Vandré: Vida resumida a minutos!




Edson Silva

Aos leitores que conhecem Geraldo Vandré (cantor e compositor paraibano, nascido em 1935) sugiro que voltem ouvir, em vinis ou CDs, o breve discurso que o artista fez, em 1968, até poder cantar o bis da magnífica "Pra não dizer que não falei das flores", num ginásio do "Maracanãzinho" lotado. Quem não conhece Vandré conheça e ouça a citada fala. É pouco mais de um minuto e meio da mais pura emoção, numa época em que a maioria de nós, brasileiros, vivia sob violenta censura, sem direitos políticos ou liberdades individuais e coletivas, cerceados pelo Regime Militar, instalado em 1964 e que durou até 84.

Época que estudantes, trabalhadores, ativistas políticos, artistas ou participantes de quaisquer ações ou vozes, que levantassem contra o regime autoritário, podiam receber punições, como exílio, prisão, tortura, desaparecimento ou morte. Tempos que nossa pátria se viu coberta pela mais densa e escura nuvem e mesmo assim a maioria da população se deixava enganar por manipulações ufanistas que vendiam um país do mundos das maravilhas, com belas paisagens tropicais, o melhor futebol do mundo, carnaval luxuoso, desenvolvimento econômico, embora quase nada da riqueza fosse dividida com o povo. Foi neste panorama que Vandré falou para dezenas de milhares, que estavam no "Maracanãzinho" e não se conformaram com a decisão da censura, que proibiu a vitória de "Pra não dizer que não falei das flores" ou simplesmente "Caminhando", alegando que a mesma fazia propaganda da guerrilha.

A fala de Vandré, na ocasião, foi a seguinte: "...Olha, sabe o que eu acho? Eu acho...uma coisa só mais, Antonio Carlos Jobim e Chico Buarque de Hollanda merecem o nosso respeito (aplausos)... a nossa função é fazer canções, a função de julgar, nesse instante, é do júri que ali está..(vaias). um momento... por favor, por favor... tem mais uma coisa só, pra vocês, pra vocês que continuam pensando que me apóiam, vaiando (vaias e o público grita: é marmelada, é marmelada, é marmelada, é marmelada, é marmelada, é marmelada, é marmelada, é marmelada, é marmelada, é marmelada, é marmelada, é marmelada, é marmelada, é marmelada, é marmelada...), gente, gente, por favor... olha tem uma coisa só... a vida não se resume em festivais... (aplausos)", a gravação dura 1?38", até que entram acordes agudos do violão e a voz grave de Vandré com "laralaiá, laralaiá, laralaiá, laralaiá... Caminhando e cantando e seguindo a canção..."

Esta lição de vida aconteceu em 26 de setembro de 1968 no III Festival Internacional da Canção. A platéia ficou inconformada com o 2º lugar de Vandré; em 1º ficou "Sabiá", de Jobim e Chico. Vandré virava lenda da música de protesto brasileiro. Infelizmente, hoje, quase não se vê ou ouve na mídia nem Vandré ou mesmo Chico, que continua ativista político de esquerda. Por isso, sempre é bom refrescar a memória para lembrar os que jamais devem ser esquecidos.

Edson Silva, 48 anos, jornalista da assessoria de imprensa da Prefeitura de Sumaré
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Autor: Edson Terto Da Silva


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