Nem Pensar Em Férias
Bem poderia se dizer que seu Raul Paixão, a quem todos chamavam de seu Raul "Caixão", era o coveiro perfeito e ninguém tinha dúvidas de que seguiria sendo-o por muito tempo. Afinal de contas ele tinha anos de experiencia suficiente como para ser o melhor e... o único!
Mas, a morte chegou, e o encontrou trabalhando para os outros sem sequer ter escolhido um canto para sua sepultura, além do mais por esses dias ninguém aspirava a ocupar seu lugar. Assim que, o corpo inerte do coitado do Raul, teve que permanecer mais de quatro dias numa habitação à espera de ser enterrado.
Numa manhã, depois do quarto dia, rumorejou um vento cálido que fez as folhas das árvores bambolearem em seus talos, e o sino da igreja, soar com aquele som de quando alguma criança acabava de nascer. Os vizinhos murmuraram sobre tão estranhos acontecimentos e correram da igreja à praça, do campo à igreja e finalmente foram até o cemitério. Ali viram o seu Raul cavando e resmungando "Não falei?, quem tem tempo pra morrer com tanto trabalho pra fazer?" Ao seu lado a morte, acanhada, concordava de cabeça baixa certa de que, também ela, nunca poderá descansar.
Autor: Angela Sánchez
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