ASSISTÊNCIA DE ENFERMAGEM A UM RECÉM-NASCIDO PORTADOR DE SEPSE





UNIVERSIDADE REGIONAL DO CARIRI - URCA
CENTRO DE CIÊNCIAS BIOLÓGICAS E DA SAÚDE - CCBS
CAMPUS AVANÇADO DE IGUATU - CAI
CURSO DE GRADUAÇÃO EM ENFERMAGEM


ASSISTÊNCIA DE ENFERMAGEM A UM RECEN-NASCIDO PORTADOR DE SEPSE :Principais Diagnósticos e Intervenções.



FRANCISCA SUÉLIDA MOREIRA BEZERRA




IGUATU ? CE
2010



SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO.................................................................................................04
2. OBJETIVOS......................................................................................................06
2.1 Objetivo Geral.............. .................................................................................06
2.2-Objetivo Específico......................................................................................06
3. REFERENCIAL TEÓRICO............................................................................07
3.1 Manifestações Clínicas...........................................................................07
3.2 Diagnóstico...............................................................................................09
3.3 Tratamento................................................................................................12
3.4 Prevenção..................................................................................................14
4.SISTEMATIZAÇÃO DA ASSISTÊNCIA DE ENFERMAGEM......................15
4.1 Quadro Clínico..........................................................................................15
4.2 - Diagnósticos de Enfermagem............................................................15
4.3 - Intervenções de Enfermagem.............................................................17
4.4 ? Resultados Esperados........................................................................20
5. TRAJETO METODOLÓGICO........................................................................22
5.1. Tipo de Pesquisa...................................................................................22
5.2. Cenário de Pesquisa.............................................................................22
5.3. Aspectos Éticos e Legais da Pesquisa.............................................22
6. CONSIDERAÇÕES FINAIS .........................................................................23
7. REFERÊNCIAS.............................................................................................24



1. INTRODUÇÃO

Recém-nascido, por definição, é a criança cuja idade vai desde o nascimento até o 28º dia de vida (SCHMITT, 2010). Neste período o RN requer uma maior atenção, visto que, é o início da sua adaptação à vida extra-uterina, e o mesmo pode apresentar dificuldades nessa adaptação devido a grande susceptibilidade de desenvolver infecções.
Geralmente, o recém-nascido, tem suas defesas imunológicas normalmente alteradas, pois a passagem da IgG materna não confere proteção adequada, a IgM e a IgA não cruzam a barreira placentária, e a função dos neutrófilos também encontra-se alterada. Além disso, as características anatômicas do recém-nascido (cicatriz umbilical, fragilidade cutânea) facilitam a disseminação de processos infecciosos (SOCIEDADE BRASILEIRA DE PEDIATRIA, 2002).
Segundo Murahovschi (2006), as infecções neonatais podem ser adquiridas no período pré-natal e pós-natal. Na vida intra-uterina a maneira mais comum de infecção fetal é por via amniótica, devido a alguma infecção materna, através de uma rotura prematura de membranas. Essa infecção amniótica pode ocorrer em parto prolongado ou devido a manipulação excessiva durante ele. Após o nascimento as portas de entrada são o tubo digestivo e as vias respiratórias, que podem ser adquiridas por mãos contaminadas durante o manuseio do RN, como também, por objetos no ambiente, especialmente equipamentos de suporte de vida, como incubadoras, respiradores, sondas, cateteres e mamadeiras.
A sepse neonatal é um tipo de infecção generalizada, sendo considerada uma das principais causas de morte dos recém?nascidos em todo mundo.
De acordo com o Consenso Internacional de Sepse Pediátrica, criado em 2001, sepse é definida como uma síndrome clínica caracterizada por uma resposta inflamatória sistêmica na presença ou como resultado de uma infecção suspeita ou confirmada. A sepse é classificada como tardia quando a infecção é confirmada após 72 horas de vida, na presença de sinais e sintomas clínicos característicos, sendo portanto, classificada como precoce quando o quadro clínico surge nos primeiros 3 dias de vida do neonato.

