No Telhado



Tenho um gato que para preservar-lhe a identidade e caso venha a saber que estive comentando não se sinta constrangido, chama-lo-ei de Epaminondas, até por que vez eventualmente quando queremos falar alguma coisa que ele não possa ficar sabendo falamos que ele é o Nondas.

Sabe, tipo assim: Preciso dar remédio ao Nondas....

Acontece que o Nondas é meio esquisito, por exemplo, ele gosta de tomar banho, tanto gosta que quando era bem pequenino ele caiu dentro de um balde contendo roupas de molho no sabão em pó.

Outro detalhe, ele ama de paixão e faz qualquer coisa para comer um pedaço de queijo, razão pela qual estou levando-o a fazer terapia, pois está com crise de identidade (falando baixinho, pensa que é gente).

Sabe, o Nondas um dia fez uma que nem lhe conto.

Bom, mas se já comecei a contar é melhor continuar senão você vai querer me matar, não?

Em um domingo pela manhã decidi que iria mudar uma planta de vaso, coloquei roupa de briga ou seja, shorts e uma camiseta velha e fui para a sacada.

Morava no 3° andar de um prédio, a janela da lavanderia dava para o telhado do estacionamento e eu esqueci aberta.

O Nondas, muito curioso, ficava me olhando mexer com as plantas e fazendo gracinhas, mas irritada, com pressa de terminar não brinquei e o mandei embora.

Foi a pior coisa que poderia ter feito!

Feri os sentimentos do bichano , ele como é temperamental, ficou com bronca e foi à forra.

Não é que o danado pulou da janela da lavanderia para o telhado do estacionamento!

Sério mesmo.

Quando ouvi um miadinho comecei a procurar pela casa e nada de encontrar.

De repente, lembrei de olhar no telhado e lá estava ele.

Por pouco não tive um "treco".

Saí como estava (de shorts, descalça e usando luvas de borracha), correndo escada abaixo.

Não tinha como subir no telhado e pedi a um senhor que morava no prédio que me desse sela mas mesmo assim não alcançava.

Quase matei o velho ao perguntar se poderia subir em seus ombro

Deu certo, alcancei , contudo o bondoso ancião precisou de ano e meio de fisioterapia.

E o Nondas não parava de miar.

Fui caminhando em cima do telhado e na medida em que avançava ele recuava, por pura birra mesmo!!!

Morava ao lado de uma padaria que tinha verdadeira enchente de clientes domingo pela manhã e de repente começou ajuntar gente para me olhar.

Uma "doidinha" que morava no mesmo prédio achou de colaborar comigo, subiu no telhado também e a platéia (nessas alturas já tinha um número considerável) ficava dando sugestões de como fazer para pegar.

O gato recuou, ficou no parapeito da sacada do primeiro andar e alguém teve a idéia de trazer uma rede de caçar borboleta.

Tentei, não consegui e a doidinha foi experimentar.

Por pouco que não caiu do telhado e um ohhhhhhh! pode ser ouvido há quarteirões de distância.

O síndico de meu prédio temendo que quebrássemos as telhas decidiu telefonar para o corpo de bombeiros, mas errou o número do telefone e chamou a polícia dizendo que haviam duas moças no telhado.

(Claro, para prender duas moças no telhado eles chegam rapidinho!!!)

Aumentava o número de pessoas assistindo e palpitando também, ao ponto de atrair a atenção dos vendedores ambulantes que estavam vendendo muito, face ao imenso calor que fazia.

De quando em quando olhava para baixo e pensava que se tivesse cobrando para me assistirem, faria uma grana preta.

Foi quando um moço muito bonzinho resolver subir também, teve a idéia de segurar a doidinha pelo corpo a fim de que ela pudesse avançar mais e se aproximar sem perigo do Nondas.

Exatamente nesse instante chegou a viatura da polícia.

Os guardas tiveram que pedir licença para passar porque algumas pessoas haviam colocado suas cadeiras de praia em frente ao prédio e ao mesmo tempo que pegavam um bronzeado assistiam ao resgate do felino.

O Comandante da PM foi comunicado e ordenou que três dos meganhas subissem e com todo empenho pediu ajuda ao Corpo de Bombeiros.

Como o calor estava muito forte achei melhor ir pegar a vasilha de água poderia servir de isca para o bichano.

Quando desci ele miou tão sentido, mas fiz ouvidos de mercador e fui. Quando cheguei ao chão, com a ajuda dos soldados, o Nondas saiu de onde estava e o pegaram.

Quer saber?

Coloquei grades nas janelas e fiquei conhecida no bairro todo, tanto que o dono da padaria disse que com o nosso passeio no telhado o faturamento aumentou muito e nem sei ao certo quem foi, mas mandaram uma gatinha de presente.

Penso que irá render boas outras aventuras.

Autor: Maria Cristina Galvão de Moura Lacerda


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