cidade da qual estavam falando. João pegou uma carona.
Lá chegando soube que seu filho tinha sido adotado por um casal que o tinha levado.
-Mas é meu filho ? Disse João Severo.
--O senhor o deixou aqui já fazia muitos anos. Nós não sabemos para onde foi. ? Disse a enfermeira. ? Ele não tinha noção que já fazia tanto tempo.
--Como ele estava quando saiu daqui? ? Quis saber João.
--Bem, nós não temos muitos recursos... fizemos o que podemos... é uma cidade pequena e esse tipo de tratamento é muito difícil...
-- Um dia eu encontrarei meu filho! ? Disse João e saiu tristemente.
João Severo chorou copiosamente noite e dia. Sentindo-se traidor de seu próprio filho, João levantou cedo do banco da praça em que dormia, mexeu em vários papéis que guardava em sua mochila e viu a recibo da multa que tinha sofrido, mas sempre guardou, pensando em um dia que pudesse pagar. Dessa vez João olhou diferente para a multa e lembrou que foi a partir dela que tudo começou a ruir em sua vida. --Vou lutar, vou procurar meu filho! Disse João consigo mesmo. -- tomou um banho no chafariz da praça, já havia alguns dias que não sabia o que era isso, penteou-se, vestiu sua melhor roupa e foi até o fórum. Explicou a situação a um defensor público que escutou e o orientou com o processo.
-- Senhor, gostaria de dizer que vai demorar um pouco a primeira audiência. ?Disse o defensor.
-- Por quê? ? Quis saber João.
-- Estamos sem Juiz. O juiz daqui foi transferido. Estamos esperando um novo.
-- Eu espero por esse novo juiz. Preciso recomeçar minha vida e encontrar meu filho. É tudo que eu quero. -- Disse João
-- Senhor Severo só preciso de seu endereço para completar a ficha do processo. ? Falou o defensor.
-- Desculpe, moço, mas não tenho endereço... Hoje moro na praça.
-- O senhor ainda sabe capinar? ? Perguntou o defensor.
-- Sim, claro. Passei minha vida fazendo isso.
-- Então o senhor já tem um endereço. O endereço do meu sítio. Estou precisando de uma pessoa para cortar o capim que está muito alto. O senhor me aguarde que vou levá-lo lá. ? Disse o defensor público.
João severo ficou muito feliz. O defensor o levou até o sítio.
--Seu João, o senhor vai ficar aqui neste sítio até que tudo se resolva.
Após longos e longos dias, João foi ao fórum para sua primeira audiência.
Ao entrar na sala do juiz, João não entendeu o que está acontecendo, o juiz estava lendo o processo e chorando.
-- Senhor, o que está acontecendo? ? Perguntou João perturbado.
O juiz, ainda chorando, levantou-se e abraçou João e disse: Pai... Sou eu seu filho Carlos. O que o senhor estava procurando acaba de encontrar. Deus me curou, pai, daquela doença, hoje sou um cristão.
Consegui porque Deus me deu a vitória e será feita justiça a ti, meu pai.


Autor: Joerlândio Da Silva Cordeiro


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