Habitualmente, observa-se maior ocorrência de sepse no primeiro dia de vida, através de sinais clínicos inespecíficos, os quais podem ser desconforto respiratório, choque, instabilidade de temperatura e cianose.
Nos países em desenvolvimento, a sepse neonatal alcança níveis de até 15,4 casos para cada 1000 nascidos vivos, en¬quanto que nos Estados Unidos a incidência varia de um a cinco para cada 1000 nascidos vivos. Neste último, o Streptococcus do grupo B (SGB) é a bactéria mais comum envolvida na etiologia da sepse neona¬tal precoce, sendo responsável por aproximadamente 6000 casos por ano (FERRAZ, 2006).
Sabendo-se que, a sepse neonatal causa grande sofrimento ao neonato, e que quando não dada a devida importância a mesma, ela pode tornar-se uma ameaça a integridade da saúde do recém nascido, dificultando desta forma, a sua adaptação à vida extra-uterina. Sendo assim, é dever da enfermagem realizar os devidos cuidados para prevenção das infecções, como também, intervir nos sinais e sintomas decorrentes da infecção.
Busca-se estabelecer a atuação do profissional de enfermagem mediante a sistematização da assistência, pois esta se constitui de grande relevância para a melhoria da qualidade de atendimento, e consequentemente nos remete a uma maior abrangência de conhecimentos teóricos e práticos enquanto estudantes, e também, como futuros profissionais da área da saúde, a qual deve tratar o paciente de forma humanizada e holística.



2. OBJETIVOS



2.1. Objetivo Geral:

? Analisar a sistematização da assistência de enfermagem a um paciente portador de sepse neonatal.

2.2. Objetivos Específicos:

? Descrever os principais aspectos que englobam a sepse neonatal.
? Identificar a atuação do enfermeiro frente ao tratamento dado aos pacientes com a patologia citada.
? Estabelecer os diagnósticos de enfermagem e suas possíveis intervenções.



3. REFERENCIAL TEÓRICO

Partindo da introdução estabelecida, a sepse neonatal é uma síndrome clínica caracterizada por várias manifestações sistêmicas e inespecíficas, decorrentes da invasão e multiplicação de microorganismos na corrente sanguínea.
A sepse neonatal é mais comumente causada por bactérias, porém outros microorganismos podem desencadear o quadro clínico infeccioso no período neonatal como vírus, rickéttsias e fungos.
Apesar da imaturidade do sistema imunológico, o RN tem a capacidade de reconhecer um agente infeccioso e combate através do processo inflamatório, pois, a maioria das manifestações clínicas são desencadeadas pela resposta do hospedeiro à presença de produtos dos agentes etiológicos, como endotoxinas de bactérias, partículas virais ou fungícas, ocorrendo a produção de citocinas sendo estas as responsáveis pelas alterações sistêmicas.

3.1 Manifestações Clínicas

As principais manifestações clínicas observadas na sepse neonatal são:
? Instabilidade térmica - hipotermia (menor que 36o graus), ou hipertermia (maior que 37,5o) por duas vezes em 24 horas.
? Quadro respiratório - apnéias repetidas, bradipnéia, taquipnéia, retrações esternais e subcostais, batimento de aletas nasais, cianose, aumento da necessidade de oxigênio e dos parâmetros do respirador.
? Quadro neurológico - hipotonia, convulsões.
? Quadro comportamental - irritabilidade, letargia.
? Quadro gastrointestinal - distensão abdominal, vômitos, resíduo gástrico, recusa de sucção, icterícia sem causa definida e com predomínio da fração conjugada.
? Quadro cardiovascular - palidez cutânea, pele fria e sudoreica, hipotensão, tempo de enchimento capilar maior do que 2 segundos.
? Sinais de sangramento - quadro semelhante ao da coagulação intravascular disseminada.
? Avaliação subjetiva ? "RN parece que não está bem", apesar de ser uma avaliação subjetiva, diversos autores classificam este item como um dos mais relevantes para o diagnóstico clínico da sepse.
Esses sinais podem também variar de leves a intensos, dependendo da duração da infecção, da virulência e do agente casual e do garu de maturidade do mecanismo de defesa do hospedeiro.
No período neonatal, essas manifestações podem ser inconvenientes, pois os sinais se revestem de grande inespecificidade e podem ser induzidas por insultos não infecciosos, o que dificulta a descoberta e tratamento precoce da infecção no RN, pois várias doenças podem manisfestar-se com esses sintomas.
Portanto se faz necessário a investigação clínica e comparativa dos sinais, bem como dos fatores de risco que desencadeiam uma possível infecção para que esta possa ser reconhecida e tratada a tempo, antes de levar o neonato a óbito.

