Canibalismo De Produtos No Segmento De Mídia Impressa



Centro Universitário de Belo Horizonte – Uni-BH

Pró-reitoria de Pós-graduação, Pesquisa e Extensão

Curso de Especialização "lato-sensu" em Marketing e Comunicação

CANIBALISMO DE PRODUTOS NO SEGMENTO DE MÍDIA

IMPRESSA - ESTUDO DE CASO DO JORNAL AQUI¹

Carlos Diamantino Alkmim²

Luiz Antônio de Carvalho Godinho³

 

Belo Horizonte, 26 de maio de 2008

 

RESUMO

Entre as preocupações das empresas em proporcionarem satisfação superior a seus clientes e consumidores está a constante adaptação e inovação em seus produtos. Através de registros organizacionais e pessoais, anotações e entrevista, fonte essencial de informação para o estudo de caso, focalizou-se as razões que a empresa é ultrapassada pelos concorrentes, resultado do uso do marketing de canibalismo – objeto de análise desse artigo nos jornais impressos em MG. Registrou-se como ocorreu essa prática – mesmo que casual e não intencional -, na estratégia usada pela empresa Associados Minas nos jornais Estado de Minas, Diário da Tarde e com o jornal tablóide popular Aqui. O lançamento de novos produtos é uma alternativa muito utilizada pelas empresas competitivas para sua permanência e crescimento no mercado, mas muitas dessas extensões de linhas fracassam ou contribuem para que outros produtos da mesma empresa não atinjam seus objetivos. Verificou-se no estudo de caso como se usou a extensão de linha e a precificação como estratégia de marketing pelos Associados, acirrando o canibalismo na empresa.

 

PALAVRAS-CHAVE: canibalismo de produto midiático; extensão de linha e precificação – estudo de caso do jornal Aqui.

 

ABSTRACT

 

It enters the concerns of the companies in providing to great satisfaction its customers and consumers it is the constant adaptation and innovation in its products. Through organizations and personal registers, notations and interview, essential source of information for the case study, focused the reasons that the company is exceeded by the competitors, result of the use of the cannibalism marketing - object of analysis of this article in periodicals printed matters in MG. It was registered as this practical occurred - that accidental and exactly not intentional -, in the used strategy for the company Associates Mines in periodicals Been of Mines, Daily of the Afternoon and with the tablóide periodical Aqui. The launching of new products is an alternative very used by the competitive companies for its permanence and growth in the market, but many of these extensions of lines fail or contribute so that other products of the same company do not reach its objectives. It was verified in the case study as if it used the extension of line and the promotion and price the strategy of marketing for the Associates, inciting the cannibalism in the company.

KEY-WORDS: cannibalism of the press product; extension of line and prices and promotion - study of case of the periodical Aqui.

 

¹ Título do Artigo Científico

² Aluno do curso de pós-graduação 'Lato-sensu' em Marketing e Comunicação da Uni-BH

³ Professor orientador, Mestre em Administração pelo CAPEAD/UFMG

1 INTRODUÇÃO

 

O produto em análise é o lançamento no mercado pela empresa Associados Minas de um novo produto: o jornal impresso popular Aqui. Os objetivos propostos e a finalidade do presente estudo indicaram como mais apropriada uma pesquisa do tipo descritiva, a qual foi realizada por meio do estudo de caso. O Aqui surge no mercado, em 2005, com o tripé popular: conteúdo rápido (dropes), promoções e preços voltados aos leitores das classes C, D e E, o mesmo segmento do jornal Diário da Tarde, também dos Associados – surgindo, daí, o canibalismo na empresa.

O jornal Diário da Tarde, de acordo com informações do Departamento de Marketing dos Associados, focalizado em entrevista, se encontrava mal posicionado e tinha leitores de todas as classes: A, B, C, D e E, não tendo um público específico e dava prejuízo.

Segundo os autores de Marketingexistem soluções práticas e aplicáveis em curto prazo para explicar esse fenômeno no mercado. E a principal delas, tem sido a segmentação da marca para seu público alvo, o mesmo segmento dos jornais Diário da Tarde e do Aqui, voltados às mesmas camadas sociais nas faixas dos denominados jornais populares.

A competição acirrada desse mercado, mais particularmente após a consolidação do sistema on-line, contribui com a canibalização de produtos, que segundo definição de Boone & Kurtz (1998), ocorre quando um novo produto se apodera das vendas de um ou mais produtos da mesma linha.

