Parecia Amor



"O que você disse?" ele perguntou incrédulo, o chão parecia ter saído de seus pés. "Eu disse que vou embora, você não ouviu meu amor?" As últimas palavras soaram irônicas, ferinas, machucavam mais ele do que qualquer coisa. Mas ele não se deu por vencido, não assim, de repente. Precisava de algo, uma explicação: "você não pode simplesmente sumir da minha vida! Você é minha esposa, são cinco anos de casados, você não some assim simplesmente. O que houve? Eu exijo uma explicação! O que quer que seja, nós vamos superar, é apenas uma crise passageira! Mas seja franca, me diga o que houve, o que você está sentido, porque quer me abandonar de repente?!"

Ela se sentou, calmamente, acendeu um cigarro e cruzou as pernas, tão calma, que parecia que nada estava acontecendo. A luz da penumbra da sala, o silêncio, Deus, ele pensou, ela era maravilhosa, ela continua maravilhosa, mesmo quando me machuca. Seu rosto impávido, sua tragada longa no cigarro, lhe davam um aspecto de modelo de revista, top model. Ela soprou a fumaça do cigarro para cima, uma fumaça azulada que dançava na sala, como um fantasma silencioso. Então ela falou.

"Deus, vocês homens são completos idiotas! Eu disse que vou embora. Não há nada que você possa fazer, porque não há problemas no nosso casamento. Eu simplesmente não quero mais ser casada, desisti." Ele olhava para ela, ela parecia tão calma, meu Deus, como ela pode estar calma assim? "Porque você desistiu de nós? Porque agora?" "Nunca houve nós, meu bem." Ela responde amassando o cinzeiro com força, como se tivesse uma fúria assassina debaixo daqueles lindos olhos azuis lívidos. "Eu fiquei com você porque você tinha futuro na firma. Vi desde o início. Você nasceu para ganhar dinheiro. E você sabe, eu adoro dinheiro.." ela sorriu, um sorriso diabólico que quase parou o coração dele, meu Deus quem é essa mulher, ele se pergunta ela nunca falou assim, não comigo! Ela continuou: "desde o começo eu sabia que você iria ganhar muito dinheiro, que eu teria jóias, roupas caras, jantares. Eu sempre quis uma vida de luxo. Aliás eu mereço não é verdade? Sempre fui linda, os homens sempre disseram isso. Uma mulher linda como eu não se contenta com pouco." "Como assim, você está dizendo que se casou comigo por dinheiro, é isso? Mas e nosso amor, nós sempre fomos apaixonados um pelo outro. E as ligações? Você vivia e ligando, dizendo que eu era o homem da sua vida!".

Ela sorri, agora abre os dentes. Seus olhos brilham. Ela continua lindíssima, linda com seus olhos azuis, seus cabelos dourados. Mesmo diabólica, mesmo agindo como ela está agindo, sem piedade, ainda assim ele pode dizer: é a mulher mais linda que já vira. E sim, ele ainda se sente apaixonado por ela. Por isso mágoa, por isso dói tanto.

"HAHA, homens, sempre idiotas, eu não disse? Tão fácil tirar dinheiro de você, tão fácil eu conseguir o que eu quero. Talvez eu devesse ter tirado mais ainda!" "Tirar mais? Você me fez trabalhar dobrado, fazer horas extras! O dinheiro nuca chegava! Você queria viagens, jóias, jantares finos! E aquele Mercedes que eu te dei? Você não parou de me pedir enquanto eu nãocomprava ele para você!" "Você queria minha beleza, meu bem, você tinha que pagar o preço. Achou que sairia barato? Que sou uma puta barata?" Ela sorria, jogando os cabelos para o lado, ainda mais sarcástica. Ele tremia, não sabia se de ódio ou outra coisa, pois nada parecia real, parecia um pesadelo horrível do qual não conseguia acordar, mesmo se quisesse. A raiva agora vinha, como uma torrente, invadindo seu coração, seu cérebro: "você é uma puta! Puta ordinária! Agora me conta que casou comigo sópor dinheiro, puta, puta interesseira, é isso o que você é! Uma puta vagabunda!"

