O Mini(a)stro



Todo mundo anda falando sobre o novo mini(a)stro do meio ambiente. O homem mal chegou, e já arrasta sobre si todos os holofotes. Não gosto de modismos, mas já que Carlos Mídia, ou melhor, Minc, está nos hits, vamos nos render e comentar... Planejei escrever um artigo austero sobre o assunto, estabelecendo paralelos entre a administração de Marina Silva e os horizontes de Minc, as tendências do governo e o agronegócio, etc... semana passada. Esta semana estou mais para ironias. Reflexo talvez dos últimos fracassos de nossa sociedade – CPI dos cartões virando pizza, malfadados dossiês, fazendeiros pistoleiros comemorando a liberdade – minha consciência crítica anda abalada. Rio das notícias de jornais. Faço piada. A entrevista do mini(a)stro ao Correio Braziliense me rendeu boas gargalhadas e algumas idéias. Não me julguem. Apenas leiam. Semana que vem, prometo conter essa minha veia cômica.

ConFABULAções:

1 - Minc afirmou que pretende manter a política do ex-monastério, ops! Desculpe, do ex-ministério de sua predecessora, a anti-trangênica Marina Silva para a Amazônia, implementando outras coisas que ela ainda não havia feito. E sugere que a desertoraassuma a chefia de um fundo internacional para captar recursos para o nosso "patrimônio mundial".

Perguntas bobas: Será que o governo vai permitir que ele faça o que antes não permitia à outra fazer? Com essas contribuições internacionais, qual é o presidente que mais vai gostar de ter um pezinho aqui, definitivamente?

Minha proposta: Em vez de internacionalizar a Amazônia, sejamos egoístas. Vamos nacionalizar. Proponho que seja repartida em 14 lotes hereditários, que seriam doados a 12 nobres personalidades brasileiras, encarregadas de resguardá-la. A escolha dos signatários se daria por mérito. Exemplo: primeiro a Xuxa, porque ela já é rainha (quer mais nobre que isso?). Depois Pelé e Roberto Carlos, pelo mesmo motivo. Entre outros não reais, porém não menos importantes, Tiago Lacerda, porque é bonito, meu primo Chiquinho, que acredita em duendes e políticos honestos, e eu, que tive esta brilhante concepção. Aliás, já até sei o que farei com a minha parte: vou abrir um parque temático, o É-UMA-ZONA, e oferecer pacotes turísticos que incluem hospedagem em palafitas, banho de chuvas torrenciais e passeios de balsa. Um arraso!

2 – Minc propõe que o exército passe a tomar conta dos parques nacionais, zelando pelas nossas belezas naturais.

Pergunta boba: A cor dos uniformes dos soldados ainda seria verde, ou deveria ser outra, para que os nossos atuais verdinhos não corram o risco de ser confundidos com a ramagem (ou será essa a intenção, um flagra aos infratores a lá Macbeth)?

Minha proposta: Sugiro que o ministério da defesa crie um sub-setor ligado ao PDN, o PDNV, Política de Defesa Nacional Verde, e que a marinha e a aeronáutica também tenham uma parte do efetivo designado para resguardar nossos jardins. Todo mundo sairia ganhando. Meu jardim anda muito descuidado, e seria interessante ter um marinheiro por aqui supervisionando os trabalhos...

3 – Em resposta ao prefeito on-line do Rio de Janeiro, César Maia, que pede que a gestão do Corcovado passe do Ibama para a prefeitura, Minc garante que vai pensar sobre a possibilidade de uma co-gestão solidária. E se mostrou simpático ao plano de implantação de uma linha metrô-ônibus que faça a integração para a subida ao monumento (uma forma de popularizar a atração para os cariocas e turistas, e de combater o assédio dos motoristas de vans no local).

Pergunta boba: Será que vai dar lotação, mesmo a tarifa sendo um pouco mais cara? Imagine boa parte da população carioca resolvendo passar o dia aos pés da estátua, os indivíduos tendo que se acotovelar uns nos outros, como já acontece aos finais de semana nas conduções para a Zona Sul?

Minha proposta: Tudo que é público é ruim. Não funciona direito. Sem dispensar a integração, que por si só já seria um atrativo, poderíamos pensar em inovar. Ou melhor, privatizar. Vender o nosso Cristo por 30 dinheiros nacionais (estrangeiro não pode, imagina ter que dizer Redeemer Christ), e ter inúmeras opções de lazer e transporte pagando o mesmo preço – porque seria uma das exigências do contrato manter o valor acessível aos cariocas. Se a empresa vencedora do pregão pusesse ações da propriedade à venda, melhor ainda. Eu compraria algumas, as dividiria e sortearia através de milhares de rifas, na intenção de (ganhar algum, primeiramente) facilitar ainda mais o acesso do povo, como dono de parte do negócio. Gostaram? Lucro para todo mundo.

E estes são só alguns itens. Para ficar perfeito, precisa muito mais. Precisa engajamento coletivo no auxilio à elaboração de projetos. Se vocês tiverem alguma idéia sobre como combater o desmatamento na Amazônia, como resolver o problema do transporte no Corcovado, ou mesmo como tirar pontas duplas dos cabelos (um verdadeiro horror), postem aqui seus comentários. Os melhores serão premiados com pacotes turísticos para o parque temático É-UMA-ZONA, e bilhetes integração metrô-ônibus para o Corcovado. Por falar nisso, vai uma rifa aí?

PE: Falando sério:

Não sou contrária à gestão de Carlos Minc. Espero de fato que ele consiga exercer seu cargo de forma satisfatória e eficiente, o que não é tarefa fácil, dados os interesses em jogo. Mas devemos estar atentos e não nos deixar levar, porque, diferentemente do que se sustenta na mídia, ele não é nenhum herói reformador, e com certeza não ocorrerão grandes mudanças – como se alardeia – no setor. Vencedor do Prêmio Global 500, da ONU, autor de diversas leis aprovadas na Assembléia Legislativa, a maioria relacionadas a projetos ambientais, o novo ministro tem um currículo interessante. Mas também é protagonista de alguns fatos polêmicos, como a revogação da lei criada por ele mesmo, ao assumir a Secretaria do Meio Ambiente do Rio de Janeiro, que limitava em território do estado as plantações de eucalipto, consideradas prejudiciais (em claro favorecimento à Anacruz Celulose). Recebeu críticas ao licenciar rapidamente, e sob critérios políticos, obras de forte impacto ambiental, como o Comperj e o Arco Metropolitano. Em uma ocasião, recebeu denúncia de que moradores da favela da Rocinha faziam construções irregulares em área de preservação ambiental. Acompanhado de jornalistas, foi ao local e descobriu que se tratava de uma quadra de tênis, feita por moradores de um condomínio de alto luxo. Nada aconteceu.

Quanto aos projetos acima citados, sou favorável à transferência da administração do Corcovado para a Prefeitura do Rio de Janeiro, que de fato tem mais recursos para gerenciá-lo, e à integração metrô-ônibus, desde que venha como complemento (e não substituição) ao transporte alternativo legalizado para fretamento na SMTR. Considero positiva a intervenção do exército em áreas ambientais, e acho execrável a postura de Minc, ao declarar que irá defender a criação de uma instituição internacional de Preservação da Amazônia no encontro interministerial de Bonn, Alemanha. Agir assim, a meu ver, é entregar o ouro ao bandido.


Autor: Daniele Barizon


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