Um homem humilde, com orgulho!



Edson Silva

Abençoada por Deus esta profissão de me permite traduzir e eternizar em palavras momentos de emoção. Ao ver um senhor de aparência humilde, carregando a pasta de documentos sob o braço esquerdo, com passos tímidos, mas olhar altivo, possivelmente após voltar de um guichê de taxas públicas onde acabara de cumprir uma obrigação de cidadania, não teve como não lembrar de meu pai, que faleceu moço aos 58 anos e se vivo estivesse teria 80.

Não que o personagem que vi parecesse tão fisicamente com meu pai, mas o semblante humilde, o rosto que transparecia honestidade, o ar confiável de quem não quer mais do que lhe é direito e que, talvez, até receba menos que merece. Nascido na Paraíba, papai criou sete filhos, dois deles (José e Severino) nascidos no Nordeste (Paraíba e Pernambuco, terra de minha mãe), ambos mais velhos que eu e infelizmente falecidos.

Eu e meus outros quatro irmãos já nascemos em São Paulo, especificamente na cidade de Campinas para onde papai migrou, nos anos 50, possivelmente após sofrer acidente com bomba de São João, que praticamente lhe ceifou a mão esquerda. Sem terminar a quarta-série do então Primário, nem profissão definida, mas talentoso poeta de cordel (não cantador, mas contador de histórias, que meu irmão mais velho, o saudoso Zé, passava para cadernos com letra impecável) papai veio, viu e venceu no Sul, assim como tantos outros irmãos nordestinos.

A deficiência física não o impediu de entrar na extinta Guarda Noturna de Campinas, onde chegou a sargento respeitado, com direito a enfrentamento à bala e prisões de criminosos, até a aposentadoria. Lembrando que ao chegar em São Paulo sequer sabia o que era telefone, quanto mais como atender um, papai iniciava instruções aos novos guardas perguntando se havia alguém que não sabia utilizar tal aparelho.

Coisa simples, mas de gente preocupada com o semelhante. No Sul, ele fez carreira profissional e aqui nasceram: o Euclides, Eu, o Toninho, o Dema (todos canhotos de mão) e nossa irmã caçula, a Iracema, que como costuma lembrar o Dema, é a única destra entre os irmãos que nasceram em São Paulo, após o acidente com bomba, que praticamente inutilizou a mão esquerda de nosso pai. A coragem e a humildade de meu pai me orgulham e comovem até hoje.

Edson Silva, 49 anos, jornalista da Assessoria da Imprensa da Prefeitura de Sumaré
[email protected]

Autor: Edson Terto Da Silva


Artigos Relacionados


A Canção Do Nordestino Vandré

Insensato Coração

O Companheiro, Geraldo Vandré

"tito" Quis Saber De Meus 8 E 13

O Susto De Lula Na Terra Natal, Pernambuco

O Melhor Texto De Sua Vida

Brasil Nas Copas E As Místicas Do 8 E Do 13