Não Demore A Voltar



Tarde de domingo. Passos vagarosos, entre o trajeto da igreja até o apartamento onde resido, traze imagens da cena, há pouco, vivenciada pelo grupo de evangelização dos asilos.

Não tenho pressa, quero ter tempo para pensar, para reconsiderar as palavras ouvidas, as palavras que também proferimos.

Há quatro meses venho acompanhando esse trabalho e experimentado sensações diferentes em cada local, porém, somente uma impressão comum a todos é a que fica – a impressão do abandono, da carência afetiva, da necessidade do contato humano.

A cada visita uma imensa bagagem de aprendizado é acumulada; um pedacinho do coração é deixado. Não há como guardar tantos nomes, tantos rostos, mas sempre há aqueles que deixam marcas profundas; os que não se esquece.

Revejo, então, minha primeira visita, onde encontrei uma senhora de olhar brilhante, mas triste; sua voz suave, declinava palavras bem faladas, bem definidas. Logo me tomou pelas mãos e me fez sentar em sua cama; sentia uma necessidade imensa de falar.

Em seu quarto individual, bem arrumado, fotos eram colocadas na cômoda. Numa das gavetas guardava sua mais cara lembrança, a foto de seu irmão há pouco falecido.

Reclamou de fortes dores pelo corpo e do abandono e ingratidão por parte dos que servira vida afora – sobrinhos que ajudara criar, parentes que viraram as costas, quando esta manifestara a lentidão para desempenhar tarefas do lar.

Jamais casara, não tivera tempo, pois se dedicara aos pais, irmãos e sobrinhos e, hoje, era forçada a deixar o convívio familiar, para fazer parte da plêiade de anciãos desprezados e abandonados, que abarrotam lares que os abrigam.

Embora haja algum conforto, limpeza aprumada, alimentação bem feita, pessoas o tempo todo cuidando de suas necessidades, sempre fica a falta de um lar.

Falei-lhe então de um Jesus que leva consigo todas nossas dores e enfermidades, faz-nos companhia todo tempo, carrega-nos no colo e nos dá consolo, não olha para nosso exterior, mas nos conhece profundamente desde antes do nosso nascimento e nos prepara uma grande família na Sua morada.

Atenta me ouvia e, fitando-me fundo nos olhos, pegou minhas mãos e disse:

- Ninguém jamais falou assim comigo.

Realmente, talvez ninguém tivesse falado de um Deus vivo e verdadeiro com tanta intensidade, com tanto amor, ao ponto de atingir o alvo – o coração daquela senhora cansada. Disse-lhe que talvez demorasse a voltar, mas que daquele momento em diante ela jamais estaria só – Jesus estaria lhe fazendo companhia, sempre pronto a ouvi-la.

Despedi-me e sai com a certeza de ter podido levar um alento àquele coração sofrido.

 
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Autor: Inajá Martins de Almeida


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