Ela ri alto. Aquela risada que ele amava, que ele gravou em vídeo, fotos, ele amava aquela risada, aqueles olhos, parece que os olhos dela ficavam mais azuis, que sua pele ficava ais rosada. Mas agora a risada feria como um punhal frio no peito. "Sim, pode me chamar de puta! Mas não puta barata, puta burra. Eu cobrei caro, cobrei bastante... e nem transei tanto assim com você..." ela para, abaixa a cabeça como que escondendo os olhos. De repetente levanta os olhos e o azul está mais límpido, mais claro, seus olhos são como uma piscina de águas translúcidas. Olhos inocentes e angelicais, ele pensa, como uma pessoa assim pode ter olhos de anjo? Como um ser diabólico pode parecer um anjo? Ela continua a falar, sem se importar de magoar ele. Agora fala olhando nos olhos, falando como quem atira para matar " e certamente não foi nem metade das vezes que eu transei com meu amante."

Ele agora está branco. Sente a sala rodar, perde o equilíbrio. Já não sabe nem mesmo onde está. Um whisky, preciso de um uísque ele pensa. "Preciso de um whisky" ele vai até o bar, se serve de uma grande dose de seu uísque importado e toma de um gole só, whiskyde 25 anos, sabor incomparável, selecionado, mas nada disso importa, ele nem sente o gosto só toma o whiskypara ter coragem de continuar, para fazer a sala parar de girar. Quando recupera o fôlego, aquecido pelo whisky, ele fala a ela: " Um amante! Sua puta, claro tinha que ter outro!" agora ele sente o sangue sub ir a cabeça, já não importa mais nada, já não liga pra nada " sua ordinária, a quanto tempo você me traí? Quem é ele? Eu quero saber, eu exijo saber!!"

Seus olhos azuis fitam ele, ela fica meio surpresa com a explosão de raiva "muito bem, você está com raiva! Isso é bom, mostra que você não é um idiota completo! Haha! " Ela ri, depois retoma "é um garotão, sarado, boa pinta, corpo de modelo, rostinho de menino, você sabe. Ele me faz gozar, sabe me comer direitinho..." ela usa as ultimas palavras com uma voz suave aveludada, a mesma que ele ouvia na cama entre gemidos de prazer "sua puta! É isso então, eu me matando no trabalho para você fuder com outro?" "Ora meu bem, não faça isso um drama. Acho você bonitinho, mas ele é demais, é lindo demais, gostoso demais.""Porque não ficou com ele então? Porque me enganou todo o tempo?!" "Ora a resposta não é óbvia?"Ela disse levantando a mão para cima, como em um ar professoral "ele é lindíssimos, mas infelizmente, não tem grana. É um garçonzinho. Lindo, maravilho, mas garçonzinho, surfista nos finais de semana... enfim eu ia acabar numa favela!" ela sorri, acende outro cigarro e agra dá uma baforada com vontade, parece mais leve depois de ter falado tudo, seus movimentos são mais soltos, como de uma bailarina, graciosa, linda. " Pois bem, pode ficar com a porra do seu garçom!" ele fala, já gritando, toma mais um gole do whisky , agora na garrafa. Ele quer ficar bêbado, quer desaparecer. Ele está tomado pela raiva. "Mas você vai morrer de fome sua vadia, vai acabar sua boa vida, suas jóias, seu carro Mercedes!"

Ela continua impávida. Lança uma baforada para cima, uma nuvem espessa, parece que nem vai se desmanchar no ar. "Não é bem assim, meu bem.... tem o dinheiro do divórcio, eu fico com a metade lembra? A metade de sua grana já me basta, já dá uma boa vida até eu achar um outro otário.. enquanto isso eu fico me divertindo, viajando numa lua-de-mel com meu amante gostoso!" "Você não vai tirar nenhum centavo de mim, isso eu garanto sua puta!" Ele berra, está totalmente descontrolado "vou sim, eu sou advogada, você esqueceu? E Eu conheço os melhores advogados de divórcio, aliás eu já arrumei o melhor para mim. Um divórcio litigioso e longo, mas no final eu vou conseguir o que eu quero, pode ter certeza! " ela traga o cigarro calmamente, seus olhos fitando o infinito, seus cabelos ondulando levemente pelo vento. Linda e maravilhosa e ainda assim tão mortal, tão sem coração.