Segundo Kotler (2000 p. 424), a empresa deve garantir que os novos produtos tenham uma diferença perceptível, o que não correu entre os produtos oferecidos pelos Associados, com a manutenção da mesma linha editorial dos jornais Diário da Tarde e do Aqui.Com isso, o canibalismo interno se avolumou, e, após 77 anos de história, os Associados Minas fechou definitivamente o Diário da Tarde e manteve em circulação o Aqui.

Assim, o estudo de caso analisado, se propõe a apresentar a teoria relativa ao canibalismo entre produtos, e a conhecer as condições em que o fato ocorreu e as suas conseqüências na empresa.


 

2 MARCO TEÓRICO

2.1. Canibalismo de produto midiático

Uma definição para a prática de canibalismo nas empresas é apresentada por Traylor (1986, p.70), adotado pelos Associados com o lançamento do jornal tablóide Aqui: "canibalismo ocorre quando a venda de um dos produtos de uma empresa reduz as vendas de outros dela mesma".

Boone & Kurtz (1998, p. 273) definem mais precisamente a canibalização dos produtos quando:

Uma empresa deseja sempre evitar que o oneroso lançamento de um novo produto afete negativamente as vendas de um dos seus produtos existentes. Quando um novo produto se apodera das vendas de uma outra oferta na mesma linha de produto, diz que ele está canibalizando a linha. (...)

Essa medida é quase sempre tomada quando a empresa se sente ameaçada internamente por um produto semelhante, ou seja, não haveria motivos para manter produtos que proporcionam prejuízos ou não contribuem significativamente para o lucro da empresa. Kotler (2000, p.425) destaca que "a empresa deve assegurar que o item proposto atenda a uma necessidade do mercado e não esteja sendo adicionado somente para satisfazer uma necessidade interna".

Kotler (2000, p. 423) assim define: "Se a empresa for atacada por um concorrente do segmento inferior, ela geralmente contra-ataca, entrando no segmento inferior do mercado".

Há, segundo Traylor (1986, p.70), duas formas de enxergar o canibalismo: com visão orientada para o produto, que ocorre quando uma empresa oferece dois ou mais itens semelhantes em termos técnicos, e com visão orientada para o mercado, que ocorre quando dois ou mais itens de uma mesma empresa concorrem em um mesmo segmento de mercado. Como exemplo em estudo, os jornais Aqui e Diário da Tarde editados pela empresa SA Estado de Minas.

Entre as estratégias empresariais de organizações competitivas pode-se destacar o contínuo desenvolvimento e lançamento de novos produtos, o que ocorre tanto pela necessidade de substituição de um produto que já não proporciona benefícios importantes ao seu público-alvo à empresa, quanto pela necessidade de se estender ou de se criar novas linhas de produtos e marcas em razão da percepção de uma oportunidade de mercado quepossibilite majorar os resultados.

Um outro segmento de marketing é o "poder do nome" do jornal Aqui.Seria o nome de aceitação do público alvo? Al Ries e Jack Trout (2005, P. 84) respondem: "Hoje, no entanto, um nome inócuo, que nada transmite, não é suficiente para penetrar na mente. Você precisa conseguir um nome que inicie o processo de posicionamento".

Para eles, o nome é o gancho que fica a marca na escada do produto, existente na mente do cliente potencial (...).

2.2 Extensão de linha

Os autores Kotler, Semenik & Bamossy, Ries & Trout e Boone & Kurtz, entre outros, alertam sobre os riscos de canibalismos que podem ocorrer quando da extensão de linha de produtos ou lançamento de novos produtos.

Lançar uma linha de produto com preços reduzido - o jornal Aqui -, foi à estratégia adotada pelos Associados para correr atrás do concorrente – o Super Notícias.Neste tipo de ataque, a intenção da empresa foi abrir uma nova frente no campo de batalha, um novo nicho de mercado, se preferir, ou seja, a criação de novos produtos e estratégias de produto.

Os líderes de mercado que são atacados por concorrentes com preço reduzido podem preferir manter o preço, elevar a qualidade percebida de seu produto, reduzir o preço, aumentar o preço e melhorar a qualidade ou lançar uma linha de combate com preço reduzido. (Kotler, 2000, p. 503).

Outra explicação, segundo Kotler (1998), é que se a empresa for atacada por um concorrente de segmento inferior, ela geralmente contra-ataca, entrando no segmento inferior do mercado.