Fatores de risco para a sepse neonatal
Na vida intra-uterina e durante o nascimento, o feto e o RN podem ser colonizados por microorganismos presentes no trato genital materno que podem colonizar o trajeto do canal de parto, ou pela via transplacentária (hematogênica). Os fatores de risco associados à sepse neonatal são:
? Ruptura prolongada de membranas maior que 18 a 24hs
A incidência de sepse em RN de mães com ruptura de membranas maior que 24hs é de 1%.
Quando sinais e sintomas de corioamnionite (febre materna, hipotonia uterina, fisometria, taquicardia fetal) estão presentes, o risco de sepse neonatal aumenta para 3 a 8%.
Na presença de ruptura prolongada de membranas e prematuridade este risco é de 4 a 6% e, quando a ruptura de membranas é associada ao Apgar de 5° minuto < 6, o risco é de 3 a 4%.
? Colonização materna por Streptococcus do grupo B
O risco de sepse neonatal na presença de colonização materna por Streptococcus do grupo B sem outras manifestações clínicas é de 0,5 a 1%
Outros fatores que associados à colonização materna por Streptococcus do grupo B aumentam o risco de sepse neonatal são ruptura prolongada de membranas maior que 18 horas, febre materna e prematuridade. A incidência de sepse neonatal associada à ruptura prolongada de membranas e colonização materna por Streptococcus do grupo B é de 4 a 6%
A incidência de sepse neonatal associada à colonização materna por Streptococcus do grupo B e febre materna é de 3 a 5%.
A incidência de sepse neonatal associada à colonização materna por Streptococcus do grupo B e prematuridade é de 4 a 6%.
? Prematuridade
A prematuridade aumenta o risco de sepse neonatal em 4 a 11%
? Asfixia perinatal
? sexo masculino
? infecção urinária materna;
? relação sexual próximo ao momento do parto;
? fatores de risco pós-nascimento.
Após o nascimento, o contato do RN com o ambiente hospitalar e os procedimentos invasivos que podem ser realizados têm grande importância como fatores de risco para o desenvolvimento de sepse neonatal.

3.2 Diagnóstico

A suspeita diagnóstica é sempre levantada em bases clinicas, mas, devido, a inespecificidade dos sinais, o auxílio laboratorial é muito importante. Este se dá através da identificação do microorganismo causador por hemocultura, contagem de células sanguíneas e microorganismos e a avaliação bioquímica do líquido cefalorraquidiano (LCR)


Diagnóstico Laboratorial

Isolamento do microorganismo patogênico em qualquer líquido ou secreção do organismo é o padrão áureo e o método mais específico para o diagnóstico de sepse neonatal.

Hemocultura: embora considerada padrão áureo, a sensibilidade ainda é baixa, e a eficácia desse teste diagnóstico depende do meio de cultura utilizado e do microorganismo. Resultados falso-positivos podem ocorrer por contaminação do local de punção; a forma de evitá-los é uma coleta adequada e asséptica. Pode-se distinguir um resultado positivo verdadeiro de um por contaminação puncionando-se dois sítios diferentes ao mesmo tempo, realizando cultura da pele no local de punção ou, ainda, repetindo o teste com intervalo de 12 a 24 horas. Resultados falso-negativos ocorrem quando a mãe usa antibioticoterapia no periparto, aumentando em 12 vezes o risco de hemoculturas no RN resultarem negativas20.

