OFICINA DE SENSIBILIZAÇÃO PARA ÀS PRÁTICAS SEGURAS EM PREVENÇÃO DE DST/HIV COM PROFISSIONAIS DO SEXO: UM RELATO DE EXPERIÊNCIA



OFICINA DE SENSIBILIZAÇÃO PARA ÀS PRÁTICAS SEGURAS EM PREVENÇÃO DE DST/HIV COM PROFISSIONAIS DO SEXO: UM RELATO DE EXPERIÊNCIA

Jacione Santos de Carvalho

RESUMO

Este trabalho é um relato de experiência voltado ao processo de sensibilização para às práticas seguras em prevenção de DST/HIV com profissionais do sexo, desenvolvido em um prostíbulo no município de Camaçari. Apresenta algumas reflexões sobre sexo, prostituição, doenças sexualmente transmissíveis e HIV na perspectiva da educação permanente. Esta experiência tornou-se prioritária a partir da não existência de trabalho semelhante no prostíbulo na cidade de Camaçari, assim como a importância do tema em questão para a saúde pública e desenvolvimento da cidadania das mulheres profissionais do sexo.
Palavras-Chave: sensibilização, DST/HIV, profissionais do sexo.

INTRODUÇÃO

Em nossa sociedade o sexo pode ser classificado como desejo, perversidade, submissão, também pode ser visto de várias formas, seja pela biologia humana, pela psicologia, ou outras áreas de estudo, por isso abordar a sexualidade no ser humano torna-se tarefa tão complexa.
Por isso, considerando o sexo uma atividade importante e necessária a humanidade e tendo no desejo seu maior pontencial, torna-se facilmente mercadoria, levando a exploração da arte sexual para fins profissionais.
Na prática, através da observação não sistematizada da atuação dos profissionais de saúde, a presença da violência institucional, uma discriminação explicitada em palavras, atitudes de caráter condenatórias e preconceituosas, descaso e postergação da assistência. Esses aspectos já vêm sendo observados palas políticas públicas de atendimento à mulher no sentido de modificar a forma como elas vêm sendo assistidas, com vistas a considerá-las como sujeitos de direito e, por conseguinte, possibilitar o resgate de sua cidadania.
Com o intuito de socializar a experiência bem-sucedida na realização da oficina de sensibilização sobre as práticas seguras na prevenção às DST/HIV junto as profissionais do sexo, eu docente da disciplina saúde da mulher da EEUFBA relato o processo de elaboração e implementação desta oficina que se configura em uma estratégia para subsidiar o processo de aprendizagem das profissionais do sexo.


