A ética Libertadora Da Prisão Psicológica
Muito se discute sobre se as transformações tão evidentes englobam outros tipos de avanço, principalmente no que diz respeito à ética. Nos deslumbramos com tanta tecnologia e recursos disponíveis que mal conseguimos avaliar os escores atingidos na escala ética, cujo gráfico é formado por medidas milimétricas, levando-nos a um convívio ainda atrasado, e de baixa velocidade em suas passadas. Contudo, apesar de tímido e quase invisível, o eixo de crescimento ético possui movimento.
Das virtudes, a ética demonstra ser a mais difícil de se obter. Ela custa a ser desenvolvida de maneira mais solta e corrente. Ainda vivemos o castigo como a sua forma mais rudimentar de se gerar bons princípios (quando é possível). A correção ainda é o instrumento que permeia as sociedades que alcançaram prestígio através do seu polimento exterior, relegando questões fundamentais como a ética para um plano de inferior prioridade. Agora, contudo, o foco é diferente, e muitas pessoas movimentam-se na direção deste tipo de mudança. Urge transformar a convivência atual, que não é a melhor, por uma adaptação mais ideal. Aristóteles (384-322 a.C.) descreveu: O homem bom é, por si mesmo, independentemente da sociedade, completo em sua interioridade; a justiça lhe é uma virtude vivida, por meio da ação voluntária. A lei continuará a servir o homem, haja vista a realidade e o tempo e muito trabalho que se tem pela frente. Porém, o que pode ser mais bem desenvolvido é uma lei interna, psicológica, cujos efeitos sejam o de formar bases éticas a partir da razão. Ou seja, podemos ser melhores de dentro para fora, diferentemente de se temer as punições pelo que aprendemos de fora para dentro.
Esta lei interna se assemelha a um funcionamento psíquico auto-regulador, que é o responsável por direcionar, inconscientemente, cada pensamento ou ato cometido injustamente conforme os padrões de aprendizagem às punições correspondentes. Ou seja, Encontra-se em nós a seqüência lógica de justiça: culpa, punição e desenvolvimento. Diz Platão (428-347 a.C.) que o castigo segue de perto o pecado. Hesíodo (770-700 a.C.) aponta que: nasce o castigo no momento mesmo em que nasce o pecado. E, a polaridade contrária ocorre também, os benefícios fazem parte deste tipo de auto-regulação. Este mecanismo psicológico acompanha a evolução humana e, portanto, também está em desenvolvimento, conferindo-lhe uma determinada atuação, que encontra avanço a medida em que a consciência a seu respeito também progride, descortinando estes acontecimentos obscurecidos pela nossa inconsciência.
O conhecimento a respeito deste tipo de transformação é o primeiro passo para a sua realização prática. Primeiro conhecer e fazer sentido, para depois desenvolver esta nova revolução. É uma oportunidade de se educar e modificar conceitos e impressões, ainda que a experiência e o cotidiano nos digam o contrário através dos seus fatos negativos, percebidos ao vivo e por meio das notícias. A consciência que se pode obter acerca da vida ética é motivadora para que se continue na íngreme jornada. É uma nova competência que se pode chamar de Inteligência Ética.
Transformações por meio deste tipo de inteligência são fortes e interferem no convívio humano, favorecendo a quem dela se utilizar. Colher-se-á o fruto daquilo que foi plantado competentemente. Quem não desejará, em sã consciência, usufruir uma lei que oferece bons resultados no lugar de desprazeres, dependendo de como somos e agimos? Quem há de se manter, voluntariamente, preso à corrente dos efeitos causados por si próprio? Quem almeja maior liberdade através da ética?
Autor: Armando Correa de Siqueira Neto
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