A 'navalha De Occam' E A Simplicidade Da Teoria Espírita





A verdade é que existe um equívoco interpretativo que se espalhou em dizer que as teorias parapsicológicas atendem mais ao Princípio da Parcimônia de William de Ockham do que a teoria espiritualista.


O Espiritualismo moderno ou Espiritismo ao alegar a sobrevivência da consciência passa a ser teoria mais simples comparativamente a alternativa parapsicológica chamada Super-PSI, quando esta evoca a conjugação de mais de um fenômeno PSI; ou no máximo, de mesma complexidade, quando apenas um fenômeno Super-PSI for apresentado (ex: telepatia ou retrocognição em potências avultosas), pois, neste caso, a flexibilidade de Super-PSI é ainda mais um argumento para o encaixe teórico.
Não obstante, em qualquer hipótese parapsicológica não compreendida no dualismo-sobrevivencialista, é premente demonstrar que PSI é mero epifenômeno do cérebro, como pretende parte de pesquisadores a exemplo da proposta relação entre uma interpretação fisicalista de PSI com princípios da física quântica.

O que é a Navalha de Occam?

A Navalha de Occam ou Navalha de Ockham é um princípio lógico atribuído ao Lógico e frade Franciscano inglês William de Ockham (século XIV). O princípio afirma que a explicação para qualquer fenómeno deve assumir apenas as premissas estritamente necessárias à explicação do fenómeno e eliminar todas as que não causariam qualquer diferença aparente nas predicções da hipótese ou teoria. O princípio é frequentemente designado pela expressão latina Lex Parsimoniae (Lei da Parsimónia) enunciada como:"entia non sunt multiplicanda praeter necessitatem" (as entidades não devem ser multiplicadas além da necessidade). Esta formulação é muitas vezes parafraseada como "Se em tudo o mais forem idênticas as várias explicações de um fenómeno, a mais simples é a melhor".

O princípio recomenda assim que se escolha a teoria explicativa que implique o menor número de premissas assumidas e o menor número de entidades. Originalmente um princípio da Filosofia Reducionista do Nominalismo, é hoje tido como uma das máximas heurísticas (regra geral) que aconselha economia, parcimónia e simplicidade, especialmente nas teorias científicas.

O estudo Parapsicológico.

Passado o período metapsiquista e iniciada a era parapsicológica com J. B. RHINE e L. RHINE, a postura preventiva da ciência resistiu fortemente aos dados, agora analisados quantitativamente, que sugeriam paranormalidade e, embora o reconhecimento pela American Association for the Advancement of Science em 1969, a parapsicologia ainda sofre críticas que alegam tanto a inexistência de sugestões de anomalias nos experimentos quanto a falta de um teste eficiente, que exclua outras variáveis [ex: a postura do pesquisador], para correlacionar PSI - se ela existir - com a consciência [BLACKMORE, 1996].

Todavia, se admitida a existência de PSI, não se terá como outra solução viável para o problema da consciência, salvo o dualismo radical, pensamento que sustenta a mente como algo independente do cérebro. A razão é que todas as tentativas para explicar os fenômenos parapsicológicos como efeitos cerebrais têm sido fadadas ao fracasso. Não existe, até o presente, nenhuma comprovação ou teste que indique a existência de alguma forma de comunicação proveniente do cérebro capaz de transmitir/captar informações.

Não conhecemos qualquer forma de radiação que poderia agir como portador da informação, e não há modo ainda concebível que demonstre como a mensagem poderia ser codificada na fonte e decodificada no receptor. A tentativa para superar essa objeção recorrendo-se a ressonância mórfica que une cérebros é inútil ao menos que haja algum princípio que responderia pela seletividade da informações envolvidas. Recorrer a física quântica [ver: PENROSE-HAMEROFF, 1998] e a teoria observacional também não nos aproximou a uma explicação física [não há um método testável para constatação]. Christof Koch e Kalus Hepp, em artigo publicado na Nature, defendem que explicar a consciência a partir de processos de computação quântica é desnecessário, pois devido aos processos bioquímicos e neurológicos seria absolutamente impossível manter-se estável um estado de coerência quântica [KOCH e HEPP, 2006]. Deste modo, restou-nos ou invocar a consciência, que de qualquer jeito não é uma variável física, ou atribuirmos capacidade PSI ao cérebro sem qualquer justificativa, simplesmente porque a atividade cerebral deveria ter este efeito [BELOFF, 1990], o que seria um tanto dogmático. Posto assim, é mais coerente aos teóricos materialistas alegarem a inexistência de PSI para sustentar o reducionismo ou, quando não tão afoitos, resta a eles articular que os dados são ainda inconclusivos.
A parapsicologia, ao se preocupar exclusivamente em uma análise quantitativa, assume o risco de diluir a constatação de PSI, bem como torna-se vulnerável a críticas, que desconfiam desde a credibilidade do pesquisador e erros estatísticos até questionamentos frente a validez dos procedimentos, presença de pistas fornecidas inconscientemente pelos experimentadores e relatórios mal elaborados que resgistram apenas os pontos positivos.

Por outro lado, apesar da abordagem qualitativa - tida pelos sobrevivencialistas como principal método para separar eventos mediúnicos de PSI - também ter seus problemas, como a repetibilidade, o fato é que quanto maior a potência de um evento paranormal, mais difícil fica de associá-lo a PSI como um produto do cérebro. Situações como as 17 sessões celebradas em Milão, em 1892, por Cesare Lombroso, Aksakof, Richet, Giorgio Finzi, Ermacora, Brofferio, Gerosa, Schiaparelli e Du Prel com a médium PALADINO, produzindo 44 espécies de fenômenos inexplicados por qualquer teoria física até o presente, abre uma brecha enorme para a existência de alguma faculdade consciencial que parece não depender direta ou indiretamente do cérebro para se expressar [LOMBROSO, 1892].

Enfim, diante de todo o exposto, é de se concluir que o Espiritualismo moderno ou Espiritismo ao alegar a sobrevivivência da consciência passa a ser teoria mais simples comparativamente a alternativa parapsicológica chamada Super-PSI, quando esta evoca a conjugação de mais de um fenômeno PSI; ou no máximo, de mesma complexidade, quando apenas um fenômeno Super-PSI for apresentado (ex: telepatia ou retrocognição em potências avultosas), pois, neste caso, a flexibilidade de Super-PSI é ainda mais um argumento para o encaixe teórico. Não obstante, em qualquer hipótese parapsicológica não compreendida no dualismo-sobrevivencialista, é premente demonstrar que PSI é mero epifenômeno do cérebro, como pretende parte de pesquisadores a exemplo da proposta relação entre uma interpretação fisicalista de PSI com princípios da física quântica.


Autor: Francisco Amado


Artigos Relacionados


A Lógica E O Criador

A “navalha De Occam” E A Simplicidade Da Teoria Espírita

De Que Lado Você Está.

Importância Do Conhecimento Psicológico Para A Educação E O Ensino.

Evolução Da Consciência

'a Ira De Um Anjo'

A Ciência E A Religião