MÉTODO DE TRABALHO

Este estudo consite em um relato de experiência vivenciada por mim, aluna especial da disciplina Saúde da Mulher do Mestrado de Enfermagem da Escola de Enfermagem da Universidade Federal da Bahia, no 2º semestre de 2010, durante a elaboração e implementação da Oficina de Sensibilização para às Práticas Seguras em Prevenção de DST/HIV com Profissionais do Sexo em um prostíbulo no município de Camaçari.
A realização da oficina justificou-se pela não existência de trabalho semelhante no prostíbulo na cidade de Camaçari, assim como a importância do tema em questão para a saúde pública e desenvolvimento da cidadania das mulheres profissionais do sexo.
A metodologia aplicada para o desenvolvimento deste estudo, foi o da realização de uma oficina, o que tem se constituído como estratégia que valoriza a construção de conhecimento de forma participativa, questionadora e, sobretudo baseada na realidade de situações, fatos e história de vida.
Portanto, a oficina é um âmbito de reflexão e ação no qual se pretende superar a separação que existe entre o conhecimento sobre as DST/HIV e as práticas seguras para a prevenção. Nesse sentido, acredito que tal metodologia permite um verdadeiro pensar e repensar da prática cotidiana vivência pelas profissionais do sexo dentro do prostíbulo, enriquecendo o processo de construção de conhecimento e sensibilização das mesmas para as práticas seguras na prevenção das DST/HIV, já que parte de uma interação de diferentes olhares favorecendo a reflexão.
Assim, compreendendo que as oficinas proporcionam uma liberdade de expressão e contribui significativamente para a sensibilização e o desenvolvimento de um senso crítico e aberto a mudanças, percebi que a metodologia adotada fomenta a co-responsabilização pelas decisões tomadas, pois não é centrada em um único ator e sem sim enfatiza a importância dos diversos atores sociais que constroem as matizes de nossas práticas sexuais.
Nesse sentido, as oficinas são espaços que apontam novas descobertas e caminhos, uma vez que consiste num processo em construção de todos os atores envolvidos, tornando-se espaço oportuno para a comunicação, para a contextualização, para o estabelecimento de vínculos, de reflexão, de mudanças, de construção coletiva de um saber.
O desenvolvimento da metodologia da oficina configurou-se em uma experiência diferente na abordagem das práticas seguras na prevenção das DST/HIV pois dentro do prostíbulo tal proposta nunca havia sido desenvolvida anteriormente. O que me levou a aventurar-se na busca do conhecimento, respeitando a participação de cada participante, favorecendo a (re) construção de conceitos, posturas e soluções diante da realidade que se apresenta no cotidiano das profissionais do sexo.
A oficina foi dividida em quatro momentos, no primeiro momento, além da apresentação da proposta de trabalho, procurei conhecer as participantes do grupo, bem como identificar a demanda do grupo dividindo-as em 04 grupos, que tiveram como tarefa desenhar uma mulher em uma folha de papel metro pedaço pardo, com materiais como lápis e canetinhas coloridas, giz de cera, entre outros. Depois nomearam as personagens criadas e escreveram as dúvidas, temores, sonhos, daquela mulher. Em seguida, cada grupo apresentou seu trabalho aos demais e estabeleceu-se uma discussão sobre as DST/HIV e como estas doenças envolvem questões acerca da sexualidade.
No segundo momento, tivemos como proposta a verificação das principais dúvidas dos adolescentes em relação à sexualidade. Para tanto as profissionais escreveram os sinônimos, o conhecimento sobre e dúvidas relacionadas às palavras: relação sexual; métodos contraceptivos; doenças sexualmente transmissíveis (DSTs); HIV; menstruação; masturbação; pênis; vagina. Cada palavra foi escrita em uma folha e os adolescentes tiveram tempo para escrever o que lhes era pedido e depois passar o papel para o colega ao lado fazer o mesmo. Depois leu-se tudo, possibilitando uma discussão a respeito das palavras trabalhadas.

