A Passarela



Autor : Eduardo Silveira


Conto : A Passarela.



Manhã de domingo.
O sol insinua um dia quente.
Olho pela janela gradeada e vejo, ao longe, pessoas apressadas andando pelas ruas, outras nem tanto. É primavera, pois vejo em algumas casas, flores. Não consigo distinguir qual o tipo, mas vejo o colorido, é bonito!
Os carros trafegam pela pista da avenida em alta velocidade. Um grande comércio pelos arredores movimenta muita gente. Uma feira livre revela uma mistura, bem suburbana, de todo tipo de gente e mercadorias.
E pensar que por diversas vezes circulei em meio a todo aquele movimento, e nem me dei conta.
Quantas vezes? ? Tentei imaginar, mas não soube responder.
Olho mais longe e vejo uma passarela.
Pessoas vão e vem por ela.
- Vindo de onde, indo pra onde? ? me pergunto. - Não sei.
Onde será que aquela senhora de vestido azul estará indo?
-E aquele senhor de bermuda e camisa claras?
-E aquelas duas moças? Pelo jeito devem ser amigas, ? penso eu ? conversam tão animadamente.
Tanta gente. Tantos destinos se cruzando. Tantas ilusões. Tantas alegrias. Tantas tristezas. Tantas angústias. Quantos amores? Quantos desamores? Desilusões? Dores.
Isso mesmo. Cada um carregando suas dores, seus desencantos, suas sinas.
Olho mais detidamente, e percebo que as pessoas quase não se olham. Parecem robotizadas.
Caminham, provavelmente, imersas em seus dilemas pessoais. ? Penso.
Imagino, se alguma dessas pessoas de repente, parasse, tirasse um microfone ou uma câmera do bolso e começasse a entrevistar as pessoas.
O que será que elas diriam?
Daqui de onde estou, tento descobrir.
- Bom, a menina de short curto, certamente iria dizer que gostaria de ser atriz, bailarina ou modelo. Já aquele senhor de chapéu tipo caubói, diria que gostaria de ser político. Aquela mulher de calça colante e blusa estampada, certamente, diria que gostaria de ganhar na loteria, ficar milionária e sair viajando pelo mundo inteiro.
Quantos sonhos. Quanta vida esvaindo-se entre seus próprios dedos, como uma areia fina. E elas nem percebem.
E lá vão elas, frenéticas, em direção aos seus desconhecidos e incertos destinos.
Olho a passarela, novamente.
Tento medi-la mentalmente. Trinta metros? Quarenta?
Começo a contar os passos de alguém que está atravessando. Desisto. Me perco.
Olho a passarela.
Me agarro à janela, procurando uma melhor posição.
Olho a passarela.
E pensar que, eu também, já fui uma daquelas pessoas lá. Por diversas vezes atravessei aquela passarela e, assim como elas, também nunca me dei conta do real sentido da palavra... liberdade
Nunca me dei conta de quão preciosa é a liberdade.
O ir e vir.
O livre arbítrio.
E daqui de cima, nesta cela, onde me agarro nas grades da janela, com toda a minha força e esperança, sonho com aquela passarela.
Sonho com o momento em que vou colocar o meu pé no primeiro degrau e vou subir, saboreando cada passo que eu der, aspirando novamente o ar puro e fresco da liberdade.
E quando chegar lá em cima, vou atravessá-la, calma e lentamente, olhando para todas as pessoas que cruzarem comigo.
Vou olhá-las nos olhos, prestando atenção em seus movimentos, vou cumprimentá-las com um sorriso. E não me importo se vão retribuir ou não.
E quando eu chegar do outro lado da passarela, vou respirar lenta, profunda e compassadamente, pois, terei certeza, que o meu sonho de liberdade, estará novamente recomeçando.





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Autor: Eduardo Silveira


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