Inteligência Emocional



Robson Stigar

Durante muito tempo nossa cultura, fortemente centrada no conceito de racionalidade, reservou um lugar secundário para a emoção. Era como se esta fosse uma espécie de prima pobre da inteligência. Usando uma metáfora poderíamos dizer que, enquanto a inteligência podia freqüentar a sala de visitas, a Emoção tinha de comer na cozinha.

Em muitos ambientes, especialmente naqueles voltados a atividades profissionais, a tendência a emocionar-se é considerada uma fraqueza. Isso é um erro, uma vez que a emoção está profundamente relacionada à motivação – fator indispensável ao comprometimento com a organização e à produtividade no trabalho.

Felizmente, este final de século veio trazer várias mudanças positivas, principalmente uma tendência de se colocar a tecnologia em seu devido lugar, ou seja, a serviço do homem. Nesse contexto, alguns valores ganharam maior importância, especialmente aqueles que permitem diferenciar os seres humanos de suas criações tecnológicas. E valorizar as emoções é enaltecer uma característica do que é vivo, sente e pensa – ou seja, de todos nós.

Descobriu-se que a capacidade de lidar com as emoções é mais importante para o sucesso na vida do que o Quocientede Inteligência (QI). Tal descoberta foi popularizada através do livro de Daniel Goleman, "Inteligência Emocional", o qual simbolizou o retorno da Emoção à sala de visitas da sociedade, nos termos da metáfora anteriormente utilizada. Diante de tais informações, cabe perguntar: se, é tão importante saber lidar com as emoções, como fazer para desenvolver essa capacidade?

As referências sobre o assunto dão grande ênfase à importância de se adquirir inteligência emocional durante a infância. Uma delas, muito interessante, procura ensinar-nos estratégias de preparação emocional, como parte da educação de desenvolvimento nossos filhos. Ocorre que pode ser extremamente difícil transmitir inteligência emocional quando não a possuímos! Como resolver esse problema? Se não for possível desenvolver a inteligência emocional de um adulto, dificilmente haverá alguém que possa preparar emocionalmente as crianças.

A partir da idéia de Inteligência Emocional, é possível trilhar um caminho para a Aprendizagem Emocional. Essa expressão foi considerada mais adequada do que "Inteligência Emocional", pois o conceito de inteligência refere-se primordialmente a recursos disponíveis na consciência, enquanto o aprendizado a que nos referimos ocorre, principalmente, a nível não consciente.

No livro de John Gottman e Joan De Claire, "Inteligência Emocional e a Arte de Educar Nossos Filhos", os autores exemplificam uma reação errada dos pais, quando uma criança se perde em uma loja de departamentos. Ao reencontrar a criança, a mãe reage dizendo: "Seu cretino! Estou danada com você, nunca mais te trago ao shopping". Para muitos leitores, ficará perfeitamente claro que a reação da mãe foi totalmente inadequada. No entanto, muitas pessoas poderiam reagir assim, simplesmente por ficarem impossibilitada de reagir de outra forma. Não basta estar consciente da reação ideal, da atitude correta a ser tomada. É necessário, acima de tudo, que a pessoa seja capaz de se comportar da maneira adequada. E, conforme explica Daniel Goleman em "Inteligência Emocional", a parte mais primitiva do cérebro dispara comportamentos instintivos antes que a consciência possa avaliar a situação e escolher a forma mais conveniente para se agir em cada contexto.

Assim sendo, faz-se necessário que o aprendizado emocional ocorra também a nível não consciente, para que possam ser alterados os estados emocionais de um indivíduo.A abertura das escolas para o conceito de inteligência emocional e suasimplicações está revolucionando os meios sociais e prepara uma fase da humanidade fundamentada na ajuda mútua e na indissociável relação entre viver e aprender.

