Uma Missa Mixuruca



Certa vez, fomos a uma cidadezinha do interior, visitar a casa de um tio da minha mulher que eu não conhecia, mas que era muito querido por todos, mas que fazia muito tempo que ela não o via. Já fazia quase uma semana que ele havia morrido, e a família esquecera de encomendar a missa de sétimo dia, em homenagem a sua morte.

Todo mundo muito abalado, ainda, pelo seu passamento, quando então, sugerido pela minha mulher, me incumbiram de ir até a igreja e procurar o padre para que o mesmo celebrasse a missa de sétimo dia.

Para mim, missa de sétimo dia é aquela em que o padre cita o nome do falecido no início, quase sempre errando o sobrenome se for difícil, juntamente com mais doze pessoas que completam, desde um mês de morte até um ano, e aproveita para parabenizar os aniversariantes do mês.

A gente se prepara todo para a missa de sétimo dia de um ente querido, convida todos os familiares e conhecidos, para ouvir uma única vez o seu nome no início da missa. Aquela citação de seu nome é o grande momento da missa e precisamos estar com os sentimentos e os nervos mais do que a flor da pele, ao jardim inteiro da pele, para ter uma verdadeira sensação e emoção daquela homenagem.

Mas naquela pequena cidade as coisas eram diferentes. Lá, uma missa de sétimo dia tinha a sua importância e o seu valor. Lá, as celebrações católicas eram levadas com toda a pompa e circunstância que cada sacramento exigia. Quando eu ouvi isso do padre, confesso que, mais do que surpreso e feliz, eu me preocupei.

Vindo de uma cidade grande e acostumado com as relações comerciais que infernizam e entopem nossas vidas, sempre que alguém nos vêm dizer que as coisas têm que ser feitas com mais capricho, logo me vêm a cabeça mais cobranças e mais gastos.

O padre começou então a me dar os tipos de missa de sétimo dia que a sua igreja tinha a oferecer:

Temos uma missa com muitas flores, órgão e um coral de beatas, que custa quinhentos reais.

- Quinhentos reais?!! Eu disse.

O senhor não tem algo mais barato.

Ele então disse que tinha uma missa de sétimo dia sem o coral de beatas só flores e com o órgão, que custava trezentos reais.

Eu disse que ainda estava muito caro e que se não havia algo bem mais simples.

Ele então, ficou vermelho, franziu atesta e lascou:

- Tem uma missa sem o coral de beatas, sem o órgão e só com dois buquês de flores que custa cem reais, mas já vou lhe avisando que é uma missa muito mixuruca!

Sérgio Lisboa.


Autor: Sérgio Lisboa


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