Loucura Ou Realidade?



Através da janela tudo parece estar envolto em brumas, o veículo caminha rápido e meus pensamentos voam.

Fico imaginando a chegada, os reencontros.

Ainda guardo mágoas e não sei ao certo qual será minha reação...

Cochilo algumas vezes e em uma delas sou acordada por choros que, irritantemente, pede pela imitando criança pela mãe e uma mulher pede que tome o medicamento.

Com certeza a mulher é alguma enfermeira ou coisa que o valha pois não é nada habitual um adulto falar assim.

Mergulho novamente no torpor e ao abrir os olhos noto que deve estar amanhecendo pois há mais claridade, lembro com saudade de quando criança acordava logo aos primeiros raios de sol. Que saudade!

Estranho que sempre gostei do amanhecer e o no entardecer sentia nostalgia.

Um dia ainda vou questionar alguém para saber o motivo.

Que diferença faz?

É, pensando bem, nenhuma.

Ouço a respiração de alguém dormindo ao lado e vejo um homem.

Esquisito, não percebi a chegado dele.

Devo ter estado dormindo.

Será que tomei algum sedativo?

De canto de olhos espio o fulano e ele ressona.

Deixa estar, penso comigo. Nem seria de muita valia ter com quem falar, não haveria de acrescentar nada mesmo.

Volto aos meus devaneios quanto ao meu regresso, repasso mentalmente velhas pendências e assusto quando penso que irei ter que encarar de frente.

Censuro-me por não ter trabalho melhor com o terapeuta a questão.

O veículo entra em uma zona estranha, escurece e uns demonstram medo, alguns até suspiram quando volta à normalidade.

Há uma voz que parece ser de uma pessoa bem idosa e certamente confusa visto que pergunta com insistência para onde está indo.

Talvez a comissária de bordo, ou sei lá quem, sugere que ela se acalme.

Nunca vi juntarem tantos doidos, certamente fazem parte do mesmo hospício. Sou uma também?

Sei lá...Tantas incertezas e novidades. O que tenho convicção é não tenho estado muito lúcida.

Novamente olho através da janela e vejo um campo florido. Parece familiar...

Será que foram avisados da minha chegada? Quem estará me esperando?

Notarão que mudei muito? Envelheci certamente...Culpo-me por não ter me cuidado mais.

Não me atrevo a levantar agora, mas tão logo pare, pegarei na bagagem de mão o creme hidrante.

De repente o veículo dá um solavanco e alguém grita pedindo ao condutor que preste mais atenção.

Uma voz ríspida responde: - Cuidado com quê? Seu idiota! Não notou que estamos todos mortos e não se morre duas vezes?

- Ouviram que o maluco acaba de dizer?

Não há resposta. Cai um pesado silêncio e cada qual tira sua própria conclusão.

Autor: Maria Cristina Galvão de Moura Lacerda


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