Obscenidades



No Afeganistão, um homem-bomba, vestido com uma "burca", uma espécie de veste que só as mulheres usam naquele país, detonou uma bomba que levava consigo e matou mais de vinte pessoas.

O Presidente do Afeganistão considerou uma verdadeira "obscenidade" a atitude do terrorista.

Explico: O Presidente do Afeganistão considerou uma obscenidade não a explosão e o morticínio, mas o fato de usar uma veste feminina para conseguir o seu intento.

Num primeiro momento, essa preocupação do Presidente Afegão, somente com a falta de ética do terrorista, usando de um artifício maquiavélico que é travestir-se de mulher para cumprir uma simples missão de rotina, que era chamar a atenção dos líderes de ambos os lados, matando uns míseros vinte seres humanos, pareceria tragicamente irônica.

Mas, na realidade ela nos mostra de forma bastante elucidativa como as pessoas vêem de forma diferente as mesmas coisas que para qualquer um seria um princípio básico: o inequívoco e inestimável valor dado à vida.

Não se discute mais o ato terrorista de carregar em seu corpo uma bomba, que além de tirar a própria vida, leva consigo dezenas de pessoas inocentes, para conseguir, no máximo, chamar a atenção e insuflar ainda mais o outro lado, para repetir a mesma atitude com outras dezenas de pessoas.

Discute-se a tradição, a religião, o direito adquirido, a "milenaridade" de uma postura, a manutenção de dinastias e a preservação do "status quo", sempre permeado pela riqueza material e pela posse de terras e de homens.

Assim como lá, nós sofremos o mesmo aqui. Quando ficamos à mercê de decisões de homens-bomba, que decidem nosso futuro quando menos esperamos, com suas decisões políticas e sociais de forma bombástica, que irão definir o nosso futuro e dos nossos filhos.

Assim como lá, aqui, discute-se a tradição, a religião, o direito adquirido, posturas atrofiadas, manutenção de dinastias e preservação do que está instituído há séculos e não a forma arrasadora com que será implementada a sua estratégia.

A diferença daqui para lá é que, pelo menos lá, eles não admitem obscenidades em seus atos para conseguirem seus intentos.

Sérgio Lisboa.


Autor: Sérgio Lisboa


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