JUSTIÇA COM AS PRÓPRIAS MÃSO



JUSTIÇA COM AS PRÓPRIAS MÃOS?

E o fato é verdadeiro e a cena mais dantesca possível.
Oh, mano vai passando os celular e a grana, num tô afim de perdê o meu tempo.
Não vacila não meu. Que é só apertar o grampo e tá dominado.
A visão que se tinha de momento era de apavorar. Um rapaz moreno escuro, cabelo todo cheio de fitinhas, sem camisa, óculos escuros e um revolver de calibre grosso, como dizem por ai um "treis oitão".
Ta demorando mano. Ta querendo levar um pipoco?
E de repente a cena se torna mais dramática ainda. Ao ouvir a sirena de um carro, que podia ser uma ambulância, um carro de bombeiros, uma viatura da polícia militar ou civil, o assaltante teve sua atenção voltada para o soar da sirena e foi então que num gesto de pura defesa da vida, um ponta-pé foi desferido e logo a seguir uma série de socos que o levaram ao chão. A estas alturas o revolver já havia caído e a cena era de um verdadeiro pugilato. Onde o aturdido assaltante tentava se defender, correr, salvar o couro que estava em perigo. Não houve forma de fugir. A cada soco, a cada ponta-pé ele ia se desmoronando. Sangrava pela boca, pelo nariz e estava praticamente inconsciente quando alguém conseguiu parar com aquela pancadaria.

O assaltante de bermuda, tênis, boné e óculos escuros. O revolver com seis balas.
Não tinha compromisso com a sociedade, pelo contrário a sociedade é que deveria bancar as pedras de crack, a maconha, o cheirinho da loló, o pó branco batizado com talco, a cachaçada e por último o chá da raiz do santo-daime.
Já tivera algumas passagens pela polícia, fora condenado por assalto à mão armada, mas conseguiu sair por bom comportamento.

O assaltado de terno, pai de família, trabalhador, com imposto de renda em dia, com IPVA e IPTU e INSS em dia, afora todos os impostos diretos e indiretos pagos. Três filhos em idade escolar. Trabalhava em dois empregos. O primeiro iniciava às quatro da madrugada ? analista de suporte de um Data Center ? e terminava às treze horas. O segundo iniciava às quatorze horas e terminava às dezenove horas, sobravam então oito horas para sua família, mas à noite. Nos finais de semana aproveitava ao máximo. Nem celular deixava ligado, quando mais o computador.

Era uma massa humana. Todo ensangüentado. Semimorto. O rosto totalmente deformado. Na boca poucos dentes. O nariz achatado, ou seja, o septo nasal deixara de existir.

E então como que um milagre, surge a polícia. Dois policiais. Primeira atitude. Colocam algemas em quem? No assaltado. O bandido no chão, não consegue pronunciar sequer uma sílaba.
O senhor está preso, por agressão e tentativa de homicídio. Mas como assim? Quem tentou me assaltar e me matar foi este infeliz. Olha o revolver ai no chão. Mas mesmo assim o senhor está preso, por agressão e tentativa de homicídio.
Todos que ali estavam simplesmente começaram a vaiar os policiais que a estas alturas sacaram suas armas. Simplesmente foram sendo envolvidos pelos populares e ficaram sem suas armas, sem seus rádios comunicadores e foram colocados junto com o bandido no compartimento traseiro da viatura, destinado a transportar presos. Jogaram as chaves no bueiro, furaram os quatro peneus do carro dos policiais. E para piorar ainda as coisas, algemaram os dois policiais ao bandido.

Todos se retiraram e seguiram seus destinos.
A imprensa noticiou com letras garrafais. Os programas sanguinários e que vivem da desgraça alheia e para manterem suas audiências elevadas, comentavam o ocorrido.
No outro dia nos jornais matutinos juristas, especialistas em segurança, autoridades, juízes, promotores, delegados, comandantes da polícia militar e diretores da polícia civil eram entrevistados e davam as suas versões, desafiavam teorias e teorias. Os comandantes da policia militar sentiam-se ultrajados. Os diretores da policia civil apresentavam desculpas esfarrapadas. A área jurídica então deitava e rolava, para justificar a sua incompetência. Qual seja, toda a estrutura administrativa policialiesca e judicial tentava entender o acontecido.

Um jornalista gordo que vive há anos deste tipo de programa, clamava: JUSTIÇA COM AS PRÓPRIAS MÃOS.

Na realidade o fato aconteceu e o agressor foi levado para um hospital, ali ocupou um leito, recebeu toda a atenção que um ser humano deve receber, foi medicado, assistido por uma equipe médica multidisciplinar que cogitou até em fazer uma plástica nasal no elemento que estava ali sob seus cuidados. Algemado à cama e com dois policiais que se encarregavam da sua segurança.
Quanto custou ao povo daquela comunidade todo este episódio? Uma vez que o então preso custodiado em um hospital, por ali permaneceu por 28 dias? Quantas pessoas deixaram de ser atendidas e de usar aquele leito e as equipes médicas?