O uso de técnicas para despertar a inteligência emocional em nossas escolas tem conseqüências inevitavelmente revolucionárias. A sala de aula é um laboratório em que se criam os padrões de comportamento da sociedade: ali estão as relações de amor e competição, os sentimentos de confiança e medo, o ânimo e auto-estima que marcam a formação das pessoas. O desenvolvimento e o uso da inteligência emocional nas escolas põe em ação o potencial ilimitado de autoconhecimento e de aprendizado do ser humano.

Ao mesmo tempo, é abandonada a velha prioridade de depositar unilateralmente determinados conhecimentos na memória do aluno.

Segundo o antigo esquema "bancário" de ensino, o aluno tem de memorizar nomes geográficos, datas históricas, regras gramaticais e fórmulas matemáticas. Este tipo de ensino está ultrapassado. Não serve mais, porque trabalha apenas com um aspecto do cérebro humano, ignorando a criatividade, a intuição, as emoções, os ritmos e a motivação própria do aluno, numa fase da sua vida em que estes aspectos são mais importantes do que nunca.

A pedagogia que nasce hoje conhece o efeito decisivo das emoções na vida das pessoas, e especialmente a dos jovens. Não se considera mais que o conhecimento está todo armazenado na cabeça do professor, e que ele faz uma espécie de transferência bancária gradual para a cabeça dos alunos. Percebe-se que a criança está no centro do processo de aprendizagem, e não na sua periferia, e que ela própria deve regular o processo. A nova tendência pedagógica, inaugurada de certo modo por Paulo Freire ainda nos anos 60, recolocao aluno na posição de gerente executivo do aprendizado.

Com o uso de computadores em sala de aula, surge um ponto de apoio tecnológico importante para a crescente independência intelectual do aluno. É mais uma oportunidade para que a criança e o jovem aprendam a movimentar-se por si mesmos, assumindo o papel central em seu próprio crescimento emocional e intelectual. O papel da tecnologia, no entanto, é secundário. O principal é que, quando o professor permite que a criança assuma o centro do processo de aprendizagem, surgem novas relações humanas e o aluna passa, gradualmente, a comportar-se como um ser humano integrado. Suas emoções já não dificultam, mas favorecem o processo. Suas diversas inteligências e aptidões são mobilizadas de modo eficaz e coerente para alcançar a meta da aprendizagem.

Na Aprendizagem Emocional, não descartamos a idéia de que um procedimento executado uma única vez possa produzir resultados permanentes. Todavia, entendemos que um processo contínuo é o meio mais adequado para lidar com a complexidade dinâmica do ser humano. Além disso, a utilização de técnicas de mudança rápida deve garantir que os resultados almejados sejam alcançados dentro de um período de tempo razoável, medido em semanas ou meses e não em muitos anos.

A aprendizagem Emocional utiliza formatos já testados em outras disciplinas. As nossas vidas reflexiva e emocional podem coexistir em equilíbrio se desenvolvemos capacidades, hábitos e estratégias que permitam a nossa auto-regulação. A nossa vida e a dos outros podem também coexistir em equilíbrio se cada um desenvolver a sua auto-regulação e outras capacidades, hábitos e estratégias relacionados com a vida social.

Todo este desenvolvimento – da Inteligência Emocional, diríamos – baseia-se em compreender a natureza humana, reconhecê-la em nós, depois nos outros, para melhor gerirmos os nossos pensamentos e emoções. Melhorariam as relações sociais, assim como, o nosso desempenho nas tarefas do dia-a-dia, como seja, na aprendizagem. Em última instância, a aprendizagem emocional trata da capacidade de identificar, selecionar, transformar e utilizar as emoções.

Bibliografia

Goleman, D. (2001). Inteligência Emocional (10ª ed.). Lisboa: Temas e Debates, Atividades Editoriais, Ltda.

Gottman, John, com DeClaire, Joan, Inteligência Emocional e a Arte de Educar NossosFilhos. Editora Objetiva, Rio de Janeiro, 231 páginas.


Autor: Robson Stigar


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