Administrar A Cidade Como Uma Empresa



Breve análise de aspectos que causam perda de competitividade da cidade de São Paulo

Faz já algum tempo que foi incorporada ao vocabulário de negócios em nosso país a expressão Custo Brasil o qual representa os inúmeros entraves que existem em nossa realidade econômica e que, geralmente tornam nossos produtos mais caros do que o de vários outros países.

São Paulo, a maior cidade e mais vibrante centro econômico do país e um dos principais da América do Sul, vive uma situação no mínimo paradoxal.

O perfil econômico da cidade tem passado por muitas mudanças notadamente ao longo das últimas duas décadas e grande parte da atividade econômica está centrada na área de serviços. No entanto, ao mesmo tempo em que ocorre este desenvolvimento, em detrimento à área industrial como foi por muitos anos, tem aumentado também a necessidade por constantes deslocamentos.

Contamos com uma frota da ordem de 5,358 milhões de automóveis, quase 10.000 ônibus e pouco mais de 57,6 km de linhas de metrô (52 estações) transportando 1,7 milhões de passageiros por dia. Com os atuais investimentos e obras de expansão da malha metroviária, até 2010 deverá atingir 88,5 km.

Com índices de congestionamentos diários que facilmente superam os 60 km 70 km em dias normais e da ordem de 90 km 100 km em dias chuvosos, transitar pela cidade para cumprir compromissos de negócios, emergências diversas (médicas, policiais, resgate, etc), entregas de encomendas, entre outros, têm se tornado um grande desperdício de recursos.

Naturalmente que trânsito é uma realidade presente em inúmeras metrópoles ao redor do mundo, porém, nem por conta disso, considero que se deva acomodar com a situação e não se procurar por alternativas viáveis de minimizar a situação e que realmente promovam uma diferença significativa no tráfego.

O Rodízio Municipal que restringe a circulação diária de 20% dos caros da cidade no Centro Expandido já está em vigor desde 1996, no entanto, quando de sua implantação, a frota era inferior a 4,7 milhões de automóveis.

Entendo que é difícil mensurar em cifras, mas é possível ter-se uma idéia bem clara da dimensão dos prejuízos provocados pelo trânsito exagerado da cidade e sua conseqüente perda de competitividade como, por exemplo:

  • Desperdício de combustíveis;
  • Desgaste prematuro das vias de rodagem e conseqüentes aumentos de gastos com freqüentes manutenções corretivas;
  • Perda de tempo em deslocamentos na medida em que estes acabam tendo a duração dobrada quando não triplicadas;
  • Aumento no custo de fretes os quais invariavelmente acabam sendo repassados ao consumidor final de uma forma ou de outra;
  • Aumento da poluição do ar e comprometimento da já precária qualidade de vida na cidade;
  • Negócios diversos que deixam de ser efetivados em virtude destas dificuldades;
  • Perda de arrecadação do município na medida em que potenciais empresários deixam de investir na cidade temerosos de problemas de logística e perda de competitividade ante a concorrência. Além disso, deixa-se de criar postos de trabalho e geração de renda para diversas camadas da sociedade;
  • Vidas que correm riscos, pois os serviços de ambulâncias, socorros, resgates, bombeiros e policiais acabam demorando mais do que o admissível para chegar ao local onde se faz necessário e também para transportar pessoas feridas ou necessidade de atendimento médico-hospitalar.

Ou seja, como é possível constatar, são diversos os aspectos influenciados pelos congestionamentos exagerados na cidade.

Obviamente que seria utópico imaginá-la totalmente sem trânsito. Mesmo sendo o desejado, existe uma grande diferença entre o ideal e o possível. Entre o factível e o imaginário.

Porém, mesmo assim, é inegável a parcela de responsabilidade do poder público municipal em implementar projetos e soluções visando mudar este quadro no médio prazo.

Os governantes vão se sucedendo no cargo e, lamentavelmente, o que presenciamos são apenas iniciativas pontuais e paliativas desprovidas de um planejamento mais abrangente, consistente e lastreadas em um projeto de futuro para a cidade.

Não há planejamento, não há preparo, não há estudo. Ou, quando há algum, não sobrevivem a um mandato e jamais saem do plano das intenções para o das ações concretas.

Muito se fala também sobre a valorização do transporte público como uma alternativa para estimular as pessoas a deixarem o carro mais vezes na garagem e, desta forma, contribuir para melhorar o trânsito e o nível de poluição atmosférica e até mesmo a sonora. Porém, fica-se muito mais no discurso do que na ação de fato.

Qual a situação do transporte público na cidade atualmente?

  • Grande parte da frota de ônibus está em péssimas condições de conservação, limpeza e até mesmo de segurança em alguns casos;
  • O metrô está já há muito tempo no limite de sua capacidade nos horários de pico e fora dele a situação também não é tão diferente assim;
  • O alcance da malha do metrô é muito tímido para o tamanho de nossa cidade e uma população de 19,7 milhões de pessoas. A título de exemplo, na Cidade do México, a malha do metrô compreende 201,7 km (população de 21,5 milhões de habitantes), Londres 408 km (275 estações e população de 7,2 milhões de habitantes), Paris 213 km (acima de 300 estações e população de 2,125 milhões de habitantes), Moscou 275,6 km (população de 12,5 milhões de habitantes) e Nova York 398 km (468 estações e população de aproximadamente 20 milhões de habitantes).

Desta forma, muito mais do que pontes, viadutos e avenidas espalhados por toda parte, o que se faz necessário de fato é um planejamento estratégico de médio e longo prazo para a cidade onde sejam estabelecidos metas e objetivos claros no que concerne como queremos que ela seja daqui a 10, 20, 30 anos ou mais.

Sendo assim, não basta fazer obras relâmpagos no último ano de mandato fadadas a se tornarem esqueletos a céu aberto ou, mesmo que concluídas, não façam parte de um planejamento mais amplo.

É preciso que a cidade seja pensada como uma empresa que precisa apresentar condições favoráveis e adequadas para produzir cada vez mais e melhor, seja competitiva e, principalmente, que dê resultados aos seus acionistas-cidadãos.


Autor: Luiz Valério de Paula Trindade


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