Ele não sabe o que fazer. Já tomou metade da garrafa de whisky. Suas pernas estão bambas, seu rosto está vermelho. Ele agora sente calor, abre a camisa. Olha pela janela, já não sabe mais o que sente. Ele diz "Mas nossos planos? Íamos ter filhos, nossa casa. Íamos ser felizes! Fizemos tanto planos juntos, montamos nossa casa, nossa lar, juntos! Como você pode ser tão ria? Isso não significa nada? Como você pode não sentir nada? São cinco anos de casados poxa!" "Cinco anos de tortura, meu bem" ela diz sarcástica "cinco anos que eu espero para me livrar de você, voltar pra meu amante gato. Nunca tive planos de casar, virar uma dona de casa gorda na menopausa? Cruzes!" Ela faz uma cara de nojo "só o que eu queria era seu dinheiro, deixei você sonhar com tudo, com nosso lar. Na verdade você sonhou por nós dois, eu só queria me enroscar nos braços do meu amante e gastar seu dinheiro. "

Enquanto ela falava, ele bebia mais e mais. Estava totalmente bêbado. Ela olhava para ele com um sorriso, calma, tragando seu cigarro sentada na poltrona, esperando dele alguma reação, alguma palavra. "Mas porque agora?" foi tufo que ele conseguiu dizer, ainda estava meio tonto, os pensamentos não vinham encadeados, o que pensar, ele não sabia direito, estava difícil alinhar os pensamentos. "Porque sua firma vai mal. Duvido que você consiga reerguer ela, duvido que você consiga mais dinheiro. Então vou pular do barco enquanto ele não naufraga, sair com a maior parte que eu puder." "Eu posso gastar tudo, mandar tudo pro ares! Posso gastar todo o dinheiro, daí nem você, nem seu amante, ninguém fica com nada!" "Não esqueça que a maioria dos bens estão em meu nome... acha que não pensei nessa possibilidade? Eu sempre pedi para você colocar em meu nome, o que é meu é seu, lembra que eu dizia?" seus olhos brilham, ela está feliz por ter antecipado o movimento dele "quase tudo está em meu nome... as propriedades, os carros... as jóias eu já levei daqui. Já entrei com o pedido de divórcio, os bens não põem ser vendidos... vou ficar com seu dinheiro, quer queira, quer não. Sou advogada, minha profissão é antecipar esses acontecimentos, sabe."

Ele olha para o pescoço dela enquanto ela falava, um colar de diamantes, mais caro que dois carros Corolla, ele lembra, presente dele de natal do anão passado. "Fique comigo "ele diz. "Como?!" ela pergunta intrigada, não entende direito o que ele quer dizer "fique comigo, eu não me importo que tenha um amante, que não me ame. Eu não ligo." Ele agora está soturno, sua voz parece cavernosa, vindo das profundezas. Ele parece distante " faço que quiser, mas fique comigo. Eu continuo lhe dando dinheiro, tudo que quiser. Deixo você fazer tudo que quiser, mas não me abandone."

Ela não acredita no que ouve, puxa os cabelos do ombro, abre um rosto de espanto e diz "como é que é? Você quer que eu continue com meu amante, te traindo, você me dando jóias, dinheiro, tudo que eu quiser, é isso? Vou poder fazer tudo que eu quiser, transar com meu amante quando quiser?" ele olha para ela, os olhos estão em lágrimas, mas ele não quer chorar, não na frente dela. "sim, você entendeu. Pode fazer tudo. Só não me abandone. Não sei viver sem você."

Ela ri alto, agora se levanta da poltrona. É uma mulher alta, esguia, muito linda, rosto perfeito. Quando ela fala com ele, é completa pena que ela sente "Meu bem, por favor! Você é tão patético, tão tolo... desculpe, mas eu não te amo, não sinto nada. Vou apenas pegar minha parte e ficar com meu amante." Ela olha no fundo dos olhos dele, agora ela sente pena. Meu Deus, ele pensa, esta pena dela dói mais do que saber que ela me traí, como isso é possível?!

"Olha, eu no fundo gosto de você... talvez a gente possa ser amigos" ela fala, agora em um tom de voz suave, mas ainda assim parece mais maquiavélica "você deve seguir em frente, o que passou, passou. Eu sou uma verdadeira ordinária. Você vai arrumar uma mulher legal, que te entende, que vai lhe dar amor de verdade... eu sinto isso no fundo você é um bom homem. Você vai achar alguém para lhe fazer feliz!" Ela diz suavemente, como se importasse com ele. Era isso então, essa ordinária pega meu dinheiro, me trai o tempo todo e agora, no final quer sair como boazinha, quer sentir pena de mim. Não basta tudo o que fez, ainda quer me tratar como um coitado! Ele agora bebe vodca, a garrafa de whiskyjá está vazia, vodka russa, da melhor qualidade ele pensa, a melhor vodka para a melhor sacanagem que já me fizeram.

