Discutindo e refletindo sobre: PROFISSÃO INTÉRPRETE DE LIBRAS: O INTERLOCUTOR E SUA TRAJETÓRIA.



Por: Vanda Ap. Góes Bratifisch
A profissão intérprete que obteve sua regulamentação na lei 2005/6, está apenas retomando o seu posto deixado na era medieval, quando se era necessário que houvesse um interlocutor nas transações comerciais entre os países interessados. A diferença entre os antigos e atuais intérpretes era que estes eram treinados para traduzirem as conversações de uma língua para outra, mantendo toda estrutura morfológica e semântica da língua oficial. Essas práticas foram se ramificando em diversas áreas, se subdividindo em modalidades e contextos para atender a demanda existente. Entre muitos tipos de interpretação existentes na atualidade podemos citar: tradutor de textos interprete bilateral, guia-interprete (surdo-cego), interpretação sussurrada, interpretação em cadeia, interpretação religiosa, interpretação comunitária, intérprete audiovisual, intérprete jurídico, intérprete educacional, e os tradutores muito utilizados em congressos e convenções internacionais. A tudo isso devemos atribuir os avanços tecnológicos (TICS), a globalização a expansão do mercado de trabalho e da procura de pessoas capacitadas para atenderem a esse mercado de trabalho. O reconhecimento dos direitos humanos e da igualdade social fez com que surgissem crescentes divergências sobre as formas até então dispensadas aos sujeitos com dificuldades educacionais sendo todos exclusos e despriorizados em seu desenvolvimento cognitivo, motor e social. A comunidade surda de frente a nova realidade brasileira que politizava uma reforma radical e renovadora nas instituições educacionais, uma vez sendo o ECA INDEX a igualdade social e categoricamente contra a discriminação surge o PROJETO DE LEI Nº /2004 (Da Sra. MARIA DO ROSÁRIO)
Reconhece a profissão de Intérprete da Língua Brasileira de Sinais - Libras e dá outras providências. Art. 1.º. Fica reconhecido o exercício da profissão de Intérprete da Língua Brasileira de Sinais ? Libras, com competência para realizar a interpretação das duas línguas de maneira simultânea ou consecutiva e proficiência em tradução e interpretação de LIBRAS e Língua Portuguesa, com as seguintes atribuições: I ? efetuar comunicação entre surdos e ouvintes; surdos e surdos; surdos e surdo-cegos; surdos-cegos e ouvintes, através da Língua Brasileira de Sinais para a Língua Oral e vice-versa; II ? interpretar, em Língua Brasileira de Sinais/ Língua Portuguesa, as atividades didático-pedagógicas e culturais, viabilizando o acesso aos conteúdos curriculares, desenvolvidas nas instituições de ensino que ofertam educação fundamental, de ensino médio e ensino superior; Art. 2.º Os Intérpretes de Libras para o exercício de sua profissão deverão estar devidamente habilitados em curso superior ou de pós-graduação, em instituição regularmente reconhecida pelo MEC.
Mas quem é esse novo profissional? Qual seu perfil? Qual é a sua verdadeira identidade?
Segundo Brasel, "the Competence of interpreters for the deaf. In Selected reading in the" (1976 ), os seguintes preceitos éticos:
a) confiabilidade (sigilo profissional);
b) imparcialidade (o intérprete deve ser neutro e não interferir com opiniões próprias);
c) discrição (o intérprete deve estabelecer limites no seu envolvimento durante a atuação)
d) distância profissional (o profissional intérprete e sua vida pessoal são separados);
e) fidelidade (a interpretação deve ser fiel, o intérprete não pode alterar a informação por querer ajudar ou ter opiniões a respeito de algum assunto, o objetivo da interpretação é passar o que realmente foi dito).
Apesar de se ter toda uma postura ética e formal regulamentada pela ABNT (Assistência Brasileira Normas Técnicas) ainda a muitas perguntas sem respostas que estão desequilibrando estudiosos e pesquisadores de diversas áreas por se tratar de um profissional em construção de sua identidade. Quando se fala em intérprete, praticamente direciona-se a fala ao interprete educacional proficiente e com competências lingüísticas em LIBRAS. Por ser esse o ponto de partida para todas as outras ramificações existentes nessa área. Quadros, (1997). Salienta a importância da busca e da garantia de se ter como segunda língua (L2) LIBRAS, pois, a língua de sinais e uma língua natural da comunidade surda, adquirida espontaneamente em contato com pessoas que usam essa língua. Temas pertinentes a essa nova metodologia intensifica a consistência de mecanismos informativos tanto para a formação inicial quanto a formação continuada, para que o professor tenha condições efetivas de desempenhar suas funções e que, essas precisam ser alicerçadas numa pratica investigativa em que o professor se torna pesquisador de sua própria ação.
