Jogo Das Perguntas



Ontem de tarde, sem nenhuma explicação

pensei que o mundo era um lugar

cheio de gente, que existia para aprender e ensinar.

 

Hoje já nem penso mais nisso.

 

Via que as pessoas eram bondosas:

-Talvez para se redimirem de suas maldades?

 

Lembro-me de homens presenteando suas mulheres:

-E entre seus olhos não existia mais nenhuma?

 

Pessoas que a um deus adoravam:

-Por que temer a quem se ama?

 

No noticiário, asfalto com um cadáver escarlate:

-Será ele um sortudo ou um azarado tomate?

 

Nos sorrisos amarelos de cigarro:

-Preciso sobre isso opinar?

 

Nas conversas, palavras por serem ditas:

-Esconder algum sentimento, ou explanar algo mais denso?

 

Nas tolices, mesuras de realidade:

-Quiçá isso me ajuda?

 

Nos filhos, a frustração de vê-los tortos:

-Mas por que fazê-los voar? Ou não fazê-lo?

 

Nas escolas, o que se aprenderia em casa:

-É a revelia da cultura, ou apenas à vontade de dormir?

 

No comércio a fome da ganância:

-Trocar a honra por tão pobres pássaros?

 

Amiúde olhar o guarda roupa:

-Aonde encontras tanto recheio?

 

Ir de carro para economizar tempo:

-Quantos não morreram pela preciosa gasolina?

 

Nas igrejas encontrarás conforto:

-Poderei ir com calças sem algibeiras?

 

Nas estrelas um novo amanhã:

-Se elas em milhões de anos não mudaram,

por que o amanhã se diferirá de hoje?

 

No ventre o almejado embrião da paz:

-Os nossos maiores carrascos nasceram de chocadeira?

 

Entre os dedos, um voto mudará tudo:

-Pra que tentar, se não há saída?

 

Morrer com raiva de não ter aproveitado:

-Afinal, o que é que eu deveria fazer?

 

Aos seus amigos, encontrarás acorrentado:

-Será que para mais fácil, eles irão me esquecer?

 

Deixei meus versos pra quem quiser ler:

-Depois de morrer, de que adianta?

 

Se nos lábios que não se encontram,

as palavras estão mudas?!

 


Autor: Daniel Lellis Siqueira


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