De repente então, ele lembra. Lembra de negociar com banqueiros, com seus sócios, dos problemas da firma, de tudo que enfrentou. As crises, os plantões noturnos, as noites mal-dormidas. Toda sua luta para erguer a firma, para transformá-la em uma grande empresa. Até virem os problemas, aumento abusivo por parte dos fornecedores, crise financeira, os bancos cobrando... uma crise sem igual, ele já estava duas semanas sem conseguir dormir direito. Ele sempre foi forte, sempre segurou a firma nos piores momentos. Mas não mais, agora a crise viera de verdade. Não havia saídas, não havia como manter a firma. E agora isso, sua esposa dizendo que vai embora. Haveria ligação? "Você não quer ficar porque a firma vai falir, não terei mais um tostão. Serie apenas um homem pobre." Ele diz isso não como uma pergunta, mas como uma constatação. Ela fica meio sem jeito "Não, você ainda pode reerguer a firma, você é bom nisso!" "Mentira. Não minta para mim! Não minta agora, sua puta, agora que já me contou tudo! Não minta!" Ele grita, com raiva, bem no rosto dela. Ela se afasta "está bem, quer ouvir a verdade não é? É isso, vou embora porque você vai falir, vai virar um pobretão, e de que me serve você pobretão? Prefiro mil vezes o meu garçom, pelo menos é muito mais gato que você!" Ela diz isso como que para revidar a raiva dele "Claro, não sobrou mais nada não é? Você vai fugir com seu amante levando o pouco que me resta. A firma faliu, meu casamento também, casamento por dinheiro, só dura enquanto a firma durar não é?! Agora a galinha dos ovos não põe mais ovos, então você vai sacrificá-la. "

Ele parece ter entendido tudo. Parece estar com uma lucidez incrível, apesar de estar completamente bêbado. Ele bebe da garrafa de vodka, mas já nem sente mais o álcool entrar na sua cabeça. Está tão bêbado, mas ao mesmo tempo tão lúcido, sente como quando vai fazer um grande negócio, quando descobre uma grande oportunidade. Por isso ele era um grande executivo, tinha um faro especial, um instinto. E agora de novo ele sente seu instinto aguçado, como nunca estivera antes.

"Bem chega de tanta conversa" ela diz "eu tenho de ir, amanhã virão os papéis do divórcio, daí nós acertamos tudo. Esta é a última vez que você me vê, agora só nos tribunais benzinho. Preciso ir, meu novo homem me espera, hoje é uma noite especial pra nós dois, temos de comemorar" ela ajeita o cabelo. Ela está tão linda, ele pensa, ele fica os seios ela, maravilhosos, implante de silicone que ele pagou, sua pele macia como pêssego, sem imperfeições, todos os cremes importados que ele comprou, tratamentos, e os cabelos, há os cabelos: cabeleireiro três vezes por semana, tratamentos caros. Aqueles cabelos custaram uma fortuna. Um anjo, é isso que ela parece, um anjo linda e maravilhosa, olhos azuis límpidos, pele macia. Nunca um anjo foi tão bonito, nunca ela esteve com uma beleza tão radiante. Um verdadeiro anjo, ele pensa, que brilha na luz, como pode ter uma alma tão diabólica? Quando ele vê, sua mão já está abrindo a gaveta, quase sem pensar, quase automático. De repente está lá, sua mão segurando um revólver.

"Como um anjo.." ele diz e aponta a arma para a cabeça dela. Ela fica apavorada, mas depois se recompõe e tenta permanecer ria. As mãos delas tremem, mas sua voz tenta ser suave ainda "Abaixa isso. Abaixa isso João!" Pela primeira vez ela usa o nome dele, não benzinho ou amor, mas seu nome real. Meu Deus, essa mulher sabe como me manipular, ele pensa "Vamos, você não quer me matar. O que vai adiantar? E depois você vai para a cadeia, já pensou nisso? O que acha que vão fazer com você na cadeia?" "Eu não me importo! Não ligo pra mais nada!" Ele fala gritando, o braço ainda estendido e o revólver apontado para a cabeça dela. "Você vai ser violentado! Vai apanhar! É isso que vai acontecer com você amor, vai pegar trinta anos, vai ser violentado e apanhar por trinta anos!" Ela agora abaixa a voz, mais suave, olha para ele com ternura "e eu não quero isso, ainda sinto algo por você, não arruíne sua vida, você ainda pode tocar para frente. Não faz isso não, amor..."

Essa voz macia, cheia de amor e ternura... é um embuste. Agora ele compreende tudo. Ela o manipula com essa voz, é este tom que destruiu tudo, que o hipnotizou como um cachorrinho. "Não me interessa. Você não vai voltar pro seu amante. Nem que eu tenha de te matar e depois me matar. Você não sai viva daqui hoje, amorzinho!" Ele usa palavras doces também, as palavras que usava para declarar seu amor por ela. Mas para ele dói mais dizer isso, pois sempre foi sincero, sempre teve um amor real por esta mulher.