Mas, para se conseguir sucesso na extensão de linha, os Associados não levaram em consideração a orientação dos autores de marketing Boone & Kurtz (1998, p. 273) para lançarem o Aqui:

Uma forma lógica importante para avaliar o composto de produtos atual consiste em determinar a viabilidade de uma extensão de linha. Uma extensão de linha envolve o desenvolvimento de ofertas individuais atraentes para diferentes segmentos do mercado, mas que continuam intimamente relacionados com a linha de produtos existente.

Para Kotler (2000), a complementação de linha é exagerada se resultar em autocanibalização e em confusão para os clientes. E conclui: "A empresa precisa diferenciar cada item na mente do consumidor, ou seja, cada um deve possuir uma diferença minimamente perceptível" (Kotler, 2000, p. 424).

Segundo também Kotler (1998), uma linha de produto é muito pequena se se puder aumentar os lucros adicionando algum item a ela, e muito grande se se puder aumentar os lucros retirando-lhe itens. Ou seja, não haveria motivos para se manter produtos que proporcionam prejuízos ou não contribuem significativamente para o lucro da empresa.

Outra definição de Kotler (1986), importante sobre marketing de canibalismo, objeto de nosso estudo de caso, é a satisfação do consumidor, imagem, participação de mercado e a fidelidade dos clientes.

Há, segundo Kotler (1986), duas formas de se enxergar o canibalismo com visão orientada para o produto, quando uma empresa oferece dois ou mais itens semelhantes, e com visão orientada para o mercado, quando dois ou mais itens de uma mesma empresa concorrem em um mesmo segmento. (Anexo A).

Sobre extensão de linha, Ries & Trout (2005, p.135) afirmam que "onde não há marcas ou existem marcas fracas pode-se fazer a extensão de linha. Mas, logo que aparecerem concorrentes fortes, a empresa terá dificuldades". Uma definição que explica a posição dos Diários Associados em criar o jornal Aqui, mas se esqueceram que já existia no mercado um concorrente forte: o Super Notícias.

Os mesmos autores justificam uma outra decisão de marketing dos Associados, ao deixarem à marca original do DT, ao lado do Aqui (com o melhor do DT). Para ele, "após o reconhecimento inicial de uma marca resultante da extensão de linha, o cliente potencial não possui muita certeza de que existe tal produto". E conclui afirmando:

Os nomes resultantes da extensão de linha podem ser esquecidos porque não possuem uma posição independente na mente. Eles atuam como satélites da marca original. A única contribuição dessas marcas consiste em turvar a posição ocupada pelo nome original. Muitas vezes com resultados catastróficos.

A defesa que deveria ser feito pelo líder, no caso o DT, passou a ser feita pelo novo produto criado com a extensão de linha pelos Associados, o Aqui, de um determinado nicho. Os princípios de defesa e ataque são praticamente os mesmos, apenas em direções opostas. Enquanto o líder não se defende, seu grande concorrente, o Super Notícias, procurou minar ainda mais sua posição e ganhar uma maior fatia do mercado. Com pode-se comprovar no ano de 2007:

Figura 2.1 O JORNAL AQUI E A CONCORRÊNCIA NO BRASIL



Fontes: Média aferida pelo IVC em setembro de 2007

Departamento de Marketing Associados Minas – dez/2007

Figura 2.2 JORNAL AQUI X JORNAL SUPER NOTÍCIAS



Fontes:
IVC / Super Notícia (26/7/2007) / Departamento de Marketing Associados Minas – dez/2007

2.3 Precificação (preços e promoções)

O Artigo passa a fazer referência à política estratégica de precificação de penetração usada com sucesso pelo Super Notícias e pelo jornal Aqui. Usada em marketing para introduzir um novo produto no mercado. Nessa estratégia o preço colocado é o menor para gerar o maior volume possível de vendas do produto, no nosso caso em estudos, o jornal Aqui.

Como define Kotler, (2000, p. 498), que "ao iniciar uma redução de preços, no entanto, a empresa poderá deflagrar uma guerra de preços". Foi o que passou a correr entre os jornais Super e Aqui, ambos com um preço baixo no mercado (0,25 centavos os exemplares).

A estratégia de preços e penetração no mercado adotadas pelo Super e Aqui são explicadas por Boone & Kurtz (1998, p.490):

(...) é algumas vezes chamada de abordagem market-minus, uma vez que é baseada na premissa de que um preço abaixo do praticado no mercado atrairá compradores e moverá a marca da categoria 'desconhecida' para, pelo menos, o estágio de marca reconhecida – ou mesmo de marca preferida.