Em uma entrevista um perito em segurança, enchia e estufava o peito: Não se deve reagir a um assalto. Vale mais a vida. O celular, o carro o dinheiro isto a gente recupera.
Então estamos entendidos: Não se reage e a bandidagem sabendo desta pregação cresce cada vez mais. Adota o seguinte raciocínio: Se os "home" ta falando pros "troxa" num reagir, vamo que vamo.
E então o doutor togado entrou em cena: Não se pode fazer justiça com as próprias mãos. Sábias palavras endossadas pelos juristas e comandantes. Mas qual a justiça que hoje é praticada no Brasil?

Um bandido tem mais regalias que um trabalhador.
Um médico com especialidade, com doutorado, com pós-doutorado é morto por um infeliz que mal sabe fazer a letra "O" a não ser se sentado nu em uma areia fofa. Que não tem nada a oferecer a sociedade, a não ser a venda e consumo de drogas.
Um assaltante que apanha que é linchado pela população, arrisca ainda receber indenização do estado, e os que o agrediram serem processados, pois um delegado calça-curta ou não, resolve aparecer e ter seus quinze minutos de Ibope.

Qual o conceito que os magistrados têm de justiça?
Os seus rendimentos mensais e as suas intocabilidades (erro lexical), as suas posições no contexto da sociedade os distanciam da dura realidade das ruas, dos morros, das vielas, dos cativeiros, dos assaltos à mão armada, dos assassinatos. Simplesmente se orientam pelo Código Penal e Código Civil para proferirem suas sentenças. A estes não se pode sequer olhar de atravessado que o cutelo da lei entra em ação.

Se a justiça feita com as próprias mãos é inadmissível, a justiça feita pela Justiça é o superlativo de inadmissível.

O fato ocorrido deixou toda uma população com um tremendo ponto de interrogação na mente: Porque será que a policia só aparece depois do ocorrido? Porque será que a policia coloca várias viaturas nas proximidades de uma casa onde houve um latrocínio?

Infelizmente o Brasil é um país onde os errados estão assumindo estatísticas assombrosas em relação aos que estão certos.
Nós temos indústrias especializadas em fabricar módulos de segurança máxima, para penitenciárias com a mesma denominação.

Nós temos um contingente enorme de policiais e funcionários envolvidos em atender presos nos mais variados tipos de penitenciárias a um custo sem paradoxo algum.

Os governantes se enaltecem ao adquirir centenas de viaturas, de coletes a prova de balas, de rádios comunicadores, de uniformes estilo SWAT, em gastar centenas de milhões de reais para combater o crime. De inaugurar escolas de policias militares, de inaugurar novas cadeias e novas penitenciárias.
Ao contrário deveriam se envergonhar.

Mas o Brasil não tem indústrias especializadas em produzir módulos escolares, com elevada tecnologia e com durabilidade comprovada. O Brasil não tem o cuidado de buscar novos horizontes educativos, começando pelo fabrico modular de escolas, pois à medida que as nossas crianças são acolhidas nos recintos escolares, deixarão de freqüentar as cadeias e as penitenciárias.

E então nossos filhos e filhas, nossos irmãos e irmãos, nossas mães e nossos pais viverão em um país onde a Justiça com as próprias mãos será coisa do passado.
E os doutores togados, os comandantes das policias militares, os promotores, os diretores da polícia civil e os especialistas em segurança, deverão ser vistos com outros olhos pela sociedade brasileira.

Eu já fui vítima de tentativa de assalto, vi a minha esposa e minha filha prestes a serem vítimas de dois assaltantes. Fiquei reduzido à quinta essência da... em pó, ante a mira de um revólver. A minha reação? Não foi de praticar a justiça com as minhas mãos. Mas garanto que o assaltante que estava me apontando o revolver, deve estar com a orelha quente até hoje. Quanto ao outro também levou uns tabefes, de um outro senhor.

A Justiça deixou de ser tardia e não falhar. Pois quando ela vier a ser aplicada, provavelmente nós já estaremos voltados ao pó e quem praticou os atos criminosos, continuará nas penitenciárias, comendo, dormindo, vestindo, assistido na sua saúde e com todos os direitos constitucionais aplicados e com o apoio de uma pastoral qualquer e nós cidadãos e cidadãs pagando parte do nosso salário para mantê-los com seus celulares, visitas privadas, alimentação balanceada e comandando as barbaridades desde os presídios.

Uma coisa é certa.
O clamor da sociedade brasileira por Justiça vem desde o descobrimento do Brasil.
E continuará ainda por muitos anos, ante a caótica situação que se encontra nos dias atuais.




Autor: Romão Miranda Vidal


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