Hemograma: presença de leucopenia ( 20.000 leucócitos/mm3). O número total de neutrófilos 0,2 se correlaciona com um alto risco de infecção bacteriana. É importante lembrar que várias situações não infecciosas, como febre materna, trabalho de parto prolongado, administração de ocitocina intraparto, asfixia, aspiração de mecônio, pneumotórax, convulsões, hemorragia intraventricular e doença hemolítica, estão associadas à presença de neutrofilia e aumento do índice de neutrófilos;

Proteína C reativa (PCR): a PCR é uma beta-globulina, sintetizada pelo fígado após cerca de oito horas do início de um estímulo inflamatório. No primeiro e segundo dias de vida seus valores séricos normais são inferiores a 10 mg/L e inferiores a 5 mg/L após esta idade. Esta proteína possui várias atividades biológicas e apresenta praticamente as mesmas propriedades de uma imunoglobulina entre os mecanismos de defesa do hospedeiro. Foi demonstrada a presença de receptores específicos para a PCR na membrana dos polimorfonucleares, destacando-se que esses locais seriam diferentes dos receptores da fração Fc das imunoglobulinas. Este fato mostra a importância desta proteína na resposta inflamatória, aumentando a quimiotaxia e fagocitose das bactérias pelos polimorfonucleares. Além disso, da mesma forma que as imunoglobulinas, a PCR é capaz de ativar a via clássica do complemento. Estudos que utilizaram esta proteína como marcador de infecção neonatal demonstraram que a negatividade da PCR tem valor preditivo negativo para infecção próximo a 100%. No entanto, seu valor preditivo positivo pode ser baixo na presença de algumas condições clínicas, como asfixia perinatal, hemorragia intracraniana, hiperbilirrubinemia, desconforto respiratório, trauma de parto, necrose do tecido umbilical, intubação traqueal, aspiração de mecônio e a própria ruptura prematura de membranas podem aumentar significativamente seus níveis séricos. Pesquisas de Schouten e col. com 151 recém-nascidos com idade gestacional entre 25 e 42 semanas, separados em grupos que apresentavam as condições clínicas acima citadas, não mostraram diferenças entre os grupos estudados, cujos níveis de PCR não ultrapassaram, na maior parte das vezes, 10 mg/L. Assim, esses autores consideram a PCR um teste discriminativo de infecção neonatal. Pesquisas realizadas por Ceccon (1995) e Vaz e col. (1998) em recém-nascidos com fatores de risco para infecção classificados em três grupos de idade gestacional ( 10 mg/L e presença de infecção nos três grupos estudados. Estes autores sugerem sua dosagem seriada tanto para o diagnóstico como para o acompanhamento da evolução da infecção;

Exame do líquido cefalorraquidiano(LCR): o exame quimiocitológico, bacterioscópico e cultura do líquido cefalorraquidiano deve ser realizado em todos os recém-nascidos com suspeita clínica de sepse, isto é, naqueles que apresentam qualquer sinal ou sintoma sugestivo da doença. Nos recém-nascidos que apresentam fatores de risco para infecção, porém estão completamente assintomáticos e com hemocultura negativa, o exame do líquido cefalorraquidiano não é obrigatório e deve ser indicado de acordo com a evolução clínica do paciente;

3.3 Tratamento

O tratamento deve ser efetuado em condições que permitam o controle da temperatura, das perdas renais e extra-renais (diarréia, vômitos, secreções), da ingestão calórico-protéica adequada e da monitorização da função cardiorrespiratória.

A manutenção do estado de termoneutralidade pode ser conseguida através de incubadoras ou berços de calor irradiante. Os desvios do equilíbrio hidroetrolítico devem ser monitorizados e prontamente restabelecidos, através da dosagem de eletrólitos, controle das perdas renais e extra-renais, densidade e/ou osmolaridade urinária e plasmática e variação do peso. Da mesma forma, devem ser corrigidos os distúrbios do equilíbrio ácido-básico e da glicemia (hipo ou hiperglicemia) que estes recém-nascidos tendem a apresentar.