Uma estratégia de preços de penetração no mercado utiliza preços baixos como principal arma de marketing. Os preços dos produtos são visivelmente mais baixos do que as ofertas da concorrência (...).

A decisão dos Associados foi, segundo Kotler, que em vez de lançar uma linha de combate, mantendo o DT com preço reduzido, preferiu criar um outro produto – Aqui -,com preço competitível, além de promoções e prêmios.(ANEXOS Be C)

De acordo com Kotler, (2000, p.585) "(...) promoção de vendas pode ser utilizada para obter efeitos de curto prazo, como chamar mais atenção para o lançamento de produtos ou aumentar vendas em declínio".

2.4 Canibalismo casual e intencional

O canibalismo pode tanto ser uma disfunção, que desagrega valor quando ocorre de maneira casual ou intencional, como uma estratégia de marketing, que pode ser utilizada para elevar os resultados da empresa e/ou substituir produtos já existentes, à medida que permite minimizar o impacto que pode ser causado pela repentina descontinuação de produtos, ou ainda promover a concorrência interna nas organizações.

O estudo de caso analisado, o jornal tablóide Aqui, apresentado neste trabalho, retrata predominantemente o canibalismo como um fato desagregador de valor na empresa pesquisada, porém seu uso como estratégia de marketing foi observado durante entrevista no Departamento de Marketing dos Associados, que não foi de forma intencional, mas, sim, casual. Constata-se, por um lado, que lançar novos produtos é essencial para o crescimento e o desenvolvimento das empresas, por outro, tem-se caracterizado como atividade de elevado risco.

As preocupações amenas em relação a sua ocorrência devem-se ao fato de que essa desagregação de valor foi, em geral, menos que proporcional ao valor agregado pelo novo produto à empresa. Pois, segundo informações dos Associados, o Diário da Tarde não tinha público específico, encontrando presente em todas as classes, inclusive no mais importante jornal da empresa – o Estado de Minas, voltado as classes A e B, além da C, D e E, do jornal Aqui, criando, com isso, uma competição interna na empresa, não percebida pelo Marketing dos Associados..

Tanto Kerin et. al. (1978), quanto Traylor (1986), afirmam que em algumas situações o canibalismo pode vir a ser necessário, podendo inclusive ser utilizado como um instrumento gerencial de marketing. Denominou-se, então, para efeitos deste estudo, canibalismo planejado ou intencional quando este faz parte de uma estratégia organizacional e, canibalismo casual quando este ocorre de maneira não planejada.

3 Estudo de Caso – Jornal Aqui

Os dados secundários obtidos junto aos sites e reportagens de jornais impressos objetivaram conhecer os motivos que levaram o surgimento do tablóide Aqui no mercado da mídia impressa de Minas Gerais nos primeiros anos da primeira década do ano 2000, como produto de extensão de linha adotado pela empresa Associados Minas. Através da análise dos seus produtos contatou-se que os Associados mantinha um outro produto semelhante - o jornal Diário da Tarde, com isso, confirma-se durante entrevista – dados primários - junto ao Departamento de Marketing da empresa, o uso não intencional do canibalismo. A partir dessa entrevista fica constatado que o Diário da Tarde não se encontrava voltado a um público especifico, com leitores em todas as classes sociais (A, B, C, D e E), e que o jornal Aqui foi criado com o tripé popular para atender as classes, C, D e E: preços baixos, promoções e prêmios, ao oferecer cupons aos consumidores em suas edições. Kotler (2000, p. 424), alerta que "a complementação de linha é exagerada se resultar em autocanibalização e em confusão para os clientes (...)", como se comprovou na estratégia de marketing dos Associados Minas.

O uso dessas ferramentas, que inclui no tripé popular, o conteúdo rápido, "em que as pessoas têm noção de tudo o que acontece, mas nada aprofundado", de acordo com o Departamento de Marketing dos Associados, foi que surgiu no mercado o jornal Aqui em 2005, com preço de 0,25, centavos (30 mil exemplares), após pesquisa junto ao público alvo, quando se percebeu uma lacuna em Minas Gerais para um produto popular – no caso, um jornal impresso voltado àsclasses de renda baixa - um modelo de sucesso na mídia impressa no estado do Rio Grande do Sul (Diário Gaúcho).

