JANGADEIROS




JANGADEIROS
- VELAS MILENARES ?


Pequenas e frágeis, as jangadas parecem afrontar a soberania de Sua Majestade, o Oceano Atlântico. Contemplo-as de longe, daqui do alto de um morro na praia de Majorlândia, em Aracati, Ceará.
Com coragem e determinação os jangadeiros enfrentam os perigos do mar, porém o fazem com imenso respeito e uma discreta veneração. Sabem-se fracos, são-no de fato, mas o Oceano se apresenta dócil aos que lhe reconhecem a pujança e respeitam com disfarçada submissão todos os seus caprichos.
"Verdes mares bravios de minha terra natal" já cantara José de Alencar no seu belíssimo romance Iracema. E a beleza do mar cearense ainda é a mesma, apenas as jangadas já não são construídas com troncos de Timbaúba e a jandaia que cantava pousada na Carnaúba há muito emudeceu.
Mas não empalideceu a beleza das praias cearenses, que um dia ouviram o cantar mavioso da "virgem dos lábios de mel, que tinha os cabelos mais negros que a asa da graúna". O tempo cuidou de perenizar apenas a beleza do mar e nessa tarefa nunca dispensou a manifesta implicância de Poseidon, seu eterno aliado. O efêmero não se justifica no quadro das grandezas incomensuráveis ofertadas à existência como uma linha fronteiriça a delimitar o espaço ocupado pelo minúsculo objeto humano frente à imensidão cósmica que se avizinha.
Observo também a posição das velas das jangadas e reparo que estão todas voltadas para o Sul, agora que o vento sopra do Norte e elas precisam permanecer estacionadas em meio à imensidão de água esverdeada. E com que habilidade manejam-se as velas, para adentrar o mar, para se locomover ou retornar, mesmo com o vento contra! E que mistério interessante envolve o emprego da vela para mover embarcações!
A Humanidade avançou bastante por terra, água e ar, com veículos automotores, navios de transporte com capacidade para milhares de toneladas, trens de ferro, submarinos movidos a energia nuclear, aviões cuja velocidade ultrapassa a barreira do som e, entretanto, a vela criada pelos egípcios há quase seis mil anos e que revolucionou a navegação desde então, continua a servir ao homem, seja nos barcos de recreio, seja nas mãos modestas de um simples jangadeiro a enfrentar o mar todos os dias.
Graças à vela e técnicas de construção naval aprimoradas os fenícios dominaram o Mar Mediterrâneo e as costas atlânticas até o século II a.C, quando em 146 a.C os romanos venceram e conquistaram Cartago, a maior e mais importante cidade-estado fenícia.
A vela serviu também à indústria naval grega. Foram os gregos os inventores do birreme e do trirreme, embarcações ligeiras com duas e três fileiras de remadores e com velas. Eles construíram colônias às margens do Mar Egeu, do Mar Negro e do Mar Mediterrâneo, entre elas Bizâncio, a maior e mais famosa.
Técnicas de construção naval desenvolvidas pelos fenícios passaram ao domínio dos gregos e destes aos persas e romanos. E a vela esteve presente em todos os tempos e lugares.
Também os vikings, considerados marinheiros-guerreiros, foram grandes navegadores. Oriundos da união de povos nórdicos eles chegaram às costas do Canadá, que chamaram de Winland (terra das vinhas) por volta do ano 1.000 d.C. Seus barcos eram movidos por uma vela redonda e não dispensavam remadores.
Os chineses também deram importantes contribuições para o aperfeiçoamento da navegação, com o emprego de velas confeccionadas com talas de bambu e mastros em diversos ângulos. Seus barcos (juncos) eram mais eficientes e arrojados que as embarcações portuguesas em pleno século XV. O explorador chinês Cheng Ho já navegara pela Indonésia, Índia e o Mar Vermelho bem antes de ser criada em Portugal a Escola de Sagres, em 1419, onde se desenvolveriam as técnicas avançadas de navegação que levaram a construção das primeiras caravelas. O uso da vela foi aperfeiçoado a partir desta época, com o emprego de velas triangulares que permitem aproveitar o vento em qualquer direção.
Graças a este avanço os portugueses empreenderam a fase das grandes navegações, atingindo todo o continente africano, chegando em 1500 à terra que se tornaria a grande pátria brasileira.
E lá, ao longe, bem longe da praia, com suas velas enfunadas, as jangadas desafiam os ventos e o mar. Com a proteção da rainha Iemanjá. Saravá, minha mãe.


João Cândido da Silva Neto
(Escrito em Aracati-CE).

Autor: João Cândido Da Silva Neto


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