O suporte nutricional é de grande importância; no caso da criança tolerar alimentação por via digestiva o leite materno é aquele que deve ser utilizado. A nutrição parenteral, especialmente por veias periféricas, deve ser realizada para evitar o autocatabolismo e manter o estado nutricional.

A oxigenação adequada, para manter a saturação de hemoglobina entre 95% e 97% ou a PAO2 entre 50 e 70 mm/Hg, deve ser realizada através da oxigenioterapia ou, se indicada, ventilação mecânica.


Antibioticoterapia

Deve ser iniciada o mais precocemente possível, logo após a colheita de material para culturas.
Na sepse precoce, o tratamento inicial deve incluir:
? penicilina e um aminoglicosídeo (penicilina ou ampicilina + amicacina); na sepse tardia, oxacilina e aminoglicosídeo.
Se houver meningite, o tratamento inicial consiste em:
? ampicilina ou penicilina associada a cefalosporina de terceira geração (ceftaxima ou ceftriaxona).
O tratamento deve ser revisto após a obtenção do resultado das culturas. Nas infecções intra-hospitalares é importante conhecer os agentes mais frequentes responsáveis pelas infecções nosocomiais em cada hospital.

Para o tratamento da sepse por Staphylococcus de origem intra-hospitalar, a vancomicina é a droga de escolha. Nas infecções por bactérias gram-negativas multirresistentes é de grande importância a análise do antibiograma, para evitar a utilização incorreta ou uso indiscriminado de antimicrobianos. Nas infecções por anaeróbios, está indicado o uso de cefoxitina ou do metronidazol. A duração do tratamento é de 10 a 14 dias ou 21 dias nas infecções estafilocócicas e na meningite.

3.4 Prevenção

Higienização das mãos - ponto crucial na profilaxia das infecções neonatais. É considerada uma das práticas mais importantes de prevenção. Deve-se oferecer, facilitar e estimular esta prática hospitalar por todos os componentes da equipe neonatal.
? Medidas de bloqueio contra a disseminação de microrganismos multirresistentes ? através do uso individualizado de equipamentos e artigos e instituição de precauções de contato.
? Cuidados com cateteres - estimular formação de equipes de implantação e manutenção destes dispositivos além de utilização de protocolos de manuseio e cuidado por todos os membros da equipe da unidade.
? Alimentação enteral precoce - estimular o início preferencialmente com leite da própria mãe. Esta prática proporciona a possibilidade de desenvolvimento do intestino do recém-nascido, em especial do prematuro, estimula a produção das enzimas digestivas, promove a colonização intestinal com a microbiota bacteriana materna (menos patogênica), aumenta a tolerância alimentar e conseqüentemente permite a redução do tempo de uso de cateteres vasculares e de nutrição parenteral.


4. PROCESSO DA ASSISTÊNCIA DE ENFERMAGEM

4.1- Histórico

RN de MJAM, 28 anos, 3º filho, nasceu após 38s de gestação num parto Cesário. A mãe iniciou o pré-natal no 1º trimestre e afirma ter comparecido a todas as consultas. A mesma fez uso de suplementação de ferro e ácido fólico, e referiu dor durante a gestação. O RN do sexo feminino nasceu com 3.420g, medindo 48cm, PC igual a 36cm, PT de 34cm. O APGAR do recém-nascido foi de 7-9. Segundo a mãe, ao nascer a criança demorou para chorar e apresentou-se cianótica. Afirmou ainda que o lactente "pegou no peito" apenas uma vez, e depois não aceitou mais a dieta. Foi realizado no mesmo as vacinas de BCG e hepatite B. No exame cefalocaudal pode ser observado os seguintes dados: pele lisa, aveludada, com cianose de extremidades, respirações irregulares, frequência cardíaca aumentada, contorno abdominal normal, hipotermia, reflexos presentes, porém a criança apresentou-se letárgica. Passado algumas horas após a avaliação, o neonato evolui com taquipnéia, taquicardia, batimento nasal e cianose periférica. Foi adotado O2 contínuo para alívio do desconforto respiratório e transferência para o Hospital Albert Sabin, em Fortaleza, de onde o mesmo retornou com o diagnóstico de infecção neonatal.