A formação do professor se constitui numa das prioridades a ser assumida por um coletivo, criando condições reais para que o professor possa estar em constante processo de atualização. Nóvoa (1999); Abraham (2000); Archangelo, (2004). Skiliar, Carlos, 1945. Aponta esse novo educador com um perfil lingüístico bilíngüe, que deverá possuir habilidades e competências para aquisição da língua natural da comunidade surda, que esse profissional seja flexível quanto a estrutura lingüística e conceitual para atender a pragmática educacional, observando estruturas e reflexões estabelecida por: Língua de sinais , leitura e escrita fala (opcional),tendo domínio na L.F. (língua fonte) e L.A. (língua alvo). Sendo esse o direito das crianças surdas e uma Língua oficial pára serem educada nela. Mas e quanto o papel do intérprete? Qual sua postura frente à sala de aula?
O ato de interpretar envolve muito mais que o cognitivo lingüístico diante de possíveis intenções comunicativas especificas. O intérprete precisa estar completamente envolvido com estratégias, influenciando o objeto e o produto da interpretação fazendo escolhas quando necessário utilizando: Língua Fonte - Conhecimentos Técnicos - Escolhas apropriadas para interpretar. Segundo Roberts (1982), esse profissional deverá possuir pelo menos 6 (seis) habilidades específicas para desempenhar seu papel:
I. Competência lingüística, habilidade de entender o objetivo e expressar com influência..
II. Conhecer ambas as línguas ás transferindo sem distorcer a idéia em contexto, opinar e dar forma apropriada com competências metodológicas diante das circunstâncias.
III. Competências na área e conhecer o conteúdo na área.
IV. Competências biocultural, ou seja, competência bilíngüe, técnicas, postura, ênfase nos significados e não nas palavras.
V. Conhecimento do contexto e da cultura surda
VI. Ser inserido na comunidade surda.
O Eufemismo em que era tratado o aluno surdo considerado "aluno especial", deu lugar a dicotomia de se existir 2 (dois) grupos: Os normais e os especiais e a condição de existir 2 (dois) profissionais na área da educação, o professor da sala regular e o professor especializado. Bueno, 1999, relata que á 2 (dois) tipos de formação docente, a aprendizagem de conhecimentos diversificados e o professor especialista que atua em diferentes áreas especiais, e que esses profissionais devem trabalhar como apoio e ter atendimento direto com o aluno. Sendo que a educação inclusiva é um processo contínuo pela escola regular, devendo esta ser adaptada a sua clientela e a cultura de sua comunidade, sendo esta participativa, e que o aluno com prioridades diferentes do regular possa usufruir plenamente do processo escolar . Aiskol (2004), aponta que para se ter uma inclusão de sucesso a escola precisa-se possuir três elementos básicos para garantir sociabilidade de seus alunos.
? Participação de sua comunidade.
? Oferecer condições necessárias.
? Acessibilidade pedagógica e comunicação.
Os PCNS em 1998, já consideravam inevitável um sistema renovável e modernizado. Os Projetos Políticos Pedagógicos, currículos, estratégias, ensino e ações já previam e procuravam adequar e atender os alunos. A inclusão para tanto é fundamental para respeito e igualdade de oportunidade fazendo uma ruptura da exclusão para o movimento da inclusão social, garantindo o acesso continuo, respeitando as diversidades e o desenvolvimento do aluno incluso, sendo todas partes de um sistema regular, mas, com modos diferentes. Hoje ao entrar em uma sala de aula a primeira observação deve ser qual é o tipo da minha clientela? A minha segunda observação, qual a necessidade e qual a pré-disposição que eu tenho para realizar o meu trabalho, e a terceira é a inevitável "como vou realizar de forma consistente, concreta e que faça a diferença, em minha prática pedagógica". Pensando dessa forma poderia responder que literalmente a profissão interprete e sua trajetória se resume em poucas palavras " aprender a aprender a recomeçar sempre que for necessário.


Autor: Vanda Goes


Artigos Relacionados


LegitimaÇÃo Do Interprete Em Libras Enquanto Profissional E A EfetivaÇÃo Enquanto Cargo Institucionalizado

Ensino Bilingue: Língua Portuguesa Para Surdos

Educação Oralista Para Surdos

EducaÇÃo Inclusiva: O Legal E O Real

O Intérprete Educacional De Libras: Desafios E Perspectivas

Inclusão De Alunos Surdos

O Bilinguismo Como Nova Perspectiva Educacional