Ela parece parar para pensar no que fazer. Olha para ele imóvel, com o revolver na mão, ele parece mesmo disposto a atirar, não vai recuar. Então ela acende um cigarro, começa a fumar. Esta mais agitada, a calma passou rapidamente "então atira amor! Atira! É isso que você quer? Atira, mata nós dois. Eu já estou cheia!" ela agora fala alto, quase gritando, entre baforadas de cigarro "atira logo, eu não ligo a mínima, não vou viver junto de você, se você quer morrer por mim, estragar sua vida, tudo bem, vá em frente. Estrague sua vida por minha causa! Por uma mera puta!" Ela grita, agitada. A mão dele começa a tremer "Vai atira, destrua sua vida! Eu não valho nada mesmo, sou só uma qualquer!" ela olha bem fundo nos olhos dele e fala, agora com sinceridade "Você não liga pra mais nada? Eu também não, nunca liguei..." ela fita os olhos dele, aqueles olhos azuis, profundos, deixam ele indeciso, ele já não sabe mais o que fazer, que decisão tomar. Já nem sabe por que está com a arma na mão.

Ela espera ele decidir algo, ela olha para ele com ternura, com pena. Ele está indeciso, o que eu queria mesmo? Não consegue ordenar seus pensamentos, não consegue saber o que quer. Começa a baixar a arma lentamente, começa a se acalmar. Todo seu corpo parece estar em um estado de indecisão, a arma é um objeto estranho, ele nem sabe porque a está segurando.

Então, de repente, ele não sabe ao certo o que acontece. Talvez seja o sorriso dela. Aquele sorriso, aqueles olhos lindos, os cabelos caindo na face, o nariz perfeito, um rosto de anjo, uma mulher belíssima, tinha que admitir, uma mulher que um homem faria de tudo. Seu rosto angelical ainda lhe parecia u aorta para o paraíso. Se houver anjos, ele pensou, devem ser assim, deve doer de tão belos. E os olhos. Aquele azul, como duas pedras preciosas, límpidos, da água mais pura, dos diamantes mais lindos. Aqueles olhos sim, foram eles que lhe enfeitiçaram. Aqueles olhos destroem qualquer homem. "Me dá um cigarro." Ele pediu "mas você nem fuma" "não importa, vou fumar agora. Nada mais importa mesmo" ela estranhou, mas lhe deu o cigarro, acendeu. Ela ficou feliz de ver que ele estava mais calmo, tinha baixado a arma. Há, esses homens, ela pensou, é só falar com a voz certa, a entonação certa. Um belo rosto e você consegue tudo que quer. Tão simples, tão entediante os homens...

Então ela não pensou mais nada. Com um movimento rápido, ele enfia o cigarro no olho dela. Ela grita de dor, grita muito alto. Ele bate nela com o revólver. Caída no chão, ela está com o rosto todo ensangüentado do golpe do revólver, mas ela nem nota o sangue só grita de dor, tapando o olhos. Ele pega o pacote de cigarros dela e acende outro. "o que você vai-i-i fazer, o que está fazendo..." ela geme em meio a soluços de choro e dor. Ele bate nela de novo com o revólver, deixando-a sem ação, então abre seu outro olho e enfia o cigarro, queimando-o. Ela grita, soluça chora. Geme de dor e agonia.

Ele levanta. Agora está calma, a arma ainda na mão. "Agora estes olhos não enfeitiçam mais ninguém. Agora você nunca mais verá outro homem, não verá mais nada. E nem todo o dinheiro que arrancou de mim vai lhe trazer a visão." Ela soluça, cobrindo os dois olhos com as mãos. Soluça e chora, com uma dor insuportável "desgraçado, filha da puta! Vai me mata! Atira! Termina logo!" "Não amor, não vou matar você. A morte é bom demais para você. Pode continuar com seu amante, se ele ainda quiser você cega. Pode aproveitar meu dinheiro. Mas sempre que você tiver vontade enxergar algo, seja o que for, lembre-se, você pagou com seus olhos pelo que quis" ele fita a arma na mão, o brilho prateado do revólver sob a luz parece hipnotizá-lo "você pode dizer que o divórcio lhe custou os olhos da cara! Hahaha!!" Ele ri bem alto, não fala mais nada, ri com vontade da própria piada, ri como a muito não ria, livre de preocupações, de ansiedades. Quando termina de rir, dá um tiro na própria cabeça.


Autor: jose jacques dos antos


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