4.2 - Diagnósticos de Enfermagem

Padrão Respiratório Ineficaz

Definição: Estado em que o indivíduo apresenta perda real ou potencial da ventilação adequada relacionada a alteração no padrão respiratório.
Características Definidoras: Modificações na frequência ou no padrão respiratório, respirações irregulares, taquipnéia.
Fatores Relacionados: infecção, diminuição da energia e fadiga.

Risco Para Infecção

Definição: Estado em que o indivíduo está em risco aumentado de ser invadido por organismos patogênicos.
Fatores Relacionados: defesas imunológicas deficientes.

Termorregulação Ineficaz

Definição: Estado em que o indivíduo apresenta, ou está em risco de apresentar, incapacidade para manter a temperatura interna do corpo na presença de fatores externos, adversos ou modificados.
Características Definidoras: Redução na temperatura corporal abaixo dos parâmetros normais, frequência respiratória aumentada, taquicardia.
Fatores Relacionados: Regulação metabólica compensatória limitada secundária à idade, Imaturidade.

Nutrição Desequilibrada: Menos do que as Necessidades Corporais

Definição: Estado em que o indivíduo apresenta ingesta insuficiente de nutrientes para satisfazer as necessidades metabólicas.
Características Definidoras: Ingestão inadequada de alimentos, menor que a porção diária recomendada.
Fatores Relacionados: Capacidade prejudicada de ingerir os nutrientes por causa de doença.

Risco de Déficit de Volume Hídrico

Definição: Risco de desidratação vascular, celular ou intracelular.
Fatores Relacionados: Doença.
Risco de Vínculo Prejudicado

Definição: Distúrbio do processo interativo que leva ao desenvolvimento de uma relação recíproca de proteção e cuidado entre pais e bebê.
Fatores Relacionados: Recém-nascido doente que é incapaz de iniciar efetivamente contato com os pais devido à organização comportamental alterada.

Processos Familiares Alterados

Definição: Funções psicossociais, espirituais e fisiológicas da unidade familiar estão desorganizadas.
Características Definidoras: Contato físico diminuído.


4.3 - Intervenções de Enfermagem

Padrão Respiratório Ineficaz

? Posicionar para otimizar as torças gasosas;
-Colocar deitado quando possível, pois esta posição resulta numa melhor oxigenação, alimentações mais bem toleradas e padrões de sono-vigília mais organizados;
-Colocar na posição supina com o pescoço estendido e o nariz voltado para o teto para evitar qualquer estreitamento das vias aéreas;
? Observar presenças de desvios do funcionamento desejado;
? Reconhecer sinais de angústia respiratória ? retrações, roncos, cianose, abertura das narinas, apnéia, taquipnéia, baixa saturação de oxigênio;
? Executar o esquema prescrito de suplementação de oxigênio.

Risco Para Infecção
? Assegurar que todos os cuidadores lavem as mãos antes e depois de manusear o recém-nascido para minimizar a exposição a microorganismos infecciosos;
? Assegurar que todo o equipamento em contato com o Rn esteja limpo ou estéril;
? Evitar que membros da equipe portadores de infecções das vias respiratória ou contagiosas entrem em contato com o Rn;
? Isolar os outros Rn que têm infecções de acordo com a política da instituição;
? Instruir os membros da equipe e os pais quanto aos procedimentos de controle da infecção;
? Administrar antibióticos conforme prescritos;
? Assegurar estrita assepsia e/ou esterilidade nos processos invasivos e em equipamentos tais como terapia IV periférica, punções lombares, e inserção de cateter arterial/venoso.