No terceiro momento programou-se uma palestra e debate, para abordar as temáticas: DSTs, HIV e prevenção ? camisinha. Para tanto prepararam-se cartazes contendo breves explicações sobre preservativos masculino e feminino frisando-se sempre a prevenção das DSTs e HIV. Em seguida, apresentou-se a camisinha e foi proposto que cada um colocasse um preservativo em uma prótese. Para finalizar, as profissionais, construíram juntas uma história envolvendo a negociação do uso do preservativo.
No quarto e último momento a temática trabalhada foi projeto de vida. A atividade proposta foi a elaboração, de uma carta que contassem aspectos da história de vida e projetos de futuro. Durante o desenvolvimento deste momento houve choro e muita comoção, algumas profissionais se pusseram a vontade para falar de suas experiências profissionais, de DST/HIV, uso de drogas e aborto.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Participaram da oficina, 20 profissionais do sexo, sendo todas do sexo feminino e com idade entre 21 e 34 anos, oriundas do interior da Bahia e Região Metropolitana de Salvador e atualmente residentes no município de Camaçari por conta das questões de trabalho. Todas se declaram pardas e dizem ser de famílias de baixa renda. Não houve resistência da administração do prostíbulo em me receber acredito que pela relevância do tema DST/HIV e pela proposta apresentada de realização de uma Oficina para a Sensibilização para às Práticas Seguras.
Durante a oficina observei que algumas profissionais do sexo apresentaram resistência a metodologia aplicada, demosntrando dificuldade em cosntruir coletivamente o conhecimento acerca das DST/HIV. Entretanto, no decorrer da oficina essa postura deu lugar a uma construção coletiva prazerosa e de grande relevância para todos, pois elas passaram a identificar suas fragilidades aos perigos que estavam expostas ao não aderirem as práticas seguras durante a sua atuação enquanto profissional do sexo e começaram a compreender que o importante não é só o conhecimento técnico sobre as doenças e o comportamento correto, mas sim a mudanças das práticas em relação a prevenção com busca a solução de problemas reais e na busca de soluções originais no seu campo de atuação.
No desenvolvimento de toda a oficina foi valorizado o conhecimento que já possuíam, deixando claro para o grupo que faltava apenas estabelecer o elo entre o saber e o fazer, possibilitando, o desenvolvimento de uma consciência crítica e reflexiva com a finalidade de transformação do sujeito.
Este trabalho de intervenção voltou-se para o favorecimento do acesso a informações sobre comportamentos preventivos referentes à sexualidade e para a reflexão das relações de gênero e classe.

No segundo momento, as participantes afirmaram que a mulher é responsável pela contracepção e o homem pela prevenção das DST/HIV, expressando uma contradição pois a gravidez e a contaminação pelo HIV podem ser resultado da mesma relação sexual, da mesma falta de decisão em relação ao risco.

A recusa das profissionais em falar de si ficou bem evidente no quarto momento da oficina, onde a temática trabalhada foi o projeto de vida, muitas embora tivessem escrevido a carta não desejaram expor suas histórias de vida e projetos de futuro ao grupo.


CONSIDERAÇÕES FINAIS


No decorrer de todo o processo de elaboração deste trabalho, o cuidado na escolha e desenvolvimento das atividades propostas em cada uma das oficinas foi marcado pelo objetivo de promover interesse dos integrantes do grupo, de modo a incentivar sua participação, com vista à inclusão de todos.

Através da realização desta oficina como estratégia de sensibilização para às práticas seguras em DST/HIV com as profissionais do sexo, tive a oportunidade de refletir que a mudança de prática vai além de conhecimento teórico, mas perpassa pelo âmbito do compartilhar esses conhecimentos, de reconhecer fragilidades, de estabalecer um compromisso consigo mesma, de desenvolver potencialidades, de enfrentar suas limitações, de saber que não se sabe tudo, mas que juntos profissionais de saúde e profissionais do sexo, podem ir além das orientações do consultório.
Nesse sentido, contribui-se com o processo de adesão às práticas de comportamento preventivo, favorecendo, em última análise, a emancipação dos sujeitos no campo dos direitos sexuais e reprodutivos.


REFERÊNCIAS

Ander-Egg AS. In: Omiste et all. Formação de grupos populares: uma proposta educativa. Rio de Janeiro: DP&A; 2000.

ECCOS ? Comunicação em sexualidade (2001). Sexo Sem Vergonha: uma metodologia de trabalho com educação sexual. São Paulo.

Freire P. Pedagogia do oprimido. São Paulo: Paz e Terra; 2000.
Cyrino EG, Toralles-Pereira ML. Trabalhando com estratégias de ensino aprendizado por descoberta na área da saúde: a problematização e a aprendizagem baseada em problemas. Cad Saúde Pública 2004, 20(3): 780-8.

Vieira, E, Volkind L. Oficinas de Ensino: O quê? Por quê? Como? Porto Alegre: EDUPUCRS; 2000.
Paiva, V. (2000). Fazendo Arte com a camisinha. Sexualidades Jovens em Tempos de Aids. São Paulo: Summus.




Autor: Jacione Carvalho


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