O concorrente jornal Super Notícias já circulava, segundo o os Associados Minas, mas com "apenas um pé" dos produtos populares que era a linguagem rápida e custava R$0,50 centavos a edição. "Através de pesquisa em outros jornais populares do Brasil e do Mundo, constatou-se que para atingir esse público alvo com uma grande venda precisa de ser adotada os três pés. O concorrente, então, passou a competir com as mesmas armas", informou o Departamento de Marketing dos Associados, responsáveis pela edição do Aqui.

Mesmo com o lançamento do Aqui, a empresa manteve também em circulação o DT, com prejuízo e sem posicionamento. "Era um jornal que dava prejuízo há 20 anos, pois era consumido apenas por um fã-clube, não voltado a nenhum público específico", ressaltou o Departamento de Marketing.

Na mesma linha, os jornais Aqui e DT permaneceram em circulação por dois anos, competindo entre si, aumentando-se , assim, a probabilidade de ocorrência de canibalismo, enquanto o concorrente passou a ser um sucesso absoluto em Minas Gerais nas classes populares.

Segundo Taylor (1986), a principal tática para a não ocorrência do canibalismo é apresentar produtos diferentes a segmentos bem definidos, ocorrendo, no caso dos jornais Aqui e Diário da Tarde, o canibalismo casual, ou seja, quando ocorre de maneira não planejada.

Verificou-se na entrevista, junto ao Departamento de Marketing dos Associados Minas, que o mercado e a concorrência são fatores que estimulam a ocorrência do canibalismo em razão da pressão que exercem para que novos produtos sejam lançados, e que atividades relativas ao composto de marketing podem ser utilizadas para estimulá-lo ou minimizá-lo, embora o uso delas para tal finalidade não tenha sido intenso no caso estudado.

Na ilustração da figura 3 apresenta o novo produto (jornal Aqui) introduzido pela empresa Associados Minas que já possuía um produto antigo (jornal Diário da Tarde) com um posicionamento equivalente e tendo ainda o produto da concorrência externa (jornal Super Notícias). É a forma mais devastadora de canibalismo.

Figura 2.3 CANIBALIZAÇÃO PROPROCIONAL



Fonte:
Traylor (1986 p.72)

Na figura 2.4, uma outra forma de canibalismo encontrada entre os jornais Super, Aqui e DT, ou seja, sua ocorrência encontra-se presente em parte do produto antigo (DT) e em parte do produto concorrente (de outra empresa – o Super) e, além disso, cria uma expansão no mercado de atuação. É uma situação de maior risco que a figura 3, tendo em vista que o novo produto (Aqui) pode sofrer um contra-ataque da concorrência por estar sendo atingida, no caso do nosso artigo, a imediata reação do jornal Super Notícias.


Figura 2.4 CANIBALIZAÇÃO COM EXPANSÃO DO MERCADO E ATAQUE AOS CONCORRENTES




Fonte:
Traylor (1986 p.72)

4 CONCLUSÃO

 

O desenvolvimento e lançamento de novos produtos são condições essenciais às empresas que pretendem se destacar em seus mercados e sobreviver ao longo do tempo. Porém, uma questão importante a ser considerada para a otimização dos recursos empregados nessa estratégia é o canibalismo.O caso pesquisado retratou predominantemente essa prática como um fato desagregador de valor na empresa.

Com as análises dos dados secundários e primários, através do estudo de caso, permitiu concluir que o canibalismo pode tanto ser uma disfunção, que desagrega valor quando ocorre de maneira casual, como ocorreu nesse artigo, quanto uma estratégia de marketing que pode ser utilizada para elevar os resultados da empresa e/ou substituir produtos já existentes, à medida que permite minimizar o impacto que pode ser causado pela descontinuação de produtos, ou ainda promover a concorrência interna das organizações.

Nesse artigo foi possível conhecer as implicações da presença do canibalismo na mídia impressa da empresa Associados Minas entre os jornais Estado de Minas (voltados as classe A e B), Diário da Tarde (todas as classes) e Aqui (C, D e E), mesmo que de forma não intencional.

O caso pesquisado retratou predominantemente o canibalismo como um fato desagregador de valor, porém seu uso como estratégia de marketing foi observado na empresa, mas esta não fez nenhum esforço para controlar o canibalismo.O que se percebeu é que as pressões do mercado e da concorrência são superiores e mais preocupantes, não possibilitando, muitas vezes, uma correção de rumo na política de marketing adotada.