Termorregulação Ineficaz

? Colocar o Rn na incubadora, berço de calor radiante ou bem vestido num berço aberto para manter a temperatura corporal estável;
? Monitorizar a temperatura axilar nos recém-nascidos instáveis;
? Verificar a temperatura do Rn em relação à temperatura do ambiente e à temperatura da unidade de aquecimento para detectar perda de calor por radiação;
? Evitar situações que possam predispor o Rn a perda de calor, como exposição ao ar frio, correntes de vento, banho ou balanças frias;
? Ensinar aos pais do Rn as técnicas para evitar perda de calor em casa.

Nutrição Desequilibrada: Menos do que as Necessidades Corporais.

? Manter a hidratação venosa ou terapia com nutrição parenteral total conforme prescrito;
? Avaliar a aptidão para ser amamentado, especialmente a capacidade de coordenar a deglutição e respiração;
? Amamentar se a sucção do Rn for forte e estiverem presentes os reflexos de deglutição e engasgo para minimizar o risco de aspiração;
? Ajudar as mães com a amamentação quando factível e desejável.

Risco de Déficit de Volume Hídrico

? Monitorizar de perto a administração de líquidos e eletrólitos com condutas que aumentam a perda insensível de água, como ex: fototerapia, aquecedor radiante.
? Assegurar a ingestão oral/parenteral adequada;
? Avaliar o estado de hidratação;
? Regular os líquidos parenterais de perto para evitar desidratação, superidratação ou extravasamento;
? Monitorizar o débito urinário e os valores laboratoriais quando idícios de desidratação ou superidratação.

Risco de Vínculo Prejudicado

? Incentivar a visita dos pais tão logo possível de modo que seja instruído o processo de formação de vínculo;
? Incentivar aos pais: a visita freqüente, dirigir-se ao Rn pelo nome; tocar, segurar e acariciar o Rn de acordo com suas condições físicas; participar ativamente dos cuidados do Rn.

Processos Familiares Alterados

? Priorizar as informações para ajudar os pais a compreender os aspectos mais importantes dos cuidados, sinais de melhora ou de deterioração nas condições do Rn;
? Ser honesta; responder às perguntas com resposta corretas para estabelecer confiança;
? Estar alerta com os sinais de tensão e estresse nos pais;
? Ressaltar os aspectos positivos das condições do Rn para incentivar o sentido de esperança.


4.4 - Resultados Esperados

Padrão Respiratório Ineficaz

? Demonstrar uma frequência respiratória nos limites considerados normais;
? Oxigenação dos tecidos adequada;
? Vias respiratórias permanecem prévias.

Risco Para Infecção

? O recém-nascido não mostrará indícios de infecção hospitalar.

Termorregulação Ineficaz

? A temperatura do recém-nascido permanece dentro da faixa normal para idade pós-concepcional.

Nutrição Desequilibrada: Menos do que as Necessidades Corporais.

? O recém-nascido recebe uma quantidade adequada de calorias e nutrientes essenciais;
? O Rn demonstra ganho regular de peso uma vez ultrapassada a fase aguda da doença.

Risco de Déficit de Volume Hídrico

? O recém-nascido mostra indícios de homeostase hídrica.

Risco de Vínculo Prejudicado

? Os pais visitam o Rn logo após o nascimento e com intervalos frequentes;
? Os pais relacionam-se positivamente com o Rn.

Processos Familiares Alterados

? Os pais expressam sensações e preocupações referentes ao Rn e ao prognóstico e demonstram compreensão e envolvimento nos cuidados.


5. TRAJETO METODOLÓGICO

5.1. Tipo de Pesquisa

Esse estudo consistirá em uma pesquisa de natureza básica, do ponto de vista de seus objetivos explicativa-exploratória e dos seus procedimentos técnicos adotados é uma pesquisa de campo, onde pretende-se conhecer a assistência de enfermagem a um paciente portador de sepse neonatal. Esse estudo como explicativa tem por objetivo principal a identificação dos fatores que determinam ou contribuem para a ocorrência dos fenômenos. Como exploratória objetiva-se a proporcionar maior familiaridade com o problema, com a finalidade de torná-lo explícito ou de construir hipóteses (GIL, 2002).
Referindo-se à abordagem do problema, a pesquisa será do tipo qualitativa. Para Gil (1991 apud VIEIRA, 2008) a pesquisa qualitativa trata-se de uma relação dinâmica entre o mundo real e o sujeito, isto é, um vínculo indissociável entre o mundo objetivo e a subjetividade do sujeito que não pode ser traduzido em números. A interpretação dos fenômenos e a atribuição de significados são básicas no processo de pesquisa qualitativa.

5.2. Cenário de Pesquisa

Esse estudo ocorreu na cidade do Icó, localizada no estado do Ceará, na Região Centro-Sul. A pesquisa foi realizada no Hospital e Maternidade Nossa Senhora de Lourdes.

5.3. Aspectos Éticos e Legais da Pesquisa

Os dados fornecidos serão usados unicamente para fins de pesquisa científica, respeitando os aspectos éticos, como diz a resolução 196/96 do Conselho Nacional da Saúde/Ministério da Saúde, que aborda as pesquisas envolvendo seres humanos.
6. COSIDERAÇÕES FINAIS

Pelo exposto observa-se que a infecção precoce no período neonatal continua sendo uma patologia de difícil diagnóstico clínico e laboratorial, apesar dos inúmeros trabalhos realizados com esta finalidade. O manuseio destes recém-nascidos é dificultoso e tende a ser superdimensionado frente à gravidade e evolução da doença. O uso indiscriminado de antibióticos pode gerar situações desastrosas pela resistência bacteriana. Frente a esta situação, torna-se imperativo o reconhecimento dos recém-nascidos que apresentam maior risco de desenvolver infecção.
Sendo assim, cabe à enfermagem identificar precocemente os sinais que possam indicar um episódio de sepse neonatal, com a finalidade de exercer de forma adequada o seu papel como profissional de saúde destinado aos cuidados integrais com os pacientes.


7. REFERÊNCIAS

CARPENITO, L. J. Diagnóstico de Enfermagem: Aplicação à prática clínica. Porto Alegre: Artmed, 2005.

CLOBERTY, J.P, EICHENWALD, EC. Stark A.R. Manual de Neonatologia. 5ª edição (tradução Manual of Neonatal Care) Guanabara Koogan. 2005.
Diagnóstico de enfermagem da NANDA: definições e classificação 2009-2011/ NANDA Internacional ? Porto Alegre: Artmed, 2010.

Division of Human Development and Aging, University of Utah School of Medicine, Salt Lake City 84132. Acesso no dia 13/12/2010.

DONNA, L. WONG. Enfermagem Pediátrica. Editora Nova Guanabara, 1997.

FERRAZ, S. Sepse Neonatal. Capítulo 18.

MURAHOVSCHI, J. Pediatria: Diagnóstico + tratamento. 6ª Ed. São Paulo: SARVIER, 2006.

PHILIP, A.G.S.; HEWITT, J.R. Early diagnosis of neonatal sepsis. Pediatrics 65: 1036 - 41,1980. Acesso no dia 13/12/2010

RICHTMANN, R. Diagnóstico e prevenção das infecções hospitalares em Neonatologia. 1.ed.; São Paulo: APECIH,2002.

SCHMITT, M. C. Neonatologia: da história aos dias atuais. 2010.
Disponível em: http://www.mariocelso.med.br/?neonatologia-conceito-e-hist%C3%B3ria&content=22&show. Acesso no dia 13/12/2010.

SOCIEDADE BRASILEIRA DE PEDIATRIA. Tratado de Pediatria. CD-ROM. Autor: Júnior, Dioclécio Campos.

THULER, L.C. Diagnóstico microbiológico das bacteremias. JBM 1995; 69: 123-8.






Autor: Suelida Moreira


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