Com isso, tanto a semelhança entre os produtos oferecidos pela empresa, auferida por meio do tipo de novo produto e da política de marca adotada, quanto às pressões sofridas por parte do mercado consumidor na mídia impressa, com acirramento da concorrência, apresentaram-se como potencializadoras do canibalismo, uma vez que o mercado de jornais populares, objeto do estudo de caso, apresentava-se oportuno e, com o crescimento acelerado da concorrência.

As mudanças introduzidas pela empresa pesquisada não levaram em consideração outros objetivos do marketing: satisfação do consumidor, imagem perante ao público alvo, participação de mercado, alavancagem de outros produtos e fidelidade dos clientes.

As decisões equivocadas da diretoria da SA Estado de Minas, empresa que controla os negócios dos Associados em Minas, não levou em consideração o que prega em marketing os autores Ries e Trout (2005, p.82) que "para ser bem sucedido em nossa sociedade com excesso de comunicação, você deve participar do jogo de acordo com as regras estabelecidas por ela e não de acordo com as suas".

Um exemplo é oferecido pela Federação Nacional dos Jornais (FENAJ), ao afirmar que a diretoria da SA Estada de Minas, que controla os negócios dos Associados, em Minas Gerais, ao tomar a decisão de "travar" o DT confiou que com essa sua estratégia de marketing iria fazer crescer as vendas do Estado de Minas. "A empresa tomou várias providências, entre elas a impossibilidade de se assinar o jornal DT. Isso só era permitido a pessoas jurídicas e, mesmo assim, se assinassem o Estado de Minas" (Site FENAJ, pág. 1 - Acesso 13 de agosto de 2007).

Pode estar aí à explicação para o fracasso dos Associados, ao criarem o jornal popular Aqui (extensão de linha) e fazerem desaparecer o DT: eles foram exclusivamente levados por "interesses pessoais" e não de mercado ao decidirem pelo fim do Diário da Tarde e recriando o Aqui–uma prática abominável de canibalismo midiático.

Nessa corrida midiática dos jornais impressos de Minas Gerais na primeira década do Século XXI venceuo Jornal tablóide Super Notícias com suas manchetes populares, apelativas, de cunho sensacionalista, com capas carregadas de fotos coloridas, textos curtos e diretos, premiações em todas as edições, e preço baixo. Não restou outra alternativa aos Associados à não ser seguirem os mesmos métodos adotados – o tripé popular no Aqui.

5 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

 

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KOTLER, Philip. Administração de marketing. São Paulo: Atlas, 1998.

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RIES, AL, TROUT, Jack. Posicionamento: a batalha pela sua mente. São Paulo. Pearson, 20ª edição - 2002.

TRAYLOR, Mark B. Canibalism in multibrand firms. Journal of Consumer Marketing. St. Bárbara, v.3, n.2, p.69-75, Spring 1986.

SEMENIK, Richard J., BAMOSSY Gary J. Princípios de marketing. São Paulo: Makron Books, 1996.

YIN, R. K. Estudo de caso: planejamento e métodos. Porto Alegre: Bookman, 2001.

FEDERAÇÃO NACIONAL DE JORNAIS. O Fim do Diário da Tarde, 77 anos depois. Disponível em:www.fenaj.or.br Acesso em 13 de agosto de 2007.

MASTER EM JORNALISMO – DEPARTAMETNO DE COMUNICAÇÃO. Associados fecham jornal Diário da Tarde. Disponível em: www.ceu.org.br/master/noticia Acesso em 25/07/2007.

SEMPRE EDITORA. Super é eleito o melhor jornal popular. www.otempo.com.br/notícias

Acesso em 17/11/2007.

(Jornal O Tempo, pág. A-7, 16 de dezembro de 2007).

JORNAL SUPER NOTÍCIAS. Super, o 2º mais vendido do país. Sempre Editora.Belo Horizonte. Ed. 26 de jul. 2007.

Entrevista Departamento de Marketing Associados Minas

JORNAL SUPER NOTÍCIAS. Super Notícia lança sua versão na internet. Disponível em: www.supernoticias.com.br. Acesso em 17/11/2007.

Site: www.masteremjornalismo.org.br/notícia Acesso em 14/01/2008.


 

Anexo A

 

Extensão de linha: Jornais Diário da Tarde e Aqui





Anexo B

 

Os jornais Super e Aqui usam a mesma estratégia: promoções e prêmios





Anexo C

Precificação presente nos jornais Super Notícias e Aqui



Autor: